Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Rimas pobres de um cordel que invoca o Direito, o Anonimato e o Cidadão



Entre palavras e frases de esculacho todos os covardes se abrigam. No covil da prostituição fantasiada de política, em um suposto e derrocado fundamento de melhoria que abriga o verdadeiro cerne, que é a troca de favor.   Paga o pato o serviente das vontades alheias, paga o povo que tende a ser governado pelo profanador de medíocre estima.
Disse o filosofo Platão certa vez que “O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”(...). A frase é mais do que antiga, no entanto soa mais do que atual.
Alocam-se nas costas e lombos dos pobres, que se humilham por uma promessa falida de emprego, por um bico, uma dose de cachaça, pelo alimento da sua pobreza, pela jacente falta do que fazer, pela infeliz perspectiva de dependência, da inocência estuprada pela sua falsa política, pelo coronel de outrora e o que ele tem a oferecer.
O anonimato que se julga postulatório não deve prosperar, se engana ao pronunciar a liberdade de expressão, erroneamente convocando o próprio artigo que defende o primeiro, que lhe tira o gatilho e a arma da mão. 
Trata-se do artigo 5º da Constituição, que versa sobre a temática da citada liberdade de expressão, ungida por essa dessa Carta Magna, que humildemente, essa eterna aprendiz de Jurista invoca com precisão, diz que: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.
Isso quer dizer que temos todas essas garantias, inclusive o disposto no inciso acima relatado, que é livre qualquer manifesto que se queria fazer, assim como expor sua opinião, seus pensamentos, entretanto não há possibilidade de receptividade do que o anônimo tenta oferecer. Quando se diz "é vedado o anonimato" se dispõe que é proibido se encobrir no anonimato.
O anonimato alimenta o ânimo da temerária censura, é uma verdadeira metralhadora de impropérios, maculada desde o seu nascimento. Que, descredibilizada, vai se exaurindo, solitária, quando nem mesmo seu gerador nela tem fé, alimentando as vias da indignação.
Aqueles que ainda temam em utilizar o efeito Jurídico do esquivo, rogo votos de persuasão, seja mais feliz da próxima vez que tentar o pleito, intimando uma lei que pelo menos exista, ou que seja fonte da sua verdadeira expiração.
Como diria Flóscolo da Nóbrega, o “Direito é filho da luta e só pode manter-se pela luta”. Os que não têm disposição para lutar por seus direitos não são dignos de merecê-los. Há mais dignidade num animal que luta por sua liberdade, que no homem que se abandona sem protesto a uma injustiça.
Façamos um trato, joguemos do mesmo lado, lutemos pela Justiça sem restringir o status, talvez possamos aprender com o outro a enxergar do outro lado, atravessar a ponte da ignorância e aprender com os erros do passado.
Façamos da nossa luta o nosso brasão, da nossa terra seremos um retalho, cada um vestindo a camisa de cidadão poderemos vencer e gozar os louros do nosso próprio trabalho, merecer ser chamado de filho da terra e dela colher o nossa sustentação.
Se você não entende ou não vê, se não vê e não entende, dê meia volta ou pare do lado, porque o pior ignorante é aquele que não quer aprender com o seu próprio desacerto, que prefere defender o inútil e rechaçar o óbvio. 
Se acredita na tua causa, tenha ao menos coragem de expo-la, porque o descrédito da acusação por si só torna a sua expressão tola, porque nem mesmo o seu pensador tem ânimo de defender. Se você não acode o seu ideal não traz consigo o merecimento da atenção alheia, e o que mais suas colocações possam oferecer, não merece ouvidos para escutar, quiçá no mérito vencer.
E para terminar esse pequeno palavreado, que conta com autora de nome e sobrenome, as palavras do maior Jurista que já existiu, que com simples brocados arrastava e arrasta multidões, que prefere desconhecer a burrice convocando nossa responsabilidade de interpretar, Jesus Cristo: “- Quem quiser entender que entenda!” A resposta quem dará é você mesmo, porque a semente está sendo plantada. É a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus não voltará vazia.
Aos homens de boa vontade, a paz do Senhor.

