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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Lolitas

Ficheiro:Las Meninas, by Diego Velázquez, from Prado in Google Earth.jpg

As Meninas, Óleo sobre tela de Diego Velázquez - 1656




Toda menina já foi malvada na vida
Já pintou as unhas de vermelho
No intuito de praticar a liberdade, a crueldade e se satisfazer
Toda menina já traiu ou pensou, já pensou e traiu, já pensou e pensou, ou já traiu e traiu
Toda menina repara na roupa da outra
Repara no andar, no acessório e no principal
Toda menina para e repara
Fala de grana, de sexo, de meninos e de outras meninas
Toda menina é andrógena, não pelo apelo sexual, mas por ser levada pelo seu gênio lunar, que trata do seu ponto chauvinista e kármico perante os meninos
Toda menina já foi menino um dia, sem temer o que irão falar, agarrou uma bola, o uma bicicleta, tomou a iniciativa, foi a caça
Só para praticar a altivez e se satisfazer
Toda menina já deixou alguém na mão
Fez charminho, provocou e saiu correndo quando o bicho pegou
Toda menina endente mais do que fala
Balança a cabeça como quem diz, eu acredito na sua dor, muitas vezes sem compreender, mais por aflição do que por entender
Outras vezes são clarividentes e não demonstram, não por motivos que remetam ao acanhamento, é que na maioria das vezes não vale a pena discorrer
Toda menina futrica no banheiro, toda menina faz isso
Comenta, relembra, retoca, rebola no espelho, dança sozinha, ensaia um monólogo no plano das ideas 
Toda menina gosta de fantasias... De torneiro, encanador, faxineiras, enfermeira, lobo mal 
Toda garota já fez alguém chorar, nem que seja de ódio
Toda menina já choramingou por amor, dela ou de outra pessoa, ou com um filme romântico, mesmo sem nunca ter vivido um amor
Toda menina já acabou um namoro sem querer, como quem se apega ao inevitável, fez dengo e se rachou  
Toda menina já foi artista na vida
Vestindo as roupas da mãe, do pai ou de quem quer que seja, vive na eternidade de um "Click", encenando um filme que não se acaba, uma novela da vida real
Toda menina já foi Lolita na vida, e teve o seu Vladimir Nabokov, não por amor, mas por anseio de poder
Toda menina já procurou o ângulo perfeito para aquela foto
Já buscou amigas perfeitas, namorado perfeito, trabalho perfeito, carro perfeito... coisas perfeitas, é, são essas coisas de meninas
Toda menina já teve uma amiga para chamar de irmã, e por vezes, essas meninas se decepcionaram
Muitas não entenderam até hoje que, se fosse bom chamar uma amiga por alcunha de parente não haveria “irmã ou irmão, ou não haveriam amigas”, para isso, se usaria os verdadeiros
Toda menina confunde irmão com amigos
Toda menina gosta de atenção
As vezes, para isso, procuram os meninos, que no fundo não são muito bons nisso
Elas se esquecem de suas limitações e buscam nos outros o que faltam nelas
Toda menina é mais corajosa que menino
Cresce antes tendo a mesma idade, aprende, ensina, requer, solicita, e quase sempre reclama por não ser atendida
Toda menina reclama por natureza, por esse ímpeto de perfeição
Quer para os outros e para si
Toda menina compete com outras meninas
Toda menina consegue atender o telefone, fazer as unhas e mudar o canal da TV ao mesmo tempo
Toda menina gosta de namorar, as que acham que não gosta de sexo podem repensar no parceiro, que é bem mais fácil que acreditar que são frígidas
Toda menina detesta menino "demais"... que fala demais, que bebe demais, que fumam demais, que se acha demais
Toda menina gosta de conforto, que pode ser traduzido por um colo, o ombro amigo, um sorriso bonito, um olhar
Se você não sabe do que estou falando talvez ainda não se conheça tanto, talvez não perceba como gira o mundo, que não é ao seu redor
Mas, sobre um eixo magnético e futurista, sobre o qual as meninas dançam como bailarinas a luz do luar
Somos de Marte, de Vênus, da “Manh/attan”, da Terra, surgimos de todas as partes, e viemos para ficar
São coisas de meninas, figuras poligonais, de vários pontos de vista, de leitura e hábito transgênico, obviamente explicado e pouco compreendido
Que suporta até mesmo o dobro de hormônios a ser carregado por um único ser humano masculino
Toda menina, é por si só uma eminência divina


