Sopra a
sopa antes que tenha que acudir o céu da boca
Sacos nem
barrigas se enchem com melancolia
A barra
pesa e o ferro é quente
O moinho
não faz girar a água
Nem o verão
é feito só de andorinhas
O inferno
não cometeu pecados
Saudades
não são só lenços e partida
A raiva não
lava os pratos sujos na pia
Desminta quem te disse que você não pode
Você pode e deve
Desperte, não durma no ponto
Não tenha um ponto final
Transgrida, tente, atreva-se
A morte é
feita de vida e tempo
O tempo é
precioso
Não corra
atrás do passado
O tempo e a
vida não voltam
O passado
não aguenta sua cômoda companhia, não se sustenta
O passado
tenta arduamente transgredir sua própria natureza
Desse jeito
não adianta se quebrar à toa
Nem sofre
de graça, nem pela graça
Tem que trincar
os dentes o suficiente para a mosca não entrar
Exercite o
não e o sim com a mesma simetria
Diga não
Viva o sim
Cultive a
semente com o mesmo prazer de quem colhe
Muito
cuidado, muito cuidado, todo cuidado é pouco
Não tema
uma avaliação futura de quem você nem sabe se existe
Avalie-se à
todo tempo
Pense o
suficiente para não deixar a sopa esfriar demais
Roberta
Moura