Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Grunhidos estranhos



Foi a ultima vez que enxerguei
Que entreguei a minha alma ao abismo que é sentir
No soltar dos seus braços permiti que a minha felicidade pudesse partir
É o caos instalado, o vazio consumindo o corpo
Sentiria-me mais vivo se souber que já estou morto
A saudade me invade e me faz resisti
Como um lastro de esperança que caçoa da minha dor
O nada além do que você deixou
Golpeia os meus sonhos, me bate, me chuta
Torna-te o meu mais novo inimigo
Sigo cantando as pedras de tudo isso
Decido continuar, com o meu mais forte grunhido
Esperando o dia e a hora de você voltar

Porque o meu brado é retumbante 
Latente e vivo é o meu instante
Sou mais carne do que gostaria
Sou mais sonhos vividos que agonia
Não me confundo tanto assim não
A certeza de hoje é a mesma que a tempos conhecia
Faço mais do que falo, disfarço e calo quando é preciso
Prefiro o cheiro no manjericão fresco que o perfume falsificado, pura fantasia
Me acudo, me permito, me dedico
Sou mais para o bem que para o mal, embora por vezes me sinta um animal
As vezes me perco, me encosto, debruço no desespero, mas não me acostumo no erro
Tento outra vez 
Sempre irei tentar


Roberta Moura 


sábado, 24 de dezembro de 2011

Então é natal, e o que você fez? - COMPRAS!






Como diria o refrão daquela canção antiga, “então é natal, e o que você fez?”
Compras?
Dívidas?
Orações repentinas e decoradas para essa época do ano?
Correntes em redes sociais?
Onde estamos com a cabeça, se não nas contas que teremos que pagar em janeiro?
Onde estamos com o estômago, se não na ceia que devoraremos mais tarde?
Faz-me rir essa mediocridade, esse falido jogral de amor universal que vemos pela televisão: “...hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou...”
Começou quando?
E que novo dia e novo tempo é esse que não varia nem mesmo a música do fim de ano?
Tenha santa paciência...
Passamos dias correndo atrás de promoções mentirosas, de produtos que em menos de quinze dias estarão com cinquenta por cento de desconto
Esbarrando nos shoppings com pessoas que mal falamos o resto do ano e trocando votos de felicidade
Não venha me bajular com panetones...
O que perdemos no meio dessa meada sem fio foi simplesmente o fato de comemorarmos honestamente, na medida em que se requer, o nascimento do nosso Salvador
Se Deus quisesse esse status todo, Jesus teria nascido em uma loja de departamento, e não em um cocho, meio a vacas e bodes fétidos
Simplicidade!
Deus quis nos mostrar a singeleza Daquele que tudo pode, enviando o Salvador da forma mais simples possível
Passados mais de dois mil anos, conturbamos tudo isso e perdemos o sentido da coisa
Festejando mais um velho barbudo, vestido de vermelho e criado pela "CoLa-CoCa", que surrupia para si a história do Digno Santa Claus, que o nascimento do Menino Santo, que nem mesmo em dezembro fora... (Mas isso fica para outra conversa...)  
Consumimos como nunca em poucos dias, o que ganhamos durante um ano, ou o que deveremos pagar durante todo o ano que se aproxima
Falamos em perdão e não trocamos um olhar com o vizinho durante todo o resto do ano
Trocamos presentes e sorrimos ao redor de uma mesa cheia de guloseimas e bebidas...
Em nome daquele que enquanto nascia já fugia da opressão de um mundo pagão
Somos todos Herodes, convidando Jesus a cear como plano de fundo em nossas vidas
Se não entendemos o que verdadeiramente Deus almejou nos apontando a forma que fez Jesus vir ao mundo, não somos dignos de usar o nome do Menino Santo nessa festa pagã que ousamos chamar de Natal
Então, sejamos mais honestos com Esse Deus, e tratemos como mais um feriado qualquer, deixemos o Natal acontecer quando estivermos preparados para a vinda do Senhor em nossas vidas
Assim Ele não se magoará tanto, assim não pecaremos tanto, assim não diminuímos o nascimento do Menino Jesus


Pensemos um pouco na estrela que guiou os Três Reis Magos até aquela manjedoura, peçamos a Deus a graça de ver além dos nossos olhos e sentir a estrela brilhante do renascimento em Cristo, para que possamos caminhar na trilha dessa luz estelar e festejar com o verdadeiro motivo, que é o amor de DEUS por nós 


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O rapaz, a moça, o perdão e o velho Chico


Rendo homenagens a Chico Buarque de Hollanda, meu grande ídolo. Nesse texto, ousei usar trechos das letras de suas músicas, todas entre "aspas". Deliciem-se com esse maestro da vida comum e meus curtos pensamentos! 


