Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ervas Finas




Cheiro de manjericão, braços dados
Ervas Finas compõem os meus sentidos
Eu poderia parar o mundo naquele instante
Sair voando pela cidade velha, chegar na nova era
Pudera, pudera levar comigo seus doces beijos
Sua fragrância acentuada
Quem dera, quem dera merecesse o céu, ao menos o da sua boca
Pudesse deitar no seu colo sem pressa de sair
Chegar em casa e trancar-me no seu leito de ternura e mansidão
Há poder no amor, há cura!
Amargura não pode se ter quando se tem amor no peito para oferecer
Incompatibilidade de gênero, número e grau
Amor é um, amargura é dois, separados pelo muro do silêncio
Mais de trinta e dois dentes, nenhuma polegada a mais é necessária, quando de perto se tem o que precisa, sua morada é o sopro da minha brisa
Calor e fogo perene, alimentado de forno a fogão
Canto e danço como doida, esquisita, na palma da sua mão
Conjugando o mesmo verbo de outrora, no presente, contando com essa hora
Majestade sem coroa, juvenil reinado, santo escapulário de devoção é o teu rosto, devoto sou do teu coração
Canção cantarolada pelo grunir do sono, velo teu rosto com um olhar de cão sem dono
Me deixo levar por esses momentos de completo frenesi
Assim a lista de presença do teu mais silencioso encontro
Gravo o teu nome nos meus dias
Passamos a ser uma só palavra, um nome, uma poesia
Somos nós, uma só sílaba átona, gritada pela madrugada
Justiça que tarda mais não falha, prazer em te receber, sempre leve, nunca de mãos atadas
Para ser sempre a sua cúmplice, amada, amiga, namorada

Roberta Moura



quarta-feira, 27 de julho de 2011

Janela por onde passa a insanidade



Fico olhando a tua janela por toda a madrugada, por todo o mundo que nos rodeia e por toda a vida que nos espera
Me distraiu com um amigo, espero o tempo passar mais um pouquinho... será que você vai falar comigo, será que se mostrou só pra me provocar, será que teme e treme como eu, será que será
Olho tua graça na fonte que publicas temerosamente, assim como as poucas palavras que expressas com um certo ar de fleuma
Aflição, meu estômago embrulha
Que pena, daqui não posso gritar, nem te xingar
Dizer-lhe que não sou heroína, nem de plástico, e que minha validade anda curta, posso até quebrar
Só prometo o que posso cumprir, preciso diariamente que seja feito o mínimo também, para que o milagre do amor floresça no céu do teu jardim
Mais uma noite, meia dúzia de dias inúteis, mais algumas horas e oportunidades
Algumas perdidas, outras escondidas no porão das lembranças, outras tantas juradas, meias palavras no ar, quase resolvidas, todas confusas, outras batidas
Até que você possa voltar, até que eu saia desse lugar, até que cheguemos em casa, desarrumemos as malas e possamos espalhar esse composto que enche os nossos dias pelo ar
Que custe a acreditar quando te diga: nem sei mais o que estava fazendo durante todo esse tempo que se passou
Lavando roupas sujas e limpando o nosso quintal pra você brincar, dormindo tarde e acordando cedo, chorando e fazendo promissões agrestes, rezando e me convertendo mais a cada dia
Com medo, com muito medo morto pelo caminho, sem restar nesse velho peito nem mesmo espinhos, saibro pronto para você pisar
Talvez, quando Setembro chegar, a boa nova venha lhe fazendo companhia
Sempre o primeiro a entrar e o último a sair, eu não sonho mais acordada, do jeito que alguns escolhem fazer para não sentir dor
Dentre os inimigos que tenho... Só eu, e mais um bando de cúmplices, acreditam nesse amor
Andam me investigando, me circuncidando, me espremendo, me abandonando
Não costumo culpar os outros por minhas vaciladas, carrego o vício que me consome, eles me bastam, tento domá-los diariamente, desde menino
Não acredito em promessas soltas, feitas na cama, feitas por força da cana
Nem mesmo em trocas baratas de favores, não acredito no mal, e muitas vezes, no bem também não, não acredito em conveniências, nem em graus, não acredito nas coisas feitas por mera obrigação
Não acredito nos lances que insistem em me tornar mentiras, não aceito provocação
Eu ando tão calma, tão cível comigo mesma, que quase não consigo sair, nem mesmo de mim
Ando tão eu que temo não ser mais ninguém
Talvez amanhã eu chegue, talvez vá embora, e muito embora o meu jeito louco cative aos quatro ventos, os ventos não fazem de mim alguém mais apaixonada
Existe uma certa e necessária sanidade na comunhão dos loucos, muito mais sutil do que parece, muito mais informada e bem menos escandalosa
A loucura consome quem de fora ver e sacia quem dentro mora
O delírio alimenta os apaixonados, torna-os cafona, esbarra no passado, abre um novo tempo, onde nada pode dar errado