Roberta Moura



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Normal




Sinto-me ao seu lado do lado de fora de mim
A todo tempo me sinto assim, o tempo todo
Os sentimentos mais profundos não podem ser iguais, é normal que o maior se ressalte, é normal
O amor que se foi só não é maior do que aquele que está para chegar
Isso não significa nada, além do tudo, além do mais, do já exposto
Tudo haver com o destino que se esconde nas coincidências
Somos todos normais, o amor é o que nos torna dementes, inconvenientes, carentes, indolentes, jamais inocentes
A certeza no peito do bandido é o que me dá forças para vence-lo
Pego-o no contrapé, no golpe do amém
Quanto a você meu bem, não se exponha tanto assim, não é necessário
Você já tem algo somente seu, que é revelado em mim
Eu sou outro você, e nada mais posso fazer, além de gostar cada vez mais de mim
Maior abandonado, contando causos do passado, planejando um futuro pueril
Febre de alucinação passo com paracetamol, tem remédio melhor?
Vivo de verdades que se eu contasse a tantos outros “alguéns” não haveria nós
Tinjo um cavalo de azul, essa é a cor do amor, a que me agrada, a que escolhi
Tenho trabalho em pinta-lo, te dou de presente, e você, toda prosa, insiste em desfilar pela cidade
Que infelicidade na escolha, não deveria expô-lo tanto assim
A tinta pode manchar o calçamento daquelas ruas podem, não gostar as pessoas do lugar
Minha mãe me ensinou a conservar com zelo tudo aquilo que me dão com carinho, guardar no lugar mais seguro, em mim
Esse turbilhão de emoção não me ganha, não me engana, quero a unha que arranha o jarro, não a que arranha a aranha
O avesso é o retrocesso do que estava preste a ser tornar real
É o namoro na chuva que não faz gripar, é o sarro que não arranha o carro, é o fim fixado no mesmo lugar
É o sentido já dormente que foi despertado em plena sutura, no estágio final
Façamos as malas então, voltemos mais uma vez para casa
Para a caverna que guarda os ursos na hibernação, onde a abelha transforma o pólen em mel, onde labuto incansavelmente a imaginação
Amanhã será um lindo dia, da mais nova alegria
Tenho a certeza de que tudo vai continuar no seu devido lugar, e a nossa luta, essa, não vai acabar