Vestindo um vestido branco com cortes assimétricos, sentada em uma cadeira velha de mogno, de pernas abertas, escancarada
É assim que me lembro dela
Cabelos soltos ao vento, meio cor de chocolate, com fios solares reluzentes
Um cálice que não seca lhe enche a mão
Ela contempla o silêncio que habita em seu peito e delicia-se com o passar do tempo ao seu amor
Orando e refletindo ela fala: “As pessoas têm medo das mudanças, eu tenho medo que as coisas nunca mudem"
Preenchendo seu peito de perdão, ela sugere mais vida para a tristeza
Uma porção extra de gentileza
Seu copo está meio de lado, derrubando vinho a cada gargalhada que lhe faz tremer a carcaça
Pede desculpas por ser desengonçada
Seu indumento foge da cor natural, respingando o rubor da bebida que lhe entorpece
Queria pintar também o corpo com suas iniciais, mas seu querido homenagens não merece
Ensaia algumas palavras: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem, pra seguir viagem, quando a noite vem, e também pra me perpetuar em tua escrava, que você pega, esfrega, nega, mas não lava”
Costuma sonhar acordada, soprando lirismo aos quatro ventos, coisas de não sei o que, coisas que ninguém quer saber, tantas verdades e mentiras que seus olhos as vezes se cansam de assistir
Sorri discretamente das provocações, Monalisa com dinheiro, indaga: “Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar, tô me guardando pra quando o carnaval chegar”
Pousa para uma foto ou duas, e basta, ta bom, já se mostrou demais
Perdoa-se pelo gênio confuso que combate desde cedo
Recolhe-se à insignificância que as vezes lhe bate no peito, sente-se injustiçada e reclama: “Hoje na solidão ainda custo a entender como o amor foi tão injusto pra quem só lhe foi dedicação”
Recompõe-se feito a fênix, volta a realidade que lhe fora roubada por segundos, pensa em perdão, oferece sem que seja pedido, perdoa de coração
Questiona-se quanto à sua própria coragem, se envaidece, repete o que promete, cumpre até o que lhe impede, diz: “Quando nasci veio um anjo safado, o chato de um querubim, e decretou que eu tava predestinado, a ser errado assim, já de saída a minha estrada entortou, mas vou até o fim”
Dobra a rodada de bebericos e oferece aos seus amigos professando o amor: “De todas as maneiras que há de amar nós já nos amamos, com todas as palavras feitas para sangrar já nos cortamos, agora já passa da hora, tá lindo lá fora, larga a minha mão, solta as unhas do meu coração, que ele está apressado, e desanda a bater desvairado, quando entra o verão”  
Chega viva ao fim da noite, cambaleando, trocando as pernas, segurando-se em um ombro amigo, falando alto me repete, no ouvido: “Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça, inútil dormir que a dor não passa”
Essa menina de dedos curtos e pensamentos longos chora na madrugada, vaga pela cidade, me chamando para com o seu veneno cear: “...Venha, meu amigo. Deixe esse regaço. Brinque com meu fogo. Venha se queimar. Faça como eu digo. Faça como eu faço. Aja duas vezes antes de pensar... Eu semeio o vento. Na minha cidade. Vou pra rua e bebo a tempestade...”
Eu que não sou bobo carrego-a para minha vida, alimento minha sorte e meu azar da esperança, passeio ao seu lado desde minha mais remota infância, quero com ela ficar
Construo uma casa com nossos sonhos, dia a pós dia, me lembrando da saia rodada, dos sopros, do vinho e do mar a rebentação
As vezes perdôo seus deslizes, as vezes me perdôo, as vezes não
Tento viver um dia por vez, me acostumando com nossos erros e acerto, ambicionando sempre mais de mim mesmo, querendo ver passar a procissão
Antes de deitar passo um tempo pensando nas coisas que já se passaram, querendo concertar tantas coisas, que bobagem essa minha, nada altera o que já transpôs
Aprecia-me o amor e reclama, “Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus”
Assento minha cabeça ao seu lado a noite e descanso, ela aperreada me chama pelo nome, cantarolo algumas doces palavras para que torne a dormir: "O que será ser só, quando outro dia amanhecer? Será recomeçar? Será ser livre sem querer?"
Fecho e abro os olhos e já é outro dia, da minha mais nova alegria, te vejo ao lado respirando, dando vida aos meus sonhos e lamentos
Cai por terra a graça da eternidade, quando na verdade o que nutre o meu desejo de continuar é a mortalidade
Porque a única coisa imortal em mim é ela
Ela vai dormir querendo mudar o mundo, e acorda com uma batia dor de cabeça, de ressaca, tendo que se espremer em um coletivo lotado, percebe que nada mudou
Saiu de casa de armadura fechada e espada embainhada, querendo pegar o ladrão, “ao meio dia me calo, me entalo, com a boca cheia de feijão”
As seis da tarde volto ao castelo, “Ela pega e me espera no portão, Diz que está muito louca pra beijar, E me beija com a boca de paixão”
Abro os olhos e sinto que tudo isso não me passava de um sonho, que vou continuar esperando dias melhores, aguardando sua serenata na minha janela
“Ela é minha menina viu”, eu sou eu o seu rapaz, “Meu corpo é testemunha do bem que ela me faz”
Vou caminhando pela vida escutando suas palavras fantasmagóricas: “Guarda-Me, Como a Menina dos seus Olhos, Ela é a Tal, Sei que Ela pode ser Mil, Mas não existe outra igual”

