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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desabafo da Serva da Gleba




Alforria!
Gritam os filhos da terra de um dono só
Pedem, clamam, por entre as travessas lapidadas na mistura do concreto europeu com seu suor
Tão aparentes tijolos que nos escondem
Condenados a viver na sujeição eterna, pelo velho e póstumo nome do Senhor Fabril
Quanto custa nossa liberdade?
Quanto custa nosso sossego?
Questionam os fraternais, face ao anseio alheio usurpante, doentio
A falência dos outros nos condena a saldarmos um preço que não nos compete
Quantas vezes adimpliremos com a mesma paga?
Quantas vezes já não pagamos?
Impropério sem tamanho, peticionamos ao mínimo senso da justiça
Daí ao povo o que por ele foi constituído
Um império em nome alheio, não aquilatado por eles, que é, ao mesmo tempo, tudo que nós temos
Reich pós-moderno
Urbe sitiada, vítima da bancarrota, saldando um custo eternal
Subimos essas paredes que nos aquecem no inferno, que nos livram da chuva e nos propiciam a sombra no calor
Mas, delas não podemos dispor, tornam-se então um arrendamento sem final, sujeitando-nos ao mal grado serviçal, a disposição do Senhor Feudal
Quero um chão para chamar de meu, e pode ser este, que cultivo a tantos anos com o suor do meu labor, cerne da questão, torrão da minha família, lavrado com amor
Minha casa é o meu reino, mas o Senhor é outro, na verdade são outros, que não expressam o mínimo de desagrado em nos ver nessa situação
Que nem de longe sabem dar o meu valor, para aquele que alimenta o seu reino, colocamos no prato alheio o bife, o arroz e o feijão
Servidão sem dia para acabar, tortura que aperta o meu peito, o despejo mensalmente batendo a nossa porta, sem lugar para viver, sem jeito
É assim que me sinto periodicamente, com relação à habitação que ajudei a construí para morar
Minha cidade amada, condenada ao nanismo na evolução, fazenda de porteira fechada, aguardando solução
Camponeses e Senhores, a história se repete, contamos o mesmo causo há décadas
Essa tortura me remete aos servos da gleba, que no Feudalismo constituíam a maior parte da população camponesa, viviam presos à terra, sofriam com a intensa pobreza, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão para viverem em determinado pedaço de chão, para o seu simples e enriquecedor uso, para que outros tenham à sua disposição
Nada mudou por essas bandas, nem a marcha “Jucelínica”, nem a era Lula e a alavanca, proveniente dos Feudos e da invasão Germânica
Contamos os nossos passos, levantando cercas, contando causos... o que foi tudo isso, o que somos agora, e o que nos espera no futuro chegado?
Brada com pressa a liberdade que carecemos, é chegada à hora
Imperiais somente são as tuas palmeiras, não abrace o mesmo quanto ao modelo de Estado, que os filhos que enlaçam suas vidas aos teus pés sejam novamente Pedra, e edifiquem um novo “estado” a sua pátria
Com quem podemos contar para emancipar esse chão?
Se não com os braços fortes que edificaram essas muralhas, com aqueles incontestes que defendem seu brasão, sua casa, seu reinado, onde descansam após o trabalho, onde matam a sua sede, faz criar seus filhos, futuros e livres cidadãos
Vamos avante, para cima e a luta, pelo nosso sublime torrão!

Roberta Moura

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