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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O tempo e a mansidão desconcertada




Pose para mim, desfile para minha mansidão
Enquanto todos pensam em te querer, é no meu semblante que vive a sua solidão
O silêncio do seu quarto e a foto que falta no porta retrato
O criado surdo que escuta as queixas mais doces, despreparados e desesperados pensamentos
Quanto tempo isso tudo vai durar?
Quantas pessoas mudarão seus status em prol da sua causa?
Quantas comparações ainda se farão valer?
Veja bem, essa porta nunca esteve tão entre aberta, basta um sopro mais forte para que tudo venha a baixo, ou para que tudo entre a sua vontade
Para que caiam as mascaras, basta comparar os retratos
Tomo uma xícara de café em minhas mãos, dou um gole, lacrimejam meus olhos, sinto o toque amargo sentar nas minhas papilas, penso no seu gosto, lembro você
Ligo o carro, ponho aquela música boa que me muda o dia, abro os vidro para sentir o vento, assanha meus cabelos, rebelde penteado, meu estilo, meu espaço, penso em você
Curvo minha coluna em um tatame duro, estico as canelas, respiro fundo, escuto o bater do meu coração, chamando seu nome, cadenciado no ritmo do meu miocárdio, espero mais um pouco, fecho os olhos, sinto você
Acordo sem remédio, com o que viví nesse tempo incerto de prelúdio, olho para meu reflexo, brinco com o fleche de luz que entra pela janela, noto uma coisa grande, sinto essa saudade, vejo você
São essas coisas que me fazem imaginar, comer, correr, verbalizar
Trato de mãos cerradas, ao encontro do nada, negócio unido ao abismo do tempo, da inexatidão, da distancia necessária e da saciedade temporal, de felicidade sem igual, sem lamentos
Vinte e nove anos depois, ainda sou a mesma
Sempre precisada de lápis e papel, gravando minhas letras desde o nascer do dia ao por do sol ao léu  
Ainda a mesma história infindável, levada por qualquer coisa que não seja o acaso, movida pelo amor
Animada, alimentada pela obviedade dos meus passos
Prefiro ter cabelos enrolados ao invés das ideias
Colendo pesar a falta que faz, estranho no ninho sem afeto, levando no bolso um triste nunca mais
Que dure pouco a demora, que chegue logo a hora de voltar
Tempo, tempo, tempo, de barbas longas e esbranquiçadas
Tempo senhor da demora, passo a sua estada engendrando risadas
Pensas que me demora, mas vale a espera do amor de outrora, que é vivo e o sentido do hoje, causa a pena da tua chaga, marcha claudicante
Corta a rabisca do meu ego flor de jiló, sova minha garganta o teu veneno, suplício de silêncio pelo qual pago a dívida só
Vivo, e como vivo, o amor que me incumbe os sentidos
Como, como quem não deve nada, como quem nada tem a pagar
Tenho em mim a chama desse amor modesto, desse inquieto sentir, desse eterno e alentado fraquejar de sempre, e planejadamente tento não me enganar
Observo o balé que começa já contando os segundos para acabar, deixo a dançarina rodopiar em seu próprio eixo, pontiaguda uma encravada, cuja dona  não conhece a dor, mas carrega um inflamado adeus a qual insiste alimentar
Enquanto tudo passa jogo milho aos pombos, literalmente nutro a esperança, que desde criança persiste me acompanhar
Tola nunca fui, mas sempre de tocaia, esperando o cavalo selado, pronta e treinada para dar o bote certeiro, aprendida em tais ofício, solteira desde menina, aguardando minha hora de montar


Roberta Moura    


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