Roberta Moura   


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Com o passar das minhas estações




Não fale que me ama, não, não fale
Não gaste suas palavras sem que tenha essa certeza de dentro para fora, o amor se constrói com atos, atitudes, verdades, confiança
Não diga que me conhece, não, não diga, não diga que me criou, que me quer, que me entende, não diga
Não queria assim o mal, não sinta, não deseje, não queira
Isso passa, isso também vai passar
Não rogue praga, nem invente mentiras ou jogue a sua teia tentando me pegar, não faça isso, não aposte, não faça
Não bata a ponta dos seus dedos, tentando me achar entre sites de relacionamentos, assim como o meu querer, não faça isso, não digite os lamentos, não digne-se em óbvio e falido recado
Não digite, não arrisque, não lamente, não fale
Não pouse do lado de quem não conhece, não diga que é para sempre, não a lese, não moleste a sua imagem já desgastada perante os meus olhos
Não narre o que não sabe, não jure, não canse, não caia assim onde não posso te acudir
Não duvide de mim, do meu amor, da minha amizade, não rasteei ao meu redor, não se valorize demais, viva à sua vontade
Não grave um eu te amo com essas letras garrafais sem que sinta o conteúdo pleno desse sentimento, não cumule pedidos na exordial do perdão, não diga depois da falência anunciada “eu lamento”
Sinta a remissão que vem de dentro para fora, perceba onde errou, qual o lance que vale mais nesse leilão, de onde vem a dor que provoca esse som, de onde vem o som que cala no vazio dessa sua eterna busca, dessa sua solidão
Olhe para mim com hombridade, como um homem, de cabeça erguida, cheia de veracidades
Não se encubra atrás dos seus mais novos amigos de infância, para eles contenha-se, até que a primeira barreira seja atravessada, que o afã suplante a agitação dos primeiros dias
Preste atenção, só cruze após parar, olhar e escutar
Admire mais seus lados, aqui estamos nós, acenando na beira desse cais, com lenços brancos e integridade, para te oferecer nossas verdades, que talvez o seu ouvido ainda não esteja apto para receber
Não vou mais correr atrás, não quero chegar sempre em segundo, quero chegar junto, quero unidade
Não temos mais ninguém a nossa frente, somos o agora, o sonho realizado, o presente, a hora que se estende, mais um amanhecer do moribundo que espera a morte chegar
Abrimos diariamente a caixa de pandora das nossas necessidades, matando os desafios pelo cansaço, andando sob a corda bamba, roendo o aço
Lutando contra essa maré que nunca foi mansa
Não se esqueça meu bem, não somos mais criança, e os nossos anjos que outrora faziam hora extra para nos defender estão cansados, muitos deles se aposentaram, outros tiraram férias, só temos a nós mesmos para nos proteger
Caminhamos nesse acaso, provocado pela liberdade, estendemos frequentemente os braços em busca de asilo e proteção, e não aceitamos a perca com tanta devoção
Não desisto das coisas que quero, de quem quero ter sobre minhas asas, entretanto, com certa facilidade, lanço fora o que não preciso, não preciso fazer hora
Tantas vezes catei o lixo, outras vezes respeitei o tempo, a vida e as alternativa
Estou aprendendo a assumir o risco e tirar proveito de outras coisas
Cantando por esse mundo a fora vou colecionando risos e tentando conhecer mais as pessoas
Confesso que por vezes caiu, sofro, choro, sinto o reflexo na alma, com o escavacar no meu corpo
Contudo, não desisto do ideal dos meus sonhos, mesmo sabendo que para realizá-los, tantos ainda passarão despercebidos e outros, notoriamente, serão  anotados no fazer parte das minhas escolhas