Roberta Moura

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir




A inveja é o esperma que invade as pernas da sociedade e gera o preconceito, filho único em número, gênero e grau
Não tem irmãos para que não tenha com quem dividir atenção, para que não tenha com quem competir quando crescer, nem ter que articular ideias, nem dá a sua opinião
Igualzinho ao pai, incompetente... igualzinho a mãe hipócrita... herdeiro do sobrenome sujeira...
Nessa terra de Narcisos é tão fácil criticar a dificuldade alheia de enfrentar a vida, mais fácil ainda é quando não se tem mais nada com o que se preocupar além disso
É tão fácil criticar aquele “Um” que se deu mal no amor, de zombar daquela “Outra” que não dá certo com ninguém, da sexualidade do seu vizinho, da promiscuidade da sua prima...
É tão fácil falar do pai cachaceiro do seu colega, ao contrário, se ele tivesse câncer todos sentiriam uma grande dó, como se o alcoolismo também não fosse uma doença, ao tempo de ajudar, na necessidade, quase ninguém consegue ter o mínimo de compaixão e estender a mão para ajudar
Ainda, professam a falsa devoção de que todo mundo é igual, sem que acreditem em suas próprias palavras, espalham o cerne da injustiça do mundo e aguardam sentados, assistindo programas sensacionalista e reality, alguém chegar com a solução
É tão fácil decidir os problemas dos outros, não é?!
... e os deles, onde essas pessoas esconde, em quem esses sujeitos costumam descontar?!
O que há de podre neles?!
Sempre pedras e nunca vidraças?
Pense mais um pouquinho...
É novamente a tal da sociedade que te incomoda?!
Em que somos sócios afinal?
Todos nós?!
Eu e você?!
Se detesto esse tal de “bom gosto”, esses “bons modos”, se adoro os que morrem de vontade, de sede, de fome, como Adriana Calcanhoto
Se não me incomodo com algumas das verdades quase perfeitas dos caretas
Será que somos sócios no egoísmo, no ato de defender princípios totalmente distintos
Os meus eu sei por que os tenho, e eles?!
Ostentam os seus em respeito a quem?
A esse pai e essa mãe que nunca cumpriram o seu verdadeiro papel?!
Quem vai apontar o dedo na cara de Capitú e confirmar a sua traição se o próprio Machado de Assis não ratifica, quem tem coragem de falar que me sujo dando a mão à um leproso e permite sujar-se ainda mais ignorando as realidades da vida, quem consegue deitar a cabeça no travesseiro tranquilamente sem pensar nas crianças da África, na bomba de Hiroshima, na fatídica, cansativa e injustificável guerra do Iraque
No inocente “Charles”, aquele brasileiro que morreu anos atrás na Inglaterra, que não era príncipe de ninguém, e feneceu fuzilado pela “tão preparada” polícia Britânica, morte até hoje não elucidada, mas que no tempo toou para vender jornal
Lá se foi mais um amante, que nesse momento já descobriu o grande segredo, a face de Deus. Meu amigo Mané, que Deus o-tenha, levado pela fraqueza de um coração latente, que batera injustificadamente por um alguém
Enquanto crianças comem crack pelas ruas, enquanto a sede domina o sertão, enquanto Rio Tinto se enche de lama e água, enquanto nossos fraternos irmãos precisam de mais Ação
Quem vai olhar para mim e dizer que estou errada, que não devo me entregar assim ao amor?
Se ele é o único motivo que me mantém viva, se corre por minhas veias e faz o meu coração vencer
Por essas experiências e pessoas que se alimentam desse contexto de amor dedico meu pensar e meu agir
Na certeza de que existe um Deus Supremo que me fita com um olhar, que domina os meus pés, minhas mãos e minha boca, que passa o dia olhando para esse mundo bambo, admirado, torcendo para que tenhamos mais atitudes benévolas e deixemos os desacertos de lado...
...Que nós tomemos a posse da graça e saibamos que sempre é tempo para recomeçar

