Abro os olhos e vejo o mesmo, como se o tempo não realizasse
o milagre da vida
Vejo você e percebo que ao meu redor pouca coisa mudou
O seu sorriso, o meu apresso, uma vida não seria bastante
para tudo isso
Como se tudo tivesse ficado no mesmo lugar
Como o telefone que toca sozinho
As manias, as falésias, as batidas das ondas do mar não
furassem as pedras
Percebo no desenho da tua mão que quase nada mudou
Pisamos no amor e partimos ele em dois, e no espaço desse
vazio sobraram tantos outros “ais”, tantos outros “quais” que submergimos
Ninguém mais sorriu daquele jeito debochado como nós
Guardamos letras, canções, gargalhadas e lágrimas, isso tudo
que ofertamos ao mundo de conta gotas
Meu copo sempre
esteve metade cheio que nem cheguei a perceber o quanto o seu sempre gotejou
para os lados
O trem das nossas vidas parece andar mas na verdade está
parado na mesma estação aguardando um aceno, um adeus
A janela lateral, que dá bem para a frente do fundo dos teus
olhos, me lembra que eu não posso chorar
Fatídica posição dessa janela
Paro, respiro e me pergunto...
Quantas perguntas tortas e respostas vazias irão nos
explicar (?)
Você não passa
Você sempre volta
Você nunca foi
Roberta Moura