Roberta Moura


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A volta dos que não foram




Me diga o que você vê
O que escuta
O que você é
O que nutre seus sonhos

É a menina apaixonada soprando letras
O suor, o cansaço, o não para o lamento
É a morte da tristeza, ideal de gentileza
O grito, o brado que falha e não se intimida, não se permite parar

É o calibre que aviva a chama
Os ideais que clama a justiça
É o sonho, é o desejo de paz que o peito reclama
É o que movimenta a moenda do tempo, o que a minha cara de sossego engana

É o menino correndo atrás da bola, crescendo e sempre querendo mais
A escola da vida que nos ensina o que importa
É a porta batida na cara, e a ida, é a volta
O suspiro na chegada, é o fim dos nossos “ais”

É a volta para casa, é o fim, é o ninho
A fênix convalescida, é ambicionar além disso, querer sempre mais, nunca estar sozinho
É a amizade, a verdade, o tempo levado nas costas, as alegrias, as perdas e vitórias

É a música, a melodia sincronizada que nos une nesse espaço
O retrato do que nos somos
Pagãos, arlequins, palhaços, católicos ou circuncidados
Contemplando o Deus maior que sempre esteve e sempre estará do nosso lado

É o zero, o nada que já temos desde o início
O oito, que toma a forma do infinito
Somos nós, arquivos vivos, diante de tanta simetria e antagonismo
É a ternura, o respeito, a música e os sonhos
O desejo pela mãe arte nos mantém vivos

É ele, o amor, que nos trás até aqui
Os que jamais esqueceremos, os que ainda estão por vir


Roberta Moura

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As Cores que Compõe o Rio


Belíssima foto de autor desconhecido, sem dúvida, mais um forte artista Riotintense