Roberta Moura



segunda-feira, 18 de julho de 2011

O silêncio, o reconstruir e o amanhecer





O silêncio fala muita coisa
Fala sim, fala não, fala talvez
Fala o de sempre
O sigilo fala mais que mil palavras, fala muito de mim
Fala mais que tantas ações mentirosas, fala com o meu coração
Fala para ele, para nós, para vocês
Calada... Cá, com meus pensamentos, meus botões e casas tentam me entender
Inúteis tentativas, esfinge sem igual é o meu semblante
Contemplo meu calar por alguns instantes
Satisfaço, desfaço, consumo o meu querer
Tenho tampa para a caneta, para a panela, tenho tempo, tenho coragem, valentia para a sua moleza, tento exaustivamente merecer
A estação do sossego chega, vai embora, provoca no meu peito mais certezas
Deixa-me assim, contemplando a sobriedade de um sorriso bobo
Mergulhada no castanho dos seus olhos, infantil lamento solto
O que vamos fazer agora?
Aprecio a calmaria como quem chega a tocar na sua própria respiração
Com aspiração, deliciando-me na percepção macia de liberdade, anseio o ulterior caminhar do amor
Cânticos em louvor a sua presença de alma, o sossego me permite ao espetáculo da vida
Soluços ébrios pela madrugada, verdade louca, edificada de quase nada, mas que enche de esperança a essência
Não brigo, não discuto, para os pobres de alma apenas o luto das palavras, todo o déficit da minha atenção
Para os sãos de corpo e coração meu querer, o contrário da desídia, minha mais branda dedicação
Meus sonhos, meu tudo, meu zelo, minha paz, meu sossego, dia de frio acompanhado e de calor compartilhado, minha mais sublime intenção
Para que possamos nos manter longe desse desmantelo de ser artistas nesse covil de pobreza, vivendo de murmúrios juvenis
Livrando-nos do mal pela oração, orando e cometendo acertos, errando e limpando a trilha deixada no chão
A quietude de alma me convém, satisfaz, evolui, me remete à forra, me faz cidadã do além
Guardo novas frases no meu coração, produzo com grande facilidade, fábrica de amor é o meu peito, consolado pela aspiração de, se der errado, amanhã ter uma nova chance e novamente tentar, com o novo dia amanhecer
Dos devaneios do meu peito alimento o vício de amar, serena, minha alma proclama o meu querido, a quem pouco ofereci, do muito que ainda tenho para dar    
Tenho para mim que a felicidade é um estado de espírito
Sem nome, sem endereço, com nada nas mãos, aguardo a nova chance de amanhecer
Não levo nada, a não ser a liberdade, companheira dessa tal felicidade
Imã da alegria de viver, alimentada pelo vício de reconstruir, de florescer

