Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Mais que um punhado de bosta





Parece dezembro de um ano inteiro que não tem fim
Todos esperam que passe a agonia, noites quentes, tardes com pés e mãos frias, peito apertado e cabeça de liquidificador
Parecem felizes na fotografia, o corpo já não age como antigamente
Nos últimos tempos envelheci mais de mil anos
E hoje, naquele instante, me parece meio doente, com um sorriso amarelo de quem quer ser inocente
Só se eu fosse demente, para não abrir o armário e expulsar esse percevejo voador
O filme, quando revelado, não é tão bonito assim
Confusões no gravador desconcertam as certezas outrora juradas
Quando me lembro, me descubro vivendo os dias que me juraram ser dourados
Latão vale mais que alumínio acobreado, porque o primeiro insiste de fato e o segundo não passa de uma invenção do diabo para enganar a boa fé
Espalham fatos e histórias que não foram, nem de longe, vividos com tamanha intenção
Hoje não tem discussão, nada é tão importante assim
Apesar de hoje, ter essa carga sangrenta nos meus olhos, consigo enxergar que amanhã há de ser outro dia
Torço para desentortar
Nem que seja o sorriso na minha boca cheia de dentes, e a parte direita do meu rosto que não para de trepidar
Quando chegar o momento, vou cobrar com juros os lucros desse meu sofrimento
Quero desinventar a ressaca constante que se instalou nos meus olhos
Amanhã vou tentar me reconquistar e dar valor do céu que aprendi a querer bem
Me entalo com pão enquanto vejo o que acontece no templo de salomão
Enchem a igreja de pessoas, oram para não chegar as suas horas, mas não procuram a solução
Ao tempo que voltam para suas casas, não respeitam a palavra minutos antes professada, esculhambam mãe e pai, aos irmãos não pedem perdão
Não teem paciência com o tempo, parecem não sentir o lamento, alimentam ainda mais as suas dores, a aflição
Fico por aqui cantando e catando seus cacos, seus desagrados, palavras fortes de quem não sabe pedir socorro ou chorar a sua descendente solidão
Templos e casas cheias de fantasias, mas no peito, no cerne da questão, habitam personagens assustados, covardes, e por vezes fria
Com o passar do tempo vai gastando esse status de personalidade difícil e revelar o que deveras sempre foi, alguém que covardemente grita para espantar a sua fraqueza e a sua incapacidade de acolher e de procurar solução, sempre deixando na mãos dos outros, sempre responsabilizando o alheio e deixando a vida para depois
Não esqueçamos que esse lance de solução é daqueles que de fato resolvem os problemas, diferente daqueles que somente comentam o que “deveria ser feito” e não pegam no cabo da inchada para semear a solução
É um lance bem mais profundo que o simples e covarde “comentário”, que quer ter uma validade que não lhe merece
Até porque, nessa altura do campeonato, quem me chegar para representar esse tipo de prosa, não vale mais que um punhado de bosta, porque comentar o problema sem solução já é fazer parte dele seu cagão
Vou esperar... estou esperando, enquanto contemplo o embranquecer dos meus cabelos e envelheço o gosto do vinho nas papilas
Confiando na providência, tomando vergonha na cara, me livrando dos ansiolíticos, do refrigerante sabor Cola
Deixa chegar a hora, por enquanto o meu rosto diz que sim, e o meu peito ainda não