Não, essa imagem não foi retirada da frente de um Pub Londrino
Nem mesmo fora retratada no final do século passado
São imagens reais e atuais de um lugar que representa um pedaço de várias vidas
Um lugarejo onde quase tudo é possível
Celeiro de celebridades da vida real
Onde de tudo tem um pouco, de cartomante a bandido, de mocinho a feiticeiro
Belas meninas que batem pernas por sua praça central, enquanto os doidivanas bebericam uma cerveja morna naquele velho bar da esquina, onde por gerações seus sobrenomes batem ponto
Quase não falta nada nessa terra que germina arte e beleza
Com certeza, moldada pelo Grande Arquiteto do Universo em inspirado dia, para pessoas que possuam a sensibilidade de percebe-la e ama-la
Feita com tal esmero que precisara da mais moderna arquitetura do seu tempo  para que tantos pudessem encontrar em seus braços o fim de seus lamentos
Casas com eira, beira e entrebeira, tijolos aparentes, conjugados tão apertados que por vezes me lembra o ventre materno
Sem problemas para mim, visto que apenas tenho que conviver com meus irmãos univitelinos mais de perto
Tudo vale a pena quando a consequência é ser filho dessa certeza, do chão que nos recebe com o pé direito, que me viu menina e hoje me tem como mulher
Venho de um lugar onde a magia inicia-se pelo nome, que sugere um rio colorido
Onde quase tudo é bonito
Terra de heróis do cotidiano, de gente humilde, cordial e humana
Mais de meio século de existência, vidas que se encontram nas calçadas, nas janelas rasgadas no meio das portas, no jantar familiar servido pontualmente às dezoito horas, que oferece o cheiro matinal de café, que seduz a todos para cearem a sua mesa
Gente que ainda se arruma para ir à missa aos domingos, que almeja um casamento ou batizado para frequentar, que sempre recebe convites para festa do vizinho, que não se amedronta diante do oficio de amar
Conheço cada pedaço dos seus misteriosos ladrilhos, do calçamento que edifica esse caminho, pelo qual insisto em caminhar
As cores que compõe seu rio zombam do tinto e do monocromático do seu nome, é pobre demais sua especificação nominal, diante da sua brilhante forma verbal
Pois é verde sua terra, azul o céu que abre o seu teto, coloridos os olhos dos teus filhos
Rebentos de apelido e sobrenome, que crescem ao lado dos primos, que namoram com amigos, que procuram a felicidade sem deixa-la escapar
Seio da arte, mãe de peito pesado de sustento, que nutre a perspectiva viva de progresso daqueles que sempre busca aprimorar
Terra do Professor Vicente Elias Soares, do Maestro Serrano, do Poeta Barbosinha, dos visionários Irmãos David, e de tantos outros com os quais não tive a oportunidade de conviver, mas que ergueram esse torrão, que me viu nascer e enche de alegria a mansidão, que permiti-se em seu leito sobejar
Não que você seja assim perfeita, não que você seja tudo o que uma pessoa como eu deseja
Mas é o que me pertence, a civilização que me permitiu o seu ventre
O que me aceita, para onde sempre pretenderei voltar
Minha Cuba Capitalista, Rosa de Hiroxima, minha cidade, meu torrão, meu lugar
Parabéns por tantas datas além dessa, por está no meu peito sempre em primeiro lugar


Roberta Moura


Música – Princesa do Litoral
Autoria: Roberta Moura

Ver-te quero bem
Princesa Do Litoral, não há igual, não tem
Tuas terras e mares, te faz tão bendita
Do teu povo tu és querida, Princesa Do Litoral

Princesa Do Litoral, Princesa Do Litoral...

Sim, me viu crescer
Rio Tinto do Vale, verde encantador viver
Terra de obreiros e artistas, céu azul, sol arboreal,
Traços do Grande Arquiteto, Princesa Do Litoral

Princesa Do Litoral, Princesa Do Litoral...

Em todo lugar que ando, em tudo mais que eu vivo, eu acredito não há nada igual
Saudade bate no peito, eu sei isso não tem jeito, eu vou voltar  à minha terra, ao meu lugar

Princesa Do Litoral, Princesa Do Litoral...



terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Guerra e o Espelho

O espelho - Flávio Tavares



Flor de formosura
Minha tela, meu colorir, minha gravura
Pele limpa e transparente, visagem da minha paz
Atraente coração que me contenta
Segue os dias que passas ao meu lado
Traz para mim a tal felicidade
Mansidão e companheirismo, para sempre adorado
Chegue logo noite, passe logo dia corrido, para que eu volte para o meu amado
Dedicados dias a sombra da tua riqueza
Olhe-te no espelho, cale-te diante dele
O reflexo é mais do que o que se vê, é a projeção do que você faria, o que fez
Que beleza é essa que me nutre, que certeza plaina sob minha cabeça
Mitigadas as minhas palavras, sempre mitigadas, problematização unilateral
Não quero para mim a abantesma desse falido jogral
Corra sozinho se for seguir esse caminho, não quero o de novo o igual
Esconda da minha vista a leseira que por vezes vem te visitar
Faz assim, senta a cabeça na minha perna, me toma da alma de alegria, guarda essa suposta espera 
Economize as minhas verdades, gaste-as em prol da tua felicidade, não perca tempo tentado adivinhar
Seja meu amigo, meu reinado, meu lar
Chegue todo dia, não se vá, cubra-me com a pureza o teu olhar
Afaste essa insegurança mórbida, que te ceva as ancas, que te salta a sobrancelha
Minha felicidade transforma-se em herança, meu legado, meu festejar
Vinde a mim sem castigo, sem dor, seja o meu amparo, o meu amor
Viva o dia de hoje ao meu lado, o dia da vez, um de cada vez
Siga comigo como o ontem, como o hoje e como o amanhã
Não te prometo estradas sem fendas, mas a chegada aconchegante e trivial, com ombridade e gosto de maçã
Cative o meu sorriso mais sincero
Ao amanhecer, ponha na minha boca o gosto da hortelã 
Seja o meu vulgo mais engraçado, meu cabelo de lado, esculhambado, emaranhado de fios e sonhos, minha leve estupides 
Mastigue e cuspa isso que te envenena, jogue fora a precariedade, viva o recente, as certezas
Não te faça de arredio, quantos não gostariam do teu covil, cear com a vossa fraqueza, derrubar a nossa mesa
O preto e branco é a cor que eu quiser pintar
Desenho o teu nome e tantos outros que desejar
Furto o pensamento antagônico do palhaço, que faz graça com a desgraça, sem querer magoar
Tenha mais paciência comigo, seja meu irmão, meu amigo
Sirva-te das minhas verdades, nada mais te cai tão bem
Não é preciso tanta sapiência para perceber que mal algum te quero, a não ser o seu bem
Para que arrastar o tempo interpretando o óbvio?
Não perca a vida que temos pelo caminho, não procure outro caminho para que eu também não me perca 
Não rumine o rancor das tuas dúvidas sobre o meu julgo macio, sobre o que vivo, sobre meu jeito arredio
Nem você, nem ninguém, verá o que eu sinto agora, isso é fato, pressupõe minha vitória
Clama o tempo a sua demora, o que te dedico, que não é pouco, o que sinceramente  tenho a oferecer a essa história
A felicidade me invade por dentro e por fora
Plena vontade, a escolha sem demora
Certeza que não se abala com quedas eventuais
Sim, cairemos 10.000 vezes mais
Mas, sempre surgirá a mão amiga, para sustentar os “ais”
Na esperança de acertar, erramos tantas vezes que nem conto mais
É a premissa da tentativa que me alimenta, sabendo que somente os que tentam possuem a doçura de errar, e certamente, um dia irão acertar
Afastemos a covardia diária que vemos pela televisão
Irmãos, amigos de infância, separados por um ego maldito, subestimando o amor, mangando da mansidão
Tantas vezes já vimos isso, tantos passaram pelas nossas mãos
Escorregaram por entre os dedos da soberba, da lamentável vaidade, zombaram do nosso amor, arriscaram em uma falida separação
Sem saber que provocavam sua própria solidão
Os dias passam e tudo me parece igual
Sem mais porquê analiso tudo isso de uma forma impar, sentada na minha poltrona avisto a sapiência do tempo, desejo deixar o pior para trás
Não penso neles, somente nos meus ideais
Eles irão se bater, confundir, rabiscar, escrever, suprimir, namorar, se expor...
E, certamente, esquecerão de corrigir, de reconhecer o escorregão, como eu o fiz
Sobrevivi a mais esse desastre sem vítimas
Resistimos a tantas coisas que poderiam ser lamento
Não desdenhamos do inimigo em nenhum tempo, valorizamos o combate afastando a covardia, o "sobejamento" 
Assim, com a morte da mentira, a reconsideração do desacerto e o desejo de continuar, descido persisti
Levar adiante essa guerra de vitória garantida
Os meus dias mais bonitos são para te agradar
Não perca tempo com o inimigo vencido, seja mais você, menos improviso
Tome o seu lugar