Roberta Moura




quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sobre potes, vasos, abelhas, flores e um sonhador apaixonado





Eu era um pote cheio
Lacrado, comportando todo vício, toda complexidade de uma vida
Eu era um vaso de flores mortas, de boca aberta para cima, retendo líquido, esperando que migalhas caíssem para me alimentar
Eu era uma abelha cansada, polinizando juras de amor eterno, vivendo mais de sonhos que de fatos
Eu era um sonhador, que cultivava os amores com esmero e perfeição, esperando o mínimo de deferência, de aspiração
Eu era o ontem que não se acabou, o vento forte que me levara para o sem fim
Dia de sol era o meu amado, na escuridão da minha solidão infinita
Condenada pela vida, cabisbaixa, vinda de diversas caminhadas afanosas
Era um tempo longo e duradouro, que não tinha pretenções de passar, arrastava-se entre o sim, o não e o sempre
Jurava a inclinação eterna a um amor ausente
Que amor era esse, o que me tornei?
...Se sou ainda mais imprecisa, se por vezes me apaixonei...
O amor não conta quem passa, mas quem fica
Curto ainda o aconchego dos seus braços exclusos, o custo pueril do absurdo
Pago a mora de um coração cheio de desejos astutos, lastro de suor e vitórias, derroto o ser amado com a história, insensato, logrado juvenil
O amor não suporta mentiras, sendo o amante verdadeiro, nada o levará a culpa
Esquema imperfeito, recai sobre o sentido doentio do menosprezo o pagamento de suas atitudes, solidão que lhe compete como espelho
Burro! O amor é burro, e mais burro é o ser amado
A subestimação e a vaidade ainda conseguem vencê-lo?
Que impropério, que barateio!
Sempre perdendo o cavalo selado, esperando um ônibus que não chega, esperando o trem que nunca vem
Por instantes esqueci que burro não monta cavalo
Impressas e jogadas para limpar o chão, essas letras não valem de nada, são apenas folhas de papel, sujeira e mãos
Tomei o vaso que vivia de boca aberta para cima e plantei uma semente, todos os dias prometi devoção, e a ela prestei a minha atenção
Germinou, rebentou o amor, na flor que colore o meu jardim
Chegou e ficou, fincou raízes seguras e precisas
Peguei o pote que jazia lacrado com inseguranças, lasquei o vidro que o evitava, assim como as forçosas mudanças, tomei o seu interior e o conteúdo com minhas certezas, arrisquei a transformação, me salvei
Dos sonhos de outrora colho os frutos, filhos daquele com o trabalho
Lambuzo-me no mel que abrolhei quando abelha, aprendi a produzir o material em longa escala, vendo, troco e dou para quem desejar
Um pote dessa porção cura toda malfazeja, seiva do amor, alvitre da Realeza
Jamais devemos pedir para alguém nos amar, só precisamos de deferência para o amor que doamos, uma simples licença!
Assim é o verdadeiro amor, sempre pronto para contribuir
Do amor que dei e dou levo as mais puras certezas, com o muito que sofri, com o pouco que mudei, aprendo todos os dias a regar a fina flor que cultivei
Na busca incessante em residir o conceito de amar, optei pela pureza da verdade e a ela me dediquei
Venci o medo, o-derrotei   

