Quem sou eu

Minha foto
Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sábado, 30 de novembro de 2013

Você não me ensinou a te esquecer



Silenciosamente se foi, no sopro covarde e sorrateiro do prelúdio
Discreto e calmo como sempre, foi se avisar, sem incomodar, simplesmente foi
A vida não lhe privilegiou com tanta sorte quanto merecia
Não me disse a Deus, não me beijou a face como de costume, como desde a primeira vez que me viu
Não me alertou que seria assim, tanta vida nos teus olhos, tantos sonhos a serem conquistados, tanto amor na nossa reciprocidade
E mesmo assim você se foi
Deixou um móvel antigo que me decora a sala, uma pilha de trabalho inacabado e uma saudade que não terá fim
Foi meu companheiro, dos confidentes um dos primeiros, meu mestre na arte da marcenaria, eletricidade, mecânica, culinária e gastronomia
Pacientemente, à revelia da maioria, rompeu ao meu lado tantas barreiras
Em um fusca amarelado pelo tempo, ano 1983, surrupiado da garagem, enquanto ninguém mais via, me ensinou a dirigir
Lembro das vezes quando criança lhe falava do mal que o cigarro fazia e do medo que tinha de antes do tempo ter que te ver partir
E foi bem assim que agente foi vivendo, com admiração, respeito e cumplicidade, sem falar no  gigantesco amor declarado a todo momento
Mesmo diante de tantas dificuldades, criou seus filhos com amor, formou família, foi resistente de forma sob-humana, mesmo diante de tanta dor
Não tem mais aquele sorriso largo, não tem mais um apetite danado, aqueles braços fortes e pernas compridas, não tem mais 
A comida vai sobrar no almoço de domingo, menos um prato na mesa, menos bolo ou sorvete de sobremesa
Não tem mais as longas conversas na cozinha ou no quintal, a lapada de Rainha com buchada de bode e farinha
Menos cabeça para boné, mais peito dolorido
Aposentei o queijo com inhame, pelo menos por enquanto, durante esse instante de suspensão 
O que temos para hoje é uma dor danada, difícil de ser suportada, mas que lentamente tem sido devorada pela obrigação diária de sustentarmos uns aos outros
E até nessa hora você se faz presente, quando as conversas terminam com as recordações engraçadas do tempo em que agente era agente
Hoje somos menos, entretanto não somos menores, porque crescemos juntos com essa dor, renovamos a nossa Fé no Cristo Salvador e na certeza de nos reencontrar
E quando estivermos novamente no mesmo plano não quero fazer tantos planos, quero mesmo é executar
Descontar os abraços guardados, as palavras entaladas
Hoje os planos são outros, aonde o nosso é apenas sobreviver e o seu é onde Deus planejou
Vou rezar para que esses dias passem logo, que a tristeza e agonia vá embora, porque o amor e a saudade jamais irá passar
Tô juntando os cacos desse coração meia boca que dias atrás insistiu em me testar
É hora de reconstruir, arregaçar as mangas e nos ajudar
Fazer valer a tua heroica histórica e a tua vontade de viver impressionante, e perceber que nenhum de nós tem motivos para reclamar
Obrigada pelos ensinamentos, pelo amor incondicional, pelas risadas e por todos os nossos momentos, obrigada por me amar!
Lembre-se: “- Eu te amo desde a primeira vez que te vi”
Porque eu sempre irei lembrar de você, meu Tio Tarcisio

Roberta Moura



“...E agora, que faço eu da vida sem você, você não me ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer e te querendo eu vou tentando te encontrar... – Caetano Veloso”