Roberta Moura


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ao Amor que nunca vai




Indubitavelmente reversas palavras, reservadas
Sofridas, faladas
Codinome unificado, reconhecido por todos nessas terras
Não vou falar, não vou usar, todos tentarão me entender, poucos conseguirão singularizar
Véspera do jamais, sim para tudo mais
Todo tempo é agora, o nunca é tarde demais
Quanto tempo se demora esperando o jamais, para se decidir, renascer das cinzas ou submergir
Parece-me que não olha para o que fiz, que não escuta, já não o procuro como deveria, como preciso, como gostaria
O que faço com o tempo que corre pela janela do meu quarto, que faz brotar rachaduras no meu rosto (?)
Com essa agonia?
Quanto custa a vida eterna que se perde em poucos atos, tropeços adolescidos pela carcaça humana, pelos erros do passado
Só eu passo, só eu fico, enquanto andas na velocidade do improvável, dos fatos
Quem sou eu sem você?
Inevitável o meu querer, tanto quero, tanto peço, e pouco tenho a merecer
Faz de mim o teu bem quer
E eu, com esse apetecer que não preciso, pretensioso, temo não te reconhecer
Incondicional amor, sem igual
Terno, eterno, singelo e previsível amor
Reflexo de tudo que me consome, da minha inútil e existente dor
O que devo fazer com as peças que sobram no meu falido quebra-cabeça existencial?
Me diga o que fazer, me ajude, me ensine a chegar até você
Fatídico perecer, sou eu assim, com todo esse amor para dar e ignorar o que você tem para me oferecer
Sim, por vezes desconheço, quase não lembro, depois desabo nesse silêncio que me esgota, como açúcar na língua some, sumo sem o teu olhar, sem ter você
Tento por vezes me convencer que não posso te deixar, que tenho que esperar, mas tenho sempre algo melhor para fazer, o imediato já está a me acontecer
Protelo esse amor, faço o trivial, deixando o que é sublime para o logo após
Como quem engole o almoço sem mastigar, esperando a sobremesa
Ignoto a demora para o apresto da iguaria, desmerecendo o meu paladar e o afazer do mestre-cuca, sua obra, seu preparar 
Perdoe-me pelo protesto, as vezes não consigo lidar com tanta necessidade, é tão grande o meu manifesto que já não cabe em mim, que fujo dessa simples verdade
Sempre dando passos maiores que as pernas tento pular algumas fases sem olhar para o que possa vir a atrapalhar
E você está lá, sempre pronto, e eu, quebrada, vou ao teu encontro, volto para o teu colo feito um cão sem dono, tentando me desconectar
Coitada de mim, incógnito é o meu pesar, confiando que posso deixa-lo para de lado, ser a metade e decidir sozinha, não voltar 
Encontro-me em meio a essas ciladas da vida, te procurando, carecida, envergonhada pelo abdico, achando ser meu próprio dono, meu único titular
Mas nada sou sem ter você, tenho ciência disso e nada mais posso fazer
Siga comigo, não me deixe cair
Isso não é uma queda de braços, não posso nada sem de você
Escondo palavras em meio a atos que mais parecem covardia, mas eu não sei “des-amar”, nem viver pela metade, quero o teu bem de corpo e alma inteiro, ser fiel a essa saciedade 
Entenda-me, e a minha culpa, estou tentado progredir, achar o caminho que nos ache, sem me iludir, que tire o medo, que me leve daqui
Seja o meu asilo, o meu rito ordinário, o que me faz prosseguir
Sede meu consolo, minha solução, meu ideal, confia em mim o teu querer e me faça evoluir para o real
Sou tua como sempre fui, unicamente tua, embora os agrades venham me distrair
Não me deixe sem essa parceria necessária, com quem conto na madrugada, para quem divulgo minhas mais problemáticas lágrimas
Meu bem maior, meu tudo, meu existir  
Vinde ao meu auxílio, com o peito aberto e cicatrizado, sede meu silêncio funcional, minha única paixão, minha vida e essência, meu esvair
Meu ontem, meu hoje e minha eterna vocação
Cala a minha boca com certezas, que eu seja para você uma alegre surpresa, para sempre sua escudeira
Completamente arrebatada por essa certeza, que você seja a minha única e indolor paixão  
Quando tudo passa, os sonhos revelam ainda mais forte essa sede que já não escondo de mim, estou cansada, sentida, mas de volta aos teus braços, renovada em mim


Roberta Moura




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O tempo e a mansidão desconcertada