Roberta Moura


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desabafo da Serva da Gleba




Alforria!
Gritam os filhos da terra de um dono só
Pedem, clamam, por entre as travessas lapidadas na mistura do concreto europeu com seu suor
Tão aparentes tijolos que nos escondem
Condenados a viver na sujeição eterna, pelo velho e póstumo nome do Senhor Fabril
Quanto custa nossa liberdade?
Quanto custa nosso sossego?
Questionam os fraternais, face ao anseio alheio usurpante, doentio
A falência dos outros nos condena a saldarmos um preço que não nos compete
Quantas vezes adimpliremos com a mesma paga?
Quantas vezes já não pagamos?
Impropério sem tamanho, peticionamos ao mínimo senso da justiça
Daí ao povo o que por ele foi constituído
Um império em nome alheio, não aquilatado por eles, que é, ao mesmo tempo, tudo que nós temos
Reich pós-moderno
Urbe sitiada, vítima da bancarrota, saldando um custo eternal
Subimos essas paredes que nos aquecem no inferno, que nos livram da chuva e nos propiciam a sombra no calor
Mas, delas não podemos dispor, tornam-se então um arrendamento sem final, sujeitando-nos ao mal grado serviçal, a disposição do Senhor Feudal
Quero um chão para chamar de meu, e pode ser este, que cultivo a tantos anos com o suor do meu labor, cerne da questão, torrão da minha família, lavrado com amor
Minha casa é o meu reino, mas o Senhor é outro, na verdade são outros, que não expressam o mínimo de desagrado em nos ver nessa situação
Que nem de longe sabem dar o meu valor, para aquele que alimenta o seu reino, colocamos no prato alheio o bife, o arroz e o feijão
Servidão sem dia para acabar, tortura que aperta o meu peito, o despejo mensalmente batendo a nossa porta, sem lugar para viver, sem jeito
É assim que me sinto periodicamente, com relação à habitação que ajudei a construí para morar
Minha cidade amada, condenada ao nanismo na evolução, fazenda de porteira fechada, aguardando solução
Camponeses e Senhores, a história se repete, contamos o mesmo causo há décadas
Essa tortura me remete aos servos da gleba, que no Feudalismo constituíam a maior parte da população camponesa, viviam presos à terra, sofriam com a intensa pobreza, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão para viverem em determinado pedaço de chão, para o seu simples e enriquecedor uso, para que outros tenham à sua disposição
Nada mudou por essas bandas, nem a marcha “Jucelínica”, nem a era Lula e a alavanca, proveniente dos Feudos e da invasão Germânica
Contamos os nossos passos, levantando cercas, contando causos... o que foi tudo isso, o que somos agora, e o que nos espera no futuro chegado?
Brada com pressa a liberdade que carecemos, é chegada à hora
Imperiais somente são as tuas palmeiras, não abrace o mesmo quanto ao modelo de Estado, que os filhos que enlaçam suas vidas aos teus pés sejam novamente Pedra, e edifiquem um novo “estado” a sua pátria
Com quem podemos contar para emancipar esse chão?
Se não com os braços fortes que edificaram essas muralhas, com aqueles incontestes que defendem seu brasão, sua casa, seu reinado, onde descansam após o trabalho, onde matam a sua sede, faz criar seus filhos, futuros e livres cidadãos
Vamos avante, para cima e a luta, pelo nosso sublime torrão!

Roberta Moura

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Somos



Somos pedra, poeira, trigo e caminho
Somos vinho correndo pelas veias, somo seis, e as vezes sozinho
Somos tinta da caneta, canção para viver mais
Somos alegria agoniada, verdade, mentira e tristeza calada
Somos eternamente mais, gente apaixonada
Somos nó que se aperta, somos o cotidiano, a angustia da espera, somos o ontem, o hoje e a nova era
Somos inícios e finais
Somos um par anormal, somos eternos namorados, promessas fatídicas, vidas compartilhadas, o tudo, o quase e o nada
Somos Voltaire apaixonado, somos o contraposto, o suposto, o não comprovado
Somos mais que a dúvida desagradável, somos a certeza ridícula, a cumplicidade do amado
Somo mais que o abuso da graça, mais que a afetação
Somos alvo da cobiça alheia, símbolo de uma justiça imperfeita, quem corre atrás da sua paga
Somos um ideal vivido, alvo do bandido, mosca na sopa, amigo fiel, somos chão de terra batida, somos pedaço de céu
Somos quem não acredita no acaso, quem cria caso, quem acredita na coisa, quem casa, e crê que nada existe sem causa
Somos o apego gritante, abuso do sublime, a aberração escancarada
Somos únicos, unidos, sempre ao lado, somos mais que o eterno e o imutável defeito da perfeição
Somos uma mão digitando palavras, somos números datilografados sonolentamente na madrugada, somos quase tudo, somos mais que nada
Somos caminho, atalho e chegada, somos só um pedaço dessa longa estrada
Somos vários, somos únicos, somos todos, somos uma nação
Somos o somatório de duas metades, pedaços de coração
Somos cura e doença, volutarismo e inocência, somos sorte e demência
Somos papel riscado, sala bagunçada com criança, a retidão de pensamentos bons, contas pagas, veracidade comparada
Somos um só, eu e você