Roberta Moura






terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fazer por merecer



Agente só tem o que merece
Na vida, no jogo, no amor
Não há outra regra que sobreponha o que me aparece
Agente só tem o que merece
Da pátria amada à mãe nem tão gentil assim
Rebolo um trocado para ver se sirvo à esse baldio
Percebo que baldio é o meu terreno, é o meu consorte
Trocados no bolso, votos vencidos por meia dúzia de tijolos
Agente só temo que merece
Troco um favor por meia dúzia de preces
E nem precisa aparecer se é para fazer o que não queres
Agente só tem o que merece
Osso na sopa engorda o pobre nas vacas magras
Osso na passarela agrada a visão turva de quem acredita assistir uma alegre moça donzela
O colosso não me ressalta mais os olhos
Agente só tem o que merece
O namoro acaba e com ele o respeito
Era até legal, pena que não é um moço direito
Queria o meu dote e a minha mão, não se tocou que o que lhe ofertara era o meu coração
Perdeu o resto por completo, ganhou a solidão
Consolo minhas verdades com o único refrão
Agente só tem o que merece
Faço uma fezinha para afastar os “mar zoiado”
Peço aos orixás, ao meu guia, a santo Antonio e a Vige Maria
Parece que ninguém me acode, sou só um pobre coitado, avido e cheio de pecado
Que não sabe se se alegra com a tristeza ou se entrega ao seu legado
Mas que faz jus ao seu reinado
Contando com o que le contaram na última romaria
Agente só tem o que merece
O moço complacente deseja a o altar do outro
A menina arredia coloca outro no bolso
Pobre moço desmemoriado, não sabe o que se esconde nos lábios mansos dessa guria
O que fez com o outro certamente fará com ele
É que a sua vaidade não o deixa perceber,  a vida dos outros nunca caberá em você
Vai novamente esbravejar para o mundo, fingir não merecer
Mas no fundo, bem lá no fundo, essa é a dor que realmente vai doer
E aquela frase que um dia escutou de sua mãe, no beco mais escuro do seu peito vai lhe recorrer
Agente só tem o que merece
Que não me falte a meiota do meio dia, nem a ceia para o meu reisado
Que a corda não coma o meu pescoço nas noites de ingratidão
Que eu não perca o dia para ganhar somente a noite e um punhado de solidão
Que aquele que cala a boca com farinha para não professar o desagrado não seja calado pelo pecado daqueles que o governam e merecem ter a boca lavada por sabão
Que lembre aqui e acolá
Agente só tem o que merece
Me apego a essa agonia e acredito, afinal, tenho certeza, mais uma vez, não custa acreditar
Agente só tem o que merece
Na terra moedas aos porcos e no céu a esperança do seu mandado


Roberta Moura




sábado, 30 de novembro de 2013

Você não me ensinou a te esquecer



Silenciosamente se foi, no sopro covarde e sorrateiro do prelúdio
Discreto e calmo como sempre, foi se avisar, sem incomodar, simplesmente foi
A vida não lhe privilegiou com tanta sorte quanto merecia
Não me disse a Deus, não me beijou a face como de costume, como desde a primeira vez que me viu
Não me alertou que seria assim, tanta vida nos teus olhos, tantos sonhos a serem conquistados, tanto amor na nossa reciprocidade
E mesmo assim você se foi
Deixou um móvel antigo que me decora a sala, uma pilha de trabalho inacabado e uma saudade que não terá fim
Foi meu companheiro, dos confidentes um dos primeiros, meu mestre na arte da marcenaria, eletricidade, mecânica, culinária e gastronomia
Pacientemente, à revelia da maioria, rompeu ao meu lado tantas barreiras
Em um fusca amarelado pelo tempo, ano 1983, surrupiado da garagem, enquanto ninguém mais via, me ensinou a dirigir
Lembro das vezes quando criança lhe falava do mal que o cigarro fazia e do medo que tinha de antes do tempo ter que te ver partir
E foi bem assim que agente foi vivendo, com admiração, respeito e cumplicidade, sem falar no  gigantesco amor declarado a todo momento
Mesmo diante de tantas dificuldades, criou seus filhos com amor, formou família, foi resistente de forma sob-humana, mesmo diante de tanta dor
Não tem mais aquele sorriso largo, não tem mais um apetite danado, aqueles braços fortes e pernas compridas, não tem mais 
A comida vai sobrar no almoço de domingo, menos um prato na mesa, menos bolo ou sorvete de sobremesa
Não tem mais as longas conversas na cozinha ou no quintal, a lapada de Rainha com buchada de bode e farinha
Menos cabeça para boné, mais peito dolorido
Aposentei o queijo com inhame, pelo menos por enquanto, durante esse instante de suspensão 
O que temos para hoje é uma dor danada, difícil de ser suportada, mas que lentamente tem sido devorada pela obrigação diária de sustentarmos uns aos outros
E até nessa hora você se faz presente, quando as conversas terminam com as recordações engraçadas do tempo em que agente era agente
Hoje somos menos, entretanto não somos menores, porque crescemos juntos com essa dor, renovamos a nossa Fé no Cristo Salvador e na certeza de nos reencontrar
E quando estivermos novamente no mesmo plano não quero fazer tantos planos, quero mesmo é executar
Descontar os abraços guardados, as palavras entaladas
Hoje os planos são outros, aonde o nosso é apenas sobreviver e o seu é onde Deus planejou
Vou rezar para que esses dias passem logo, que a tristeza e agonia vá embora, porque o amor e a saudade jamais irá passar
Tô juntando os cacos desse coração meia boca que dias atrás insistiu em me testar
É hora de reconstruir, arregaçar as mangas e nos ajudar
Fazer valer a tua heroica histórica e a tua vontade de viver impressionante, e perceber que nenhum de nós tem motivos para reclamar
Obrigada pelos ensinamentos, pelo amor incondicional, pelas risadas e por todos os nossos momentos, obrigada por me amar!
Lembre-se: “- Eu te amo desde a primeira vez que te vi”
Porque eu sempre irei lembrar de você, meu Tio Tarcisio

