Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Guerra e o Espelho

O espelho - Flávio Tavares



Flor de formosura
Minha tela, meu colorir, minha gravura
Pele limpa e transparente, visagem da minha paz
Atraente coração que me contenta
Segue os dias que passas ao meu lado
Traz para mim a tal felicidade
Mansidão e companheirismo, para sempre adorado
Chegue logo noite, passe logo dia corrido, para que eu volte para o meu amado
Dedicados dias a sombra da tua riqueza
Olhe-te no espelho, cale-te diante dele
O reflexo é mais do que o que se vê, é a projeção do que você faria, o que fez
Que beleza é essa que me nutre, que certeza plaina sob minha cabeça
Mitigadas as minhas palavras, sempre mitigadas, problematização unilateral
Não quero para mim a abantesma desse falido jogral
Corra sozinho se for seguir esse caminho, não quero o de novo o igual
Esconda da minha vista a leseira que por vezes vem te visitar
Faz assim, senta a cabeça na minha perna, me toma da alma de alegria, guarda essa suposta espera 
Economize as minhas verdades, gaste-as em prol da tua felicidade, não perca tempo tentado adivinhar
Seja meu amigo, meu reinado, meu lar
Chegue todo dia, não se vá, cubra-me com a pureza o teu olhar
Afaste essa insegurança mórbida, que te ceva as ancas, que te salta a sobrancelha
Minha felicidade transforma-se em herança, meu legado, meu festejar
Vinde a mim sem castigo, sem dor, seja o meu amparo, o meu amor
Viva o dia de hoje ao meu lado, o dia da vez, um de cada vez
Siga comigo como o ontem, como o hoje e como o amanhã
Não te prometo estradas sem fendas, mas a chegada aconchegante e trivial, com ombridade e gosto de maçã
Cative o meu sorriso mais sincero
Ao amanhecer, ponha na minha boca o gosto da hortelã 
Seja o meu vulgo mais engraçado, meu cabelo de lado, esculhambado, emaranhado de fios e sonhos, minha leve estupides 
Mastigue e cuspa isso que te envenena, jogue fora a precariedade, viva o recente, as certezas
Não te faça de arredio, quantos não gostariam do teu covil, cear com a vossa fraqueza, derrubar a nossa mesa
O preto e branco é a cor que eu quiser pintar
Desenho o teu nome e tantos outros que desejar
Furto o pensamento antagônico do palhaço, que faz graça com a desgraça, sem querer magoar
Tenha mais paciência comigo, seja meu irmão, meu amigo
Sirva-te das minhas verdades, nada mais te cai tão bem
Não é preciso tanta sapiência para perceber que mal algum te quero, a não ser o seu bem
Para que arrastar o tempo interpretando o óbvio?
Não perca a vida que temos pelo caminho, não procure outro caminho para que eu também não me perca 
Não rumine o rancor das tuas dúvidas sobre o meu julgo macio, sobre o que vivo, sobre meu jeito arredio
Nem você, nem ninguém, verá o que eu sinto agora, isso é fato, pressupõe minha vitória
Clama o tempo a sua demora, o que te dedico, que não é pouco, o que sinceramente  tenho a oferecer a essa história
A felicidade me invade por dentro e por fora
Plena vontade, a escolha sem demora
Certeza que não se abala com quedas eventuais
Sim, cairemos 10.000 vezes mais
Mas, sempre surgirá a mão amiga, para sustentar os “ais”
Na esperança de acertar, erramos tantas vezes que nem conto mais
É a premissa da tentativa que me alimenta, sabendo que somente os que tentam possuem a doçura de errar, e certamente, um dia irão acertar
Afastemos a covardia diária que vemos pela televisão
Irmãos, amigos de infância, separados por um ego maldito, subestimando o amor, mangando da mansidão
Tantas vezes já vimos isso, tantos passaram pelas nossas mãos
Escorregaram por entre os dedos da soberba, da lamentável vaidade, zombaram do nosso amor, arriscaram em uma falida separação
Sem saber que provocavam sua própria solidão
Os dias passam e tudo me parece igual
Sem mais porquê analiso tudo isso de uma forma impar, sentada na minha poltrona avisto a sapiência do tempo, desejo deixar o pior para trás
Não penso neles, somente nos meus ideais
Eles irão se bater, confundir, rabiscar, escrever, suprimir, namorar, se expor...
E, certamente, esquecerão de corrigir, de reconhecer o escorregão, como eu o fiz
Sobrevivi a mais esse desastre sem vítimas
Resistimos a tantas coisas que poderiam ser lamento
Não desdenhamos do inimigo em nenhum tempo, valorizamos o combate afastando a covardia, o "sobejamento" 
Assim, com a morte da mentira, a reconsideração do desacerto e o desejo de continuar, descido persisti
Levar adiante essa guerra de vitória garantida
Os meus dias mais bonitos são para te agradar
Não perca tempo com o inimigo vencido, seja mais você, menos improviso
Tome o seu lugar


Roberta Moura


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PAZciência


Paciência
Estudo os teus radicais meticulosamente
Como um animal espera para dar o bote perfeito
Seria você a ciência da paz?
Não me leve a mal
Não me subestime
Não me passe para trás
Ciência oculta que afasta para sempre o jamais
Corra ao favor do vento, o encontre
Leve-me do lamento
Devolva-me a paz
Vai ciência, esculacha o meu tempo
Desafia meus pensamentos
Companheira do momento
Deito no teu colo macio e adormeço
Na espera de dias melhores
Muitos são os que não mereço
Tempo que despigmenta meu cabelo
Que entreva os joelhos
Que me cerca, me mastiga, me apodrece as vísceras
Isso que você me pede
Essas coisas que eu não quero dar
Lampeja a ideia que me redime
Satisfação garantida estava escrito na sua testa
Antes que a água derrubasse a tinta desse outdoor
É claro que todo mundo pode esquecer todo mundo, ou o mundo todo
Ninguém é tão insubstituível assim
Basta não querer mais lembrar
E esquecer que tentar não lembrar é recordar outra vez
Basta não querer mais viver, não querer
Paciência, paciência, não me roube o prazer de sonhar os meus dias com a tua paz
Eu mereço, eu devo merecer
Você vai chegar, e eu nem vou perceber o quanto me fez falta
Deve me suprir a tranquilidade
Nada, de tudo isso, me deve sobejar

Roberta Moura



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Valentão


Vai valentão, vive a tua vida de soberba e solidão
Sai por aí distribuindo beijos, mentiras e bofetões
Sem prestar atenção no que pisoteia, sem prestar atenção na vida
Quase todos você intimida
E viça sozinho, dançando feito uma bailarina em frente ao espelho
Mostrando a ninguém o seu lado mais doce
No banheiro e na sala de TV faz coisas que até Deus duvida
Entretanto, é na solidão da sua cama que tem seu pior momento na vida
É quando o sol vai quebrando e a lua vai chegando pela esquina do isolamento
Não há ar condicionado que dê conta desse teu lamento
O muro da casa vai fazendo sombra no portão
Coloca uma cadeira rente o muro, espera a condução sentado porque em pé cansa
Descansa, cobre o rosto no paninho de dormir
Minimiza-te numa cama sozinho, pedaço de mau caminho, filho da lassidão
Seus sonhos se escondem lá pro fim do mundo, onde a noite é mais escura, onde você me ver chegar
Cansada do trabalho, na madrugada fria e sorumbática
Ela é minha amiga, amo o dilúculo como poucas coisas
É quando se ouve mais forte o silêncio, posso ouvir melhor os seus gritos em prol do meu nome
A bravata que emana do teu sono, o barulho que pula do teu pulmão, me parece ondas que quebram na beira do mar
Em pensamento, junto o meu corpo ao teu, vou me ajeitando com cuidado, de banda, de ladinho, sou vencida pelo cansaço
Me agarro com o que não merece o meu querer
É quando o cansaço da lida da vida me obriga a recolher as armaduras,  quando vejo melhor você
É quando a menina se encolhe e vira novamente concha
Se chega pro lado, querendo agradar meus sonhos
Se a noite é de lua os ânimos se exaltam ainda mais
A vontade é contar mentira, historinha, um conto sem final
E se espreguiçar, cheirar o teu cangote, te olhar e desafiar a morte, dizer para ela jamais chegar
Deitar na areia da praia, imaginar as figuras nas nuvens, fazer planos para o próximo dia, visão que acaba onde os olhos não podem alcançar
E assim adormece esse amor, quando percebe está novamente numa cama sozinho, mais acordado que nunca, perdido na sua própria rinha
Que burro, esquece que sabemos que nunca precisamos dormir para sonhar
Porque não há sonho mais lindo do que meu amor