Roberta Moura



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Breves anotações



Só me restarão as palavras e as fotografias
Tento capturar do óbvio a fotografia dos momentos naturalmente insanos da nossa capacidade humana
Arrisco transformar-me em palavras, quando minha felicidade transborda com o impalpável
Quando me descuidos e fico a pensar no caos compassivo que me adota, humana demais
Tenho para mim que todos que nascem para o bem trazem consigo a cura para qualquer mal, "são autocuráveis", e a natureza contribui com essa contínua correção
Canso-me do mesmo com uma grande facilidade, entretanto, não desisto dele, transformo-o, renovo-o, dou mais uma chance
Embora seja bem mais fácil comprar um novo papel em branco, reaproveitar o riscado me proporciona a alegria de dá a ele uma nova chance de servir, torna-me senhor do seu tempo
Meu olhar digital permite-me a acrítica e a autocrítica, o apuro
Minha visão fanática pelo homem me proporciona a observância dos incontáveis vieses expostos nos pontos de vista, do posicionamento individual
Fotógrafa do cotidiano, vigilante, tomo nota dos fatores que me levam ao risco de viver
Reproduzo o que gosto, rejeito do que não me faz bem...
...tento, tento, tento, o que acho justo
Exercito a mais difícil atividade a mim incumbida, arrisco escolher
Avaliados, conceituados, observados, somos números, somos conteúdo, todos nós, vítimas e vilões de todo esse absurdo que é existir
De querer sempre mais que temos, de temer sempre menos o que mais precisamos, do pavor da perda, do egoísmo pagão
Façamos um trato, passemos mais tempo nos dedicando ao único cerne eterno que nos liga, o amor
Insistentemente volto a tocar nessa tecla, batendo como quem bate num surdo de couro de bode, sem piedade
Parece que não tenho mais nada o que fazer...
Velhos e moços, homens e mulheres, todas personagens desse cálice bobo, juntos vitimados por sua procura
Mas, para que a procura? Se é ele que nos escolhe?
Tomo nota de mais uma lição, rabisco novas palavras no meu caderninho, espero ter tempo para estuda-lo mais tarde
Com minha câmera, minha memória e meu bloquinho, vivo viajando pelo infinito particular que me esgota, pelo observatório habitat da vida humana
Não tento mais entender, somente participo desse maravilhoso espetáculo
Somos todos personagens, e assim também são aqueles que garantem não compartilhar
Tem gente que sente por não participar, tem gente que gosta só de olhar, gente que palpita a toa, gente que faria se estivesse no lugar
Tem gente que colabora, gente que consome a vida dos artistas, gente que quer ser quando crescer
Tem gente para tudo nesse mundo, as vezes chega a faltar mundo para ter gente
E assim, construímos esse sistema, essa terra do nunca, onde o nunca é a coisa mais provável de se acontecer


