Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Partir, andar




O seu amor que não sou eu não é seu, nunca será
Tantos dias eu levei pra contar, conto as contas no mar, as contas do terço que custam acabar
Recorte de história, serviu de nada, sem ingresso, sem acesso, sem ter coisa nova pra contar
Pensei em te contar e arriscar o que era eu, era só, só foi e ficou de novo, só eu fui  embora, para não mais voltar
Distraída e traída, colori com tintas bélicas o seu retrato, retardo falido da minha memória, vitória que aguardei mas não vi chegar
Solidão, dívida externa e passos lentos no funeral dos meus sonhos, tudo me leva ao caos que se instalou do lado de cá
Sou mais nada, não volta a palavra gasta e cuspida no ar
Volta à testa a saliva que foi pra cima, volta pra casa o filho derrotado e o gasto solado da sua sandália
Fica frio o peixe fora d’água, morre sozinho nas mãos de um estranho que lhe tirou do ninho, morre sem conhecer direito o seu inimigo, o seu vilão preferido
Tatuagem de renna, de símbolos, animais, só marcam o que se foi, serve para lembrar, e eu, que tenho essa memória elefântica, sou fadada a viver dessa história que tento esquecer, perdida no espaço, sem ter onde chegar
Rio de pedrinhas brilhantes, a luz do luar parece piorar tudo, inflamar essa tal dessa saudade
As unhas que pintei em sua homenagem foram ruídas, as máscaras que usamos no nosso carnaval foram doadas, nada mais nos une nessa palhaçada
Quando a confiança partiu levou com ela a certeza de toda verdade investida, toda a minha cara amassada de tanto te apreciar
Foi-se tudo embora, e com uma foice amolada cortou os pulsos dessa ex apaixonada
Deixou, correu o sangue colorido pela sala, foi-se as cores de abril, as águas de março, as tardes ensolaradas, a solidez da ingenuidade
Partiu para o infinito o pedaço esperançoso da minha alma

Roberta Moura  


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

É Preciso Respirar


 

É preciso respirar fundo
Para permitir que se vá e não cause mais dor
Para engolir o choro e a falta de amor
Para fazer rir sem me fazer lagrimar
Para calar o sentido e magoar ainda mais com o que se tem para falar
É preciso respirar fundo, para fazer parar
Para disfarçar o choro de madrugada
Para tirar com a força a mancha na roupa derrotada
Para chamar atenção contra coisa errada
Para alcançar
É preciso respirar sem pensar
Na hora do sim, no “volta pra mim”, no beijo roubado da namorada
No atraso com hora marcada
No pestanejar da timidez, no soluço da embriaguês
No calor do desejo, no abraçar
É preciso respirar fundo para não acordar
Quando o colo é o melhor consolo
Quando o sonho bom se repete e é mais válido que qualquer esporro
Quando se sabe a verdade e por amor não se quer enxergar
Quando se ama com tamanha força e submerge para o outro não se afogar
É preciso respirar direito
Quando a dor te toma por um corte
Quando se precisa muito mais de cuidados que de sorte
Quando a ignorância é tamanha, ainda maior que a cegueira e não se sabe interpretar
É preciso respirar compassadamente
Esperando esse futuro incerto e duradouro
Calçando o pé direito do meu castelo com as pedras trazidas por cada estorvo
Para construir sonhos que te caibam
É preciso respirar em silêncio
Quando tudo vai ao chão
Quando a desculpa é mais requerida do que se possa produzir o perdão
Quando se descobre que lutara na guerra por um estado que não é nação
Quando se dá o que se tem e, por escambo, de refém, fazem teu coração

Roberta Moura