Roberta Moura


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Meu Botero Dostoievskiniano





Meu Botero preferido
Sou teu abrigo nas horas vagas, acompanha meus pensamentos essa sua cara lisa
Minha redundância, meu desenho circular, meu excesso
És o meu sorriso dado na esquina da vida
Meu passado mais próximo, meu presente infinito, meu contentamento
Sob o sol que nos aquece eu desejo o fervor, a cara avermelhada, a negativa de autoria, a covardia impregnada nas nossas vestes, o passar dos dias
Afaga a redundância da minha íris com a tua presença
Fareja a minha chegada e minha saída a francesa
Cresce e aparece diante das tuas mais tolas incertezas
Façamos um trato com tudo isso, com tudo dentro, com meus surrados rabiscos, com o paiol de pólvora que jaze em tua casa, que caia a sua prosaica realeza
Tire conclusões que te mereçam
Faz cara de quem não sabe, de paisagem, de quem não viu
Brinca no cerebelo do outro feito pilho, lhe sugando as forças, coisa que ninguém nunca te furtou
Nem naquelas noites de solidão, nem na fumaça em frete a sua casa, provocada pelo caldeirão da tua luxúria mandingueira, nutrida por meus termos de imensidão
Vai, corre sozinho, ache o caminho, faça o que lhe convier
Liga a vitrola, cante outra história, ligue a TV e sonhe um sonho qualquer
Foi você quem disse que essa eternidade não existe, você que duvidou desse querer
Queira olhar para o seu lado, por gentileza, e viva a sua vida sem o gosto de tudo isso, sem a entrega desse amor que em nada lhe desejou prejuízo, coisa que você desconhece e que mais ninguém vê
Viverei montada nesse cavalo sem cabeça, galopando no caminho das aventuras diárias, sei que nada mais na vida me conservará tanta certeza, merecida, oferecida, corrompida e silenciada
Novamente claustro, suicida, sobrevivente do holocausto que é o não merecer
Tantas passagens ultrapassadas, barreiras que se levantam na minha frente, desafiando o meu nada, que tenta refutar, sobreviver
Toma um espaço em mim que não deve medrar, que lateja o florear, me explico a insistência, me pego imbuída nesse sonho, nessa esperança
Mas, não me cabe o querer do outro, não me cabe o seu desejo, me vale a oração, o pedido para preservar, o sacrifício que me foi dado ao despertar
Crime e castigo meu velho Dostoievski, como posso querer que alguém me queira nesse tanto?
Vai quebrando minha cabeça na aparição, onde o sol se deita e queima minhas costas, no mar que ronca quando as ondas batem na terra
Vem sem merecer, de qualquer jeito, para o leito da morte de todos os seus lamentos, nesse mundo sem grandes glórias no qual jaze tua constelação de estrelas mortas, onde somos mais bandidos que artistas, onde resides na procura insana por uma nova cara-metade
Tome meu querer que é teu, cale essa tua boca e venha ser feliz
Coopera com o que digo, esconde a Monalisa desse teu sorriso, seja tão você quanto eu sou
Sou a prova vida de amor que você conhece, a única, palpável, confiável, e que teima remitir as mais profanas falha
Como quem quase tudo sabe e cala, como quem nada fala e guarda, como quem verdadeiramente ama o filho que ainda não nasceu
Gruda em mim, aqui estão os cuidados necessários para te manter
Toma o meu cálice em tuas mãos e entorna de vez o caldo que lhe engole, seu próprio veneno, que cega, que arde em querer, que me contradiz no espelho, que conspurcas para me repelir, que pirraças em jogar contra mim, não me amando tanto assim