Pose para mim, desfile para minha mansidão
Enquanto todos pensam em te querer, é no meu semblante que vive a sua solidão
O silêncio do seu quarto e a foto que falta no porta retrato
O criado surdo que escuta as queixas mais doces, despreparados e desesperados pensamentos
Quanto tempo isso tudo vai durar?
Quantas pessoas mudarão seus status em prol da sua causa?
Quantas comparações ainda se farão valer?
Veja bem, essa porta nunca esteve tão entre aberta, basta um sopro mais forte para que tudo venha a baixo, ou para que tudo entre a sua vontade
Para que caiam as mascaras, basta comparar os retratos
Tomo uma xícara de café em minhas mãos, dou um gole, lacrimejam meus olhos, sinto o toque amargo sentar nas minhas papilas, penso no seu gosto, lembro você
Ligo o carro, ponho aquela música boa que me muda o dia, abro os vidro para sentir o vento, assanha meus cabelos, rebelde penteado, meu estilo, meu espaço, penso em você
Curvo minha coluna em um tatame duro, estico as canelas, respiro fundo, escuto o bater do meu coração, chamando seu nome, cadenciado no ritmo do meu miocárdio, espero mais um pouco, fecho os olhos, sinto você
Acordo sem remédio, com o que viví nesse tempo incerto de prelúdio, olho para meu reflexo, brinco com o fleche de luz que entra pela janela, noto uma coisa grande, sinto essa saudade, vejo você
São essas coisas que me fazem imaginar, comer, correr, verbalizar
Trato de mãos cerradas, ao encontro do nada, negócio unido ao abismo do tempo, da inexatidão, da distancia necessária e da saciedade temporal, de felicidade sem igual, sem lamentos
Vinte e nove anos depois, ainda sou a mesma
Sempre precisada de lápis e papel, gravando minhas letras desde o nascer do dia ao por do sol ao léu  
Ainda a mesma história infindável, levada por qualquer coisa que não seja o acaso, movida pelo amor
Animada, alimentada pela obviedade dos meus passos
Prefiro ter cabelos enrolados ao invés das ideias
Colendo pesar a falta que faz, estranho no ninho sem afeto, levando no bolso um triste nunca mais
Que dure pouco a demora, que chegue logo a hora de voltar
Tempo, tempo, tempo, de barbas longas e esbranquiçadas
Tempo senhor da demora, passo a sua estada engendrando risadas
Pensas que me demora, mas vale a espera do amor de outrora, que é vivo e o sentido do hoje, causa a pena da tua chaga, marcha claudicante
Corta a rabisca do meu ego flor de jiló, sova minha garganta o teu veneno, suplício de silêncio pelo qual pago a dívida só
Vivo, e como vivo, o amor que me incumbe os sentidos
Como, como quem não deve nada, como quem nada tem a pagar
Tenho em mim a chama desse amor modesto, desse inquieto sentir, desse eterno e alentado fraquejar de sempre, e planejadamente tento não me enganar
Observo o balé que começa já contando os segundos para acabar, deixo a dançarina rodopiar em seu próprio eixo, pontiaguda uma encravada, cuja dona  não conhece a dor, mas carrega um inflamado adeus a qual insiste alimentar
Enquanto tudo passa jogo milho aos pombos, literalmente nutro a esperança, que desde criança persiste me acompanhar
Tola nunca fui, mas sempre de tocaia, esperando o cavalo selado, pronta e treinada para dar o bote certeiro, aprendida em tais ofício, solteira desde menina, aguardando minha hora de montar


Roberta Moura    


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Oração pela orbe real





Pegue na minha cintura, me tome como o seu amparo
Tenha minha sombra como o seu guia, faça as pazes comigo
Minha lápide, meu suor e meus desejos, meros partícipes do acaso que é nossa história
Tudo ratificado e assinado com um beijo
Venha comigo onde for, para a escola, ao jardim do Éden, para o nosso planeta que se chama amor
Tomara que chova hoje a noite, que o tempo e seja nosso cúmplice para o conclave
Que minha solidão não tome os seus dias, que o nosso sentido esteja sempre mais a vontade, cheia de alegria
No bailar das coisas triste, derrubei o meu ego burro e inconveniente
Tantas vezes cuspi no prato que comi e amolei os meus dentes
E tudo mais ficou para trás, toda a dor, todo o nunca e os diversos jamais
Sou o fruto do agora com o essa hora, provo o gosto da boca da aurora
Será ela boreal? Terá ela outra igual?
Faça as malas para um mundo melhor, onde possamos viver em paz, onde alguém futuramente me chamará de vovó
Deixemos para envelhecer depois, vivamos a nossa juventude atroz, consumindo nossos dias e segundo únicos sem olhar para trás
Vem comigo, toma minhas palavras para te proteger, confia mas no que sinto do que no que idealizas para você, ensinar-te-ei a viver
O mundo é muito simples e as bobagens não me atingem
Pegue minhas mãos e me encaminhe até você, de lá para cá, de cá para lá, me mostre você
Vista-se com meu sentimento, saia, arrase na passarela do absurdo, amostre-se com a sua beleza
Que a vaidade que brota do meu amor seja o teu abrigo
Consuma o orbe real como quem destrincha um galeto, desejando o seu tempero secreto, devorando-lhe das vísceras ao peito
Seja completo desde o começo
Que somente minha poesia viva no plano das idéias, que a mansidão incorpore os teus atos, que seja de corpo inteiro, abolindo toda miséria
Faz de conta quando não der, faz o possível para que dê sempre
Conte comigo como seu mentor, seja meu mais delicioso sabor... de quer bem, de querer e fazer bem
Já não sou eu, já não ligo mais para isso, há tempos sou “nós”  
Sou eu, a anarquista que bagunça o seu jardim
Sou eu, a Mantiqueira que abraça o seu relevo
O seu desenho sou eu quem pinta, o seu paladar sou eu quem alimenta
Siga os meus passos e você vai se encontrar, a trilha é a mesma, verás a felicidade por lá
Livre-se do tédio, do por enquanto, do logo mais e corra ao meu encontro
Seremos rasgo um contínuo no cotidiano, o que todos querem ter, algo não muito diferente do que somos agora, seremos o time vencedor, sublime
Cujos jogadores serão os de sempre, eu e você


Roberta Moura


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Qualquer coisa, quero artistas no meu cotidiano






Quero qualquer coisa que me salve
Qualquer coisa que me mude, que me bata, que me mate
Onde foram todos eles?
Qualquer coisa que me chame, que me beije, que me lixe
Qualquer coisa que me convença de querer algo que não seja apenas qualquer coisa
Onde encontro outro desse? Onde carrego as pilhas?
Qualquer coisa que me desligue, que me abrigue, que me escravize
Qualquer coisa que me dê o prumo, como rumo, que me utilize
Me chame no canto e me alise, amanse meu fervor, me rabisque
Qualquer coisa eu já fui, volto logo ou nunca mais
Qualquer coisa eu peço pinico, cubro o rosto, me jogo no primeiro abismo, até que possa me encontrar em qualquer coisa
Te chamo na xinxa, te agarro os cornos, te reescrevo
Qualquer coisa me veja alguma coisa forte, que me embebede, que me suporte
Qualquer coisa me dê um comprimido, que me diminua a dor, me tranque em um asilo
Me fantasie melhor, me devore o pensamento como a um bombom, me submeta aos seus mais esquisitos devaneios
Qualquer coisa é sempre alguma coisa, que pede outra coisa, que prefere não nomea-la
Qualquer coisa sempre tem um querer obscuro que aponta o desejo de conquista-la
Deposite em mim seus anseios, serei muito mais do que você possa desejar, mais que coisa alguma, uma coisa toda, pronta para te enfeitar
Qualquer coisa como o sim, como o não ou o talvez, mas que você poderá manipular
Qualquer coisa entre o ontem e o amanhã, de modo que possa aproveitar
Seremos dois, e não mais uma solidão, um conjunto de qualquer coisa no meio dessa imensidão de coisa alguma, do nada que já temos para gastar
Qualquer coisa me escreva uma carta e nela me descreva a coisa que você pretende encontrar
Qualquer coisa apareço um dia desses, para por o papo em dia, para ensina-lhe um pouco de geografia ou a cozinhar
Me de uma panela cheia dos seus mais doces anseios, façamos um cozido com tudo dentro, com meu humor, amor e segredos, tudo que possa nos alimentar
Qualquer coisa agente se encontra, para brincar de casinha ou de pique-esconde
Qualquer coisa é melhor que perder os sonos, na esperança de te ver chegar
Quero artistas no meu cotidiano, que me lembrem que tudo isso é parte do espetáculo que é viver, que é o jogo real da vida humana, o qual só interessa vencer 