Roberta Moura




terça-feira, 5 de julho de 2011

Somos a faca, o pão e o queijo na mão




As frases são palavras em conjunto
Somos nós correndo na chuva
As letras se agrupam no céu de palavras e floriam as folhas que se entopem de motivação
A músicas é a alma da minha questão
O amor é o cerne patológico de toda essa sentimentalidade boba
Enquanto você se esconde nas palavras profanas, enquanto ela chama meu nome na lama, enquanto ele reclama
Nada me custa falar a verdade, tudo me proclama
Todo o acinzentado do amanhecer, tudo que me une a você
O dia de hoje, o sim, o não e o porquê
Auto-explicativa questão, limiar da minha pouca razão, beirada de amor, penhasco de emoção
Sou tudo aquilo que vejo, que desejo, que procuro, sou aquilo que quero achar nos outros
Toco a falange no silencioso do lábio que me atrai, fale menos e ame mais, clamo a sua percepção
Meus braços sentem a precisão do teu abraço, milimétrico arco da sua envergadura, tamanho ideal para minha luxúria
Encho-me de você, mas não abuso!
Nunca abuso, te sustendo na perfeição que emprego nesse amor
Te agüento, não lamento, tenho sempre mais para dar, todo o torpor
Frascos de perfumes ignorados, quero o seu cheiro, bálsamo amado
Que se entorna, que não esvaziar, que alimenta de prazer essa eterna alegria
Amor que inflama minha alma, que não desaparece, que merece esse meu jeito
Que me escolhe, me acolhe em seu peito
Me queira só mais um pouco, o suficiente para me tornar conciso, conjunto corpo, alma e juízo
Para não fazer de mim inimigo, para me ter de qualquer jeito
Somos a faca, o pão e o queijo na mão, o sim, o talvez e o não
Somos o agora e o futuro que nos aguarda
Somos quem podemos ser, o que queremos ter e o que devemos absorver




Roberta Moura






Furacão (letra e música Roberta Moura 04/2010)


Todo a mor é cego, fingido, escancarado

Todo amor é burro, inconsciente, escandalizado
Pode ser que você não seja assim, pode ser que seja perfeito para mim


Todo amor é fogo, braseiro adocicado
Todo amor é bobo, inconseqüente, banalizado
Pode ser que você não seja assim, pode ser que seja perfeito para mim


O limite da queda é o chão, o amor de vento, vira furacão
Quem se arrisca vai fundo, não se perde a vida, mas se ganha o mundo


Mas você me olhou, mudou tudo em mim, gira mundo que eu fui, hoje amo até o fim


O limite da queda é o chão, o amor de vento, vira furacão
Quem se arrisca vai fundo, não se perde a vida, mas se ganha o mundo

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Ordem das Letras




Letra para a sopa, para juntar, para separar
Letra para um acordo, para a guerra, para cantarolar a paz
Letra para conquistar a moça, para alongar o nome, para revidar
Letra para sorrir e para chorar
Letra para palavras doces, para falar, para namorada
Letra para o financiamento, para formalizar o casamento, letra para amar
Letra para despir sua roupa, para tocá-la inicialmente pela boca, para acordar com um bom dia, para espantar minha agonia, letra para me completar
Letra para concluir a frase, para cobrir o contraste, para pintar o seu nome, letra para apaziguar
Letras para tomar seu tempo, mexer com as suas fantasias, para sanar meu lamento, letra para desenhar
Letra para ler a mão, encher o seu coração, para me declarar
Letra para desvendar segredos, para contar para o mundo inteiro, letra para eternizar
Letra para suprir meu canto, para abolir meu pranto, para me renovar
Letra para rimar com arte, para empatar a outra parte, para enfeitiçar
Letra para a receita, para ler a frase feita, para profetizar
Letra para encher linguiça, escrita na cortiça, letra para informar
Letra para passar o tempo, para cruzar palavras, letra para endireitar
Letra para formar palavras, para contar a história, para deixar levar
Letra para pegar na mão, para escrever no chão, letra para condicionar
Letra para a liberdade, para achar a cidade, letra para localizar
Letra para ir de A à Z, para unir Eu e Você, letra para nos provocar


Roberta Moura