Segure a minha mão, é apenas um sonho, venha comigo, eu serei seu abrigo, a sua imensidão
Voando pela cidade somos novamente nós, somos o início infantil, o desengano, somos o que se deseja, não somos sós
Não tema o que te dou em doses homeopáticas, respeite os mais velhos, olhe para os lados ao atravessar, confie no que faço por nós, amanhã tudo isso vai passar
O codinome, uma foto no mural, tão oco, tentativas frustradas de evoluir para um amor real
Tome o que resta, é seu de coração
Pegue as coisas que estão na mala, deixadas pela saudade, tome minha eterna devoção
Não toque, não fale, não diga que reconhece minha partilha, não celebre minha infelicidade julgando-a de antemão
Segure com as duas mãos todo esse amor, tente sustentar sem lanhar, pare de aludir no vazio das palavras, tome posse dessa imensidão
Aquele beijo prometido, as juras de lealdade eterna, essas coisa que faço de coração
São mais por mim que para o amor, no ensaio perene do adeus deixo a porta encostada por não ter as chaves na volta, pela lacuna que nunca fecha, pela minha momentânea frustração
Somos a mesma matéria, “malacabada” matéria fadada a essa solidão
Magnífica carne que se completa, que se alimenta na certeza de um amor eterno, de ser de quem se é por inteiro, mesmo que o passar dos dias nos diga “não”
Se alguém te perguntar como estou, responda a verdade, para dentro de você, que não saí daí nem por um segundo, que não tem pressa por nós dois, que somos silêncio e possessão
Não adianta mentir para si, além do mais, somos nós que permanecemos nessa árdua tentativa de ser feliz
Trata-se de uma simples patologia curável, com carta de prescrição médica, remédio e prazo de validade
Não vou gastar palavras de afeto em mais um longo sermão, seja assim, isso mesmo, o que se quer, seja para si mesmo o sim, o talvez ou o não
Por isso os reclames são inúteis, de nada vale a prerrogativa de ter no currículo mais uma "paixonite" alegórica, porque o que nos alimenta de verdade é a força desse amor, que nos sustenta o coração
Roberta Moura
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