Roberta Moura      


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mãos que caem como luvas





As mãos falam mais do que devem
Geladas, suando em bicas
As mãos exploram as letras asiladas no peito
Revela-as, sincronizam-na na batidas das palmas
As mãos falam ao coração
Tenho dedos que apontam meus desejos
Tenho articulações que calam o latejo
Falange, falanginha, falangeta, coladas entre filamentos e músculos, inquietas certezas
Tenho sede, tenho fome, tenho as mãos
Suicidas letras que traçam histórias, desenham percas e vitórias
Curtas lamentações, a mão também serve para pedir perdão
Terminando o braço, puxando o meu corpo contra o seu
Peço para ficar, ele desaparece do meu olhar
Mas ficam suas mãos, belas e bem traçadas poses
Fisiculturista, elásticas, precisas e domadas mãos
Balança num “tchau” ou chama o olhar a sua atenção
Aperto delicado, ou cheio de pressão
Diga-me o que fazer quando eu não souber mais agir com você então
Pegue um anel e me enfie no dedo
Mele o polegar e assine o meu desespero
Eu não sei usa-la com tamanha perfeição
Não tenho bolsos para esconder a minha insatisfação
Tomo o indicador com astúcia, balanço longitudinalmente, novamente aponto um não querer
Pego o telefone para falar, meus dedos tem predileção
Balizam o que do cérebro resulta, o que fala o meu coração
Não, eu nunca tive tamanho querer, nunca mudei a determinação
Ele fala mais alto em minha alma, toca a boiada do meu aspirar, do meu coração
Seguro firme nesses cabelos que tentam me domar, vejo que o amor não possui celas nem arreios, contorço o corpo para não cair, para não escorregar
Não tem jeito, não tem forma, não tem solução
O traço forte que atravessa minha mão é o “quê” de verdade da minha imaginação
É ali que o teu nome está escrito, é o registro dessa imensidão
É o delineio que pensara ser banido, é a veia latente do meu fulgor
Seremos para sempre um, os que se escondem pelos becos vigiados
Viveremos sambando no solar suado, no bolero de Ravel que toca na palma da sua certidão
Desenhando no abismo das sombras, objetos toscos, fálidos, gozados
Somos uma dupla unigênita, contingente fadado ao claustro
Silencio cantarolado na minha alma, tortura serena, doce, forte, calma
Somos um par, quem lava a outra, quem passeia grudada, quem namora no escuro, no cinema e em casa, somos a mais comum e estranha forma de amar
A parelha memorável, o plural singularizado, o que não vai embora, o que olha o pulso contando as horas, o que não pretende soltar  


Roberta Moura  



quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Na era do "era uma vez minha identidade"



E muito fácil contar meias verdades, sobre se e sobre os outros, e esquecer que meias verdades são nada além de graves mentiras maquiadas 

Plágio pobre do pensamento de Flaubert atuado de Madame Bovary 
Veja só, ela não levanta bandeira alguma a não ser a de uma moral que não existe, ela não pode com peso algum porque está fadigada com o fado da sua própria consciência
Ela passa por cima de tudo por dinheiro, em quanto eu, passo por amor, acredito que isso a irrita, então que acostume-se porque não estou pensando em desistir
Em quanto chupava manga e sonhava ela era gente, depois que conheceu o sabor de uma cidra pirou, achou que era rica
E hoje, por que usa dentes postiços, roupa copiada e vive de bajular os outros acha que é autoridade... coitadinha, não sabe da missa a metade... adora tirar proveito de tudo, vive achando defeitos na casa do vizinho e não repara para seu próprio covil
Ela compra um perfume francês para disfarçar o podre que vem das entranhas dos seus pensamentos
Muito cuidado com o dinheiro meus queridos, ele entristece 
Muito cuidado com a tristeza meus amados, ela vicia
Eu tenho um número que diz quem sou, um literal de Cadastro de Pessoa Física
Você acredita nisso?!
Eu preciso de um número para que acreditem em mim, no meu nome...
O código de barra, barra a relação humana, a nossa inteligência
O caixa eletrônico come uma parte do meu salário todo mês e todo mundo acha bonitinha a maquininha que cospe dinheiro e faz todo mundo de idiota
Ninguém vê que a tecnologia avançada atrasa cada vez mais o relacionamento humano?!
Os nossos jovens já não sabem o valor do toque, porque clicam para o seu prazer
Acreditam na exatidão de tudo, não aceitam o subjetivo porque não são capazes de criar novas filosofias de vida, não rezam pela suas identidades
Hoje em dia é tudo tão exato! 
Tudo tão programado, tão frio
Eles morrem de obesidade, cheios de sedentarismo, infarto, sofrem com o tal do colesterol... o que eles estão procurando afinal?!
Que qualidade de vida é essa que eles buscam?!
Se a vida é curta e a cada dia que se passa se torna mais...
Tenho verdadeiro pânico dessa realidade que eles “vivem”, odeio sapatos, comida pouca e computador de bordo, e peço pelos meus, pelos que estão aqui e pelos que ainda virão, que busquem alternativas para não caírem nessa lama que se esconde no meio da SOCIEDADE que nos cerca    
                    