Roberta Moura


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PAZciência


Paciência
Estudo os teus radicais meticulosamente
Como um animal espera para dar o bote perfeito
Seria você a ciência da paz?
Não me leve a mal
Não me subestime
Não me passe para trás
Ciência oculta que afasta para sempre o jamais
Corra ao favor do vento, o encontre
Leve-me do lamento
Devolva-me a paz
Vai ciência, esculacha o meu tempo
Desafia meus pensamentos
Companheira do momento
Deito no teu colo macio e adormeço
Na espera de dias melhores
Muitos são os que não mereço
Tempo que despigmenta meu cabelo
Que entreva os joelhos
Que me cerca, me mastiga, me apodrece as vísceras
Isso que você me pede
Essas coisas que eu não quero dar
Lampeja a ideia que me redime
Satisfação garantida estava escrito na sua testa
Antes que a água derrubasse a tinta desse outdoor
É claro que todo mundo pode esquecer todo mundo, ou o mundo todo
Ninguém é tão insubstituível assim
Basta não querer mais lembrar
E esquecer que tentar não lembrar é recordar outra vez
Basta não querer mais viver, não querer
Paciência, paciência, não me roube o prazer de sonhar os meus dias com a tua paz
Eu mereço, eu devo merecer
Você vai chegar, e eu nem vou perceber o quanto me fez falta
Deve me suprir a tranquilidade
Nada, de tudo isso, me deve sobejar

Roberta Moura



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Valentão


Vai valentão, vive a tua vida de soberba e solidão
Sai por aí distribuindo beijos, mentiras e bofetões
Sem prestar atenção no que pisoteia, sem prestar atenção na vida
Quase todos você intimida
E viça sozinho, dançando feito uma bailarina em frente ao espelho
Mostrando a ninguém o seu lado mais doce
No banheiro e na sala de TV faz coisas que até Deus duvida
Entretanto, é na solidão da sua cama que tem seu pior momento na vida
É quando o sol vai quebrando e a lua vai chegando pela esquina do isolamento
Não há ar condicionado que dê conta desse teu lamento
O muro da casa vai fazendo sombra no portão
Coloca uma cadeira rente o muro, espera a condução sentado porque em pé cansa
Descansa, cobre o rosto no paninho de dormir
Minimiza-te numa cama sozinho, pedaço de mau caminho, filho da lassidão
Seus sonhos se escondem lá pro fim do mundo, onde a noite é mais escura, onde você me ver chegar
Cansada do trabalho, na madrugada fria e sorumbática
Ela é minha amiga, amo o dilúculo como poucas coisas
É quando se ouve mais forte o silêncio, posso ouvir melhor os seus gritos em prol do meu nome
A bravata que emana do teu sono, o barulho que pula do teu pulmão, me parece ondas que quebram na beira do mar
Em pensamento, junto o meu corpo ao teu, vou me ajeitando com cuidado, de banda, de ladinho, sou vencida pelo cansaço
Me agarro com o que não merece o meu querer
É quando o cansaço da lida da vida me obriga a recolher as armaduras,  quando vejo melhor você
É quando a menina se encolhe e vira novamente concha
Se chega pro lado, querendo agradar meus sonhos
Se a noite é de lua os ânimos se exaltam ainda mais
A vontade é contar mentira, historinha, um conto sem final
E se espreguiçar, cheirar o teu cangote, te olhar e desafiar a morte, dizer para ela jamais chegar
Deitar na areia da praia, imaginar as figuras nas nuvens, fazer planos para o próximo dia, visão que acaba onde os olhos não podem alcançar
E assim adormece esse amor, quando percebe está novamente numa cama sozinho, mais acordado que nunca, perdido na sua própria rinha
Que burro, esquece que sabemos que nunca precisamos dormir para sonhar
Porque não há sonho mais lindo do que meu amor


Roberta Moura