Roberta Moura



“...E agora, que faço eu da vida sem você, você não me ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer e te querendo eu vou tentando te encontrar... – Caetano Veloso”



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Para todo gosto


Para cada louco de pedra um amor, para cada amor um louco de pedra
Tem amor que dura um carnaval, amor de verão, amor de primavera, amor eterno até o final
Tem amor que não dura de perto, tem amor de pele, amor de scrap, amor de novela, amor que não é dela
Tem aquele que se declara, tem aquele que cala, o que escancara, o que não tem cara
Tem amor cibernético, amor estético, o que sincrético, tem até o anestésico, que fere, faz doer e depois de um beijo logo se esquece
Tem amor de corpo interiro, de alma, de coração, tem amor de um beijo só e aquele de um milhão
Tem amor para a vida toda, amor que faz sorrir a toa, tem o que vai e vem a todo tempo, tem amor de boa
Tem amor de namoro, de casamento, amor sem nome, amor pelos quatro ventos
Tem amor que vira a cabeça, amor de meias nos pés, amor de aquecer a orelha, amor que faz acontecer
Tem amor de cara amarrada, de mão fechada, de porta e telefone na cara, tem mais amor depois que a raiva passar
Tem amor na hora certa, amor com direito a cupido, arco e flechas, tem amor que vira festa vendo o outro chegar
E para todos esses tipos de amor tem nós dois


“...Você vai ter que encontrar aonde nasce a fonte do ser e perceber meu coração, bater mais forte só por você... Quem sabe isso quer dizer amor, estrada de fazer o sonho acontecer...” Márcio e Lô Borges

Roberta Moura


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cidade do Velho e do Novo



Novamente de malas prontas
A terra do nunca me espera
E agora, mais que nunca, com saudades de lá
O sonho se materializa e o que era ficou para trás
Sou o novo, de novo
Rogo a deus o privilégio de ficar até o fim, ver o circo desarmar
Respiro as suas possibilidades, vivo a consonância dos tonantes e cifras que se misturam no ar
Vou fazer festa na casa de “todo o mundo”
Vou para a cidade do velho e do novo, onde gerações se encontram
Espiar o meu corpo espontaneamente se arrepiar
Nessa terra de desconhecidos e de amantes é onde todos se misturam
Nos vemos por lá

Roberta Moura