Roberta Moura


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tome, por gentileza



Tome minhas mãos ao redor da sua cintura
Aceite um chá de bússola que possa te levar definitivamente até mim, para que possa me encontrar
Me tome em seus braços, não me largue, me segure, me sustente
Faça de mim o bandido da sua estória predileta, quem você nunca esquecerá
Complete o meu dicionário de verbetes inanimados, sempre a sua espera
Tenha bom humor, olhe sempre pela janela, veja o que o mundo tem para nos ofertar
Cubra-me de vida e aspiração
Não, não seja o mesmo sempre, não mate, não engane, não pense de mais
Cuspa no prato que comeu sabendo que voltará a utiliza-lo
Somos o efeito que gera o rodopiar da terra, rodopio após rodopio, no balé do tempo, no ensaio do sono que leva consigo a única vida que tenho para viver
O tempo só passa de ida, nunca volta, nunca finda
Faz sombra sobre o meu quintal, folia sobre o meu jardim
Aurora do meu inebriar, cheio doce de jasmim
Assuma as letras que te compõe, tome folhas que te cubra as vergonhas
Sexo com prazer, meu nome é você
Fala baixo e diz que já acabou o medo
Me leve contigo, me faz de abrigo, não me deixe envelhecer
Quero a minha mocidade com cores, música e vontades
Tudo tão bem arquitetado, conturbado, ajeitado, meio de banda, para esses eternos apaixonados que somos eu e você
Bebo da sua saliva no arremate de uma taça de vinho
Maldita saliva, maldito cale-se!
Quando em noite enluarada a lenha queima na fogueira me faz querer palavrear
Mas, cale-se novamente, bebo novamente, consumo como sempre o seu respirar
Deixe-me partir para a terra dos sonhos ou segure meu braço e venha junto
Lá tudo podemos, onde tudo se encaixa perfeitamente
Onde não parecemos dementes, lutando contra esse sistema que nos inibe
Volte para mim, para o lado de cá, que é o seu lugar
Não me deixe morrer de saudades nesses minutos que nos separa, que para mim mais parece uma eternidade
Somos a alma que segura o corpo, somos a costela que compõe uma só coluna, somos esse altruísmo contagiante que não se entrega
Somos a hora, o tempo, a verdade que nos espera
Coitados de todos eles, que insistem na espera do que nunca vai chegar
Somos o presente contínuo verbalizado, sempre esperando mais de nós mesmos
Contando aos passos para engrossar o couro, entornar o copo e forrar o touro, findo para montar no lombo em busca de novos tesouros, sempre atentos ao que possa nos alcançar
Derrubemos essa barreira com delicadeza, para que ela caia pela sua própria natureza, com o peso que carrega, trazido por tantas incertezas
Expliquemo-nos para não complicar!
Estado civil moderado, descascando o abacaxi diário, lavando os pratos, sempre esperando mais alguém para jantar
Somos essa corte imensa cujo o bobo é sempre o mesmo, o derrotado pelo tempo e pela veridicidade, que insiste em atazanar
Pobre colóquio inveterado, não percebe, não vê a página que virou sobre suas costas, o passado e nada mais poderá riscar
Costume de casa se leva a rua, a mesa, a cama, a cana e ao fogão
Entalo-me de feijão e farinha para não falar muito, para pouco errar
Custo acreditar que ainda tentam me pregar sustos, profanos, bobos, não entendem que nada temo depois do meu exaustivo cotidiano, e meia dúzia de leões pagãos que diariamente preciso terminar de matar 
Dama do meu cotidiano, Maria arrependida pelos pecados, dei-me seu colo para descansar
Precisamos urgentemente de ajuda mutua, qualquer crendice popular que nos acuda, que afaste o mal olhado, que nos coloque lado a lado nessa guerra, que nos expulse da favela dos pesadelos, que arrume a nossa cama para podermos descansar
És para onde corro no desmantelo, minha casa, meu sol, meu estremo oriente, sempre pronto para me acalentar
Todo mal cai por terra quando agente se ajunta, quando falamos de procissão, de ajudar um molho, brincar com a nossa ruma, é quando tudo volta para o seu devido lugar
Cuide da minha cabeça cansada, dos meus pés inchados de caminhar
Tomarei conta do seu peito latejante, da sua alma que mais parece uma bala traçante, procurando uma vítima ou um amante, mas que bem lá no centro me leva numa fotografia ou num monóculo, como a certeza palpitante que nunca vai te abandonar
Hoje chegue em casa cedo, me sirva com o prazer diuturno para que possamos dormir logo, na esperança de que o próximo dia seja bem melhor que esses, e que tudo vai se acertar


Roberta Moura