Roberta Moura




segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Inquietude e Exatidão




Fantasia do meu ego
Quero tudo teu
A formação do sistema solar rodeando teus olhos
Quero teu colo, que na verdade é meu
Sou teu espelho, tua vaidade, sou outro você
Quero tuas veias, o sangue que circunda as vielas do teu apetecer
Vinde ao meu auxílio, aspirar da minha devoção
Quero o teu fervor, o calor de tuas mãos
Olha nos meus olhos e te encontres por lá
Quero a tua lucidez verdadeira, a tua subida, segurar a tua escada
Não quero precisar te segurar, não te quero ver cair no chão
Quero tua luz que me irradia, quero tua volição, teu perfume, mergulhar a tua guia na minha mais forte aspiração
Ser seu pão de cada dia, seu tudo, seu descansar, sua agonia
Quero os teus sentidos mais profundos, proteger a tua casa, desenhar o teu mundo
De tanto querer as vezes preciso, não digo o que quero, as vezes repito
Onde estamos nós, dentro ou fora do abismo, imbuídos nessas lacunas de falsas informações
Seu querer me espera e de longe avista a esperança na janela
Espia com devoção a minha mais recente chegada, a volta para casa, meu sublime torrão
Meu querer é seu sossego, sua certeza mais profunda, a nuance da sua pele e meu couro reluzente, na boca o beijo mais profundo
Somos além desses problemas, somos retrógrados vivendo nesse mundo
Esperando o sol que nasce de madrugada e a nave que nos leve para o outro mundo
Construa o seu caminho de volta com as migalhas que te dei outrora, para que encontre o verdadeiro banquete que te espera, no meu peito seu amor não paga mora
Fique atento no que te digo, os sinais não mudam a história, somente o querer mais profundo é capaz de oferecer a reviravolta
Vejamos o que podemos fazer no limiar dessa velha, nova e perene fábula
Não bastaram meus ditames, não foram suficientes os meus recados, a cautela e o respeito dado
Não adianta meu requerer, minha inutilidade profanada aos quatro ventos, mensurada de forma mínima foi meu amor, jogada nas ruas lamacentas, trocado por um punhado de cochicho, eis o tamanho majorado da minha dor
Rejeite o sossego desprovido, o beijo do inimigo e um amor que se reduz a memórias
Mantenha quente o peito e nutrido o amor que te faz caminhar, que te torna invisível aos olhos do bandido, que te eterniza na história  
Vai bailarino da minha íris, desfila sua soberba no circular desenho da vinha visão, onde o ponto de partida também é chegada, onde qualquer coisa que não seja o amor é para mim pura desilusão
Seja meu prazer inquieto, meu calar mais perpétuo, minha exatidão


Roberta Moura



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Patologia Curável




Segure a minha mão, é apenas um sonho, venha comigo, eu serei seu abrigo, a sua imensidão
Voando pela cidade somos novamente nós, somos o início infantil, o desengano, somos o que se deseja, não somos sós   
Não tema o que te dou em doses homeopáticas, respeite os mais velhos, olhe para os lados ao atravessar, confie no que faço por nós, amanhã tudo isso vai passar
O codinome, uma foto no mural, tão oco, tentativas frustradas de evoluir para um amor real
Tome o que resta, é seu de coração
Pegue as coisas que estão na mala, deixadas pela saudade, tome minha eterna devoção
Não toque, não fale, não diga que reconhece minha partilha, não celebre minha infelicidade julgando-a de antemão
Segure com as duas mãos todo esse amor, tente sustentar sem lanhar, pare de aludir no vazio das palavras, tome posse dessa imensidão
Aquele beijo prometido, as juras de lealdade eterna, essas coisa que faço de coração
São mais por mim que para o amor, no ensaio perene do adeus deixo a porta encostada por não ter as chaves na volta, pela lacuna que nunca fecha, pela minha momentânea frustração
Somos a mesma matéria, “malacabada” matéria fadada a essa solidão
Magnífica carne que se completa, que se alimenta na certeza de um amor eterno, de ser de quem se é por inteiro, mesmo que o passar dos dias nos diga “não”
Se alguém te perguntar como estou, responda a verdade, para dentro de você, que não saí daí nem por um segundo, que não tem pressa por nós dois, que somos silêncio e possessão
Não adianta mentir para si, além do mais, somos nós que permanecemos nessa árdua tentativa de ser feliz
Trata-se de uma simples patologia curável, com carta de prescrição médica, remédio e prazo de validade 
Não vou gastar palavras de afeto em mais um longo sermão, seja assim, isso mesmo, o que se quer, seja para si mesmo o sim, o talvez ou o não
Por isso os reclames são inúteis, de nada vale a prerrogativa de ter no currículo mais uma "paixonite" alegórica, porque o que nos alimenta de verdade é a força desse amor, que nos sustenta o coração

Roberta Moura