Temo a era do "era uma vez minha identidade" 



Roberta Moura 



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Quem avisa amigo é


Não adiante se lamentar, fazer cara feia, querer morrer, fazer chorar
Agente só percebe o porque de não ter dado certo com todos os outros quando encontra a pessoa certa
Tudo o mais é perca de tempo, de dinheiro, de neurônios, insistir contra o destino, contra o traço do criador, contra o instinto, o complôr da beneficência
Agente não escolhe quem ama, não escolhe o que sente, mas certamente, opta viver ou não uma vida sem lamúrias, merecedora do convívio com um povo decente
Se ainda não encontrou a resposta ou a pessoa, relaxe, peça um chá e por favor, pare de procurar
A pergunta é sempre mais criativa que a resposta, ela vem antes, é criada pela mais pura criatividade, surge de onde não imaginamos, aparece no plano das ideias e concretiza-se sem maiores apreensões e responsabilidade de satisfazer
O efeito borboleta só ocorre quando a deixamos voar
Não existe pessoa errada ou pessoa certa, nem mesmo uma fórmula infalível de amor
Só o que vale é a boa intenção no coração, o afeto, querer bem, dedicação
Não há hora exata, nem lugar perfeito, o cenário dos olhos que toma a forma do amado é o que prevalece no íntimo do apaixonado
Para mim, todas as oportunidades são válidas
Porque nunca sabemos o que precisamos de fato, e é no coração das mulheres que se aglomeram todas as inconsequências, falidas impossibilidades
O jogo só acaba quando o juiz bota a bola debaixo do braço e sai de campo
Há tempos percebi que não largo o osso, que só vou para o banho quando minha mãe caminha em minha direção, após diversas ameaças de me arrebentar
Não se aspira o tempo, nem o crédito, até que fechem a porta da lan house, até o fone desligar
O tempo é justiceiro, com sua adaga e lança na mão, opera e põe tudo no seu devido lugar
Não se apresse, não se zangue, porque o máximo que se pode adiantar é uma úlcera bem no meio do seu estômago, ou uma vesícula pronta para estourar
Porque o meu maior prazer anda de braços dados com a minha liberdade, que é viver como quero e dizer o que penso


Roberta Moura 


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Entre os braços




“...Me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo...” (Renato Russo)

Pronunciava a música daquele rebelde dos anos oitenta
Tomar a iniciativa de abrir os braços é admirável
É aceitar a cruz para carregar
Aceitar a culpa do outro, seu amor, seu afeto, seu pesar, seu cansaço
Abraço não se dá, se troca
É adotar a recíproca do aperto
É dar o colo como abrigo
E servir sem pestanejar
Dar de ombros no caminho em comum, tomar espaço e agrupar
Pelo que não causei, pelo que ainda irei causar
Pelo apego, pelo desapego, pelo não demonstrar
Mas, se você acha que seus braços são alcovas que me manterão sob a régia da submissão, me perdoe, sou de muitos, sou de quantos os meus braços puderem alcançar
Somos a história consumada, o desconhecimento com um beijo na face
Somos o ignorar no olhar vago das pessoas na rua, esperando braços abertos para apertar
Existe um abismo enorme entre o abraço de perdão, que é válido, mesmo não tendo errado, e o do “eu tenho a razão” e nessa hora não ter ninguém para abraçar
Tantas são as vezes que prefiro não ter razão, tão somente para merecer o abraço do perdão 
Abraçar é sempre pedir perdão, por ser um ser humano inacabado, no caminho da evolução
É querer demonstrar com o corpo o quanto se gosta com a alma
Querer dividir o mesmo espaço físico, acalorar a ocasião
Abraçar é sempre válido, porque mesmo que o outro não ofereça a reciprocidade desejada, são quebradas através desse símbolo as armas do ataque a pessoa que por hora seria alvejada
Abraço de urso, de onça, de leão...
Entre os braço, cheio de dedos, estático, com palavras ou calado, sucinto ou demorado
Quentinho, friento, abraço de amigo ou de irmão
Vale tudo no abraço, aperto, “encostão”, vale curtir os segundos, torna-los minutos, vale a “pegação”
Exercício de corpo e mente, completando-se da forma mais simples, acompanhado de sorrisos
Na linha longitudinal que separa os braços cabe o mundo, cabe uma vida, cabe sentidos, cabe a ternura de um afago, cabe a força do desejo


Roberta Moura