Agente só tem o que merece
Na vida, no jogo, no amor
Não há outra regra que
sobreponha o que me aparece
Agente só tem o que merece
Da pátria amada à mãe nem
tão gentil assim
Rebolo um trocado para ver
se sirvo à esse baldio
Percebo que baldio é o meu
terreno, é o meu consorte
Trocados no bolso, votos
vencidos por meia dúzia de tijolos
Agente só temo que merece
Troco um favor por meia
dúzia de preces
E nem precisa aparecer se
é para fazer o que não queres
Agente só tem o que merece
Osso na sopa engorda o
pobre nas vacas magras
Osso na passarela agrada a
visão turva de quem acredita assistir uma alegre moça donzela
O colosso não me ressalta
mais os olhos
Agente só tem o que merece
O namoro acaba e com ele o
respeito
Era até legal, pena que
não é um moço direito
Queria o meu dote e a
minha mão, não se tocou que o que lhe ofertara era o meu coração
Perdeu o resto por
completo, ganhou a solidão
Consolo minhas verdades
com o único refrão
Agente só tem o que merece
Faço uma fezinha para
afastar os “mar zoiado”
Peço aos orixás, ao meu
guia, a santo Antonio e a Vige Maria
Parece que ninguém me
acode, sou só um pobre coitado, avido e cheio de pecado
Que não sabe se se alegra
com a tristeza ou se entrega ao seu legado
Mas que faz jus ao seu
reinado
Contando com o que le
contaram na última romaria
Agente só tem o que merece
O moço complacente deseja
a o altar do outro
A menina arredia coloca
outro no bolso
Pobre moço desmemoriado,
não sabe o que se esconde nos lábios mansos dessa guria
O que fez com o outro
certamente fará com ele
É que a sua vaidade não o
deixa perceber, a vida dos outros nunca
caberá em você
Vai novamente esbravejar
para o mundo, fingir não merecer
Mas no fundo, bem lá no
fundo, essa é a dor que realmente vai doer
E
aquela frase que um dia escutou de sua mãe, no beco mais escuro do seu peito
vai lhe recorrer
Agente só tem o que merece
Que não me falte a meiota
do meio dia, nem a ceia para o meu reisado
Que a corda não coma o meu
pescoço nas noites de ingratidão
Que eu não perca o dia
para ganhar somente a noite e um punhado de solidão
Que aquele que cala a boca
com farinha para não professar o desagrado não seja calado pelo pecado daqueles
que o governam e merecem ter a boca lavada por sabão
Que lembre aqui e acolá
Agente só tem o que merece
Me apego a essa agonia e
acredito, afinal, tenho certeza, mais uma vez, não custa acreditar
Agente só tem o que merece
Na terra moedas aos porcos
e no céu a esperança do seu mandado
Roberta Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário