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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mãos que caem como luvas





As mãos falam mais do que devem
Geladas, suando em bicas
As mãos exploram as letras asiladas no peito
Revela-as, sincronizam-na na batidas das palmas
As mãos falam ao coração
Tenho dedos que apontam meus desejos
Tenho articulações que calam o latejo
Falange, falanginha, falangeta, coladas entre filamentos e músculos, inquietas certezas
Tenho sede, tenho fome, tenho as mãos
Suicidas letras que traçam histórias, desenham percas e vitórias
Curtas lamentações, a mão também serve para pedir perdão
Terminando o braço, puxando o meu corpo contra o seu
Peço para ficar, ele desaparece do meu olhar
Mas ficam suas mãos, belas e bem traçadas poses
Fisiculturista, elásticas, precisas e domadas mãos
Balança num “tchau” ou chama o olhar a sua atenção
Aperto delicado, ou cheio de pressão
Diga-me o que fazer quando eu não souber mais agir com você então
Pegue um anel e me enfie no dedo
Mele o polegar e assine o meu desespero
Eu não sei usa-la com tamanha perfeição
Não tenho bolsos para esconder a minha insatisfação
Tomo o indicador com astúcia, balanço longitudinalmente, novamente aponto um não querer
Pego o telefone para falar, meus dedos tem predileção
Balizam o que do cérebro resulta, o que fala o meu coração
Não, eu nunca tive tamanho querer, nunca mudei a determinação
Ele fala mais alto em minha alma, toca a boiada do meu aspirar, do meu coração
Seguro firme nesses cabelos que tentam me domar, vejo que o amor não possui celas nem arreios, contorço o corpo para não cair, para não escorregar
Não tem jeito, não tem forma, não tem solução
O traço forte que atravessa minha mão é o “quê” de verdade da minha imaginação
É ali que o teu nome está escrito, é o registro dessa imensidão
É o delineio que pensara ser banido, é a veia latente do meu fulgor
Seremos para sempre um, os que se escondem pelos becos vigiados
Viveremos sambando no solar suado, no bolero de Ravel que toca na palma da sua certidão
Desenhando no abismo das sombras, objetos toscos, fálidos, gozados
Somos uma dupla unigênita, contingente fadado ao claustro
Silencio cantarolado na minha alma, tortura serena, doce, forte, calma
Somos um par, quem lava a outra, quem passeia grudada, quem namora no escuro, no cinema e em casa, somos a mais comum e estranha forma de amar
A parelha memorável, o plural singularizado, o que não vai embora, o que olha o pulso contando as horas, o que não pretende soltar  


Roberta Moura  



2 comentários:

  1. Ró, você não tem preço igual a você só tem você!

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  2. A mão... sempre a mão a definir o rumo.
    A mesma mão que acaricia e, também, a mesma que apedreja.
    Mão, mãe, coração... mistura de tudo e de nada. Foco do novo, do velho, da gente que a despeito de sermos gente... nos envergonhamos por não poder apontar outro rumo.
    Poeta Balsa Melo

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