O seu amor que não sou eu não é seu, nunca será
Tantos dias eu levei pra contar, conto as contas no
mar, as contas do terço que custam acabar
Recorte de história, serviu de nada, sem ingresso,
sem acesso, sem ter coisa nova pra contar
Pensei em te contar e arriscar o que era eu, era
só, só foi e ficou de novo, só eu fui embora, para não mais voltar
Distraída e traída, colori com tintas bélicas o seu
retrato, retardo falido da minha memória, vitória que aguardei mas não vi
chegar
Solidão, dívida externa e passos lentos no funeral
dos meus sonhos, tudo me leva ao caos que se instalou do lado de cá
Sou mais nada, não volta a palavra gasta e cuspida
no ar
Volta à testa a saliva que foi pra cima, volta pra
casa o filho derrotado e o gasto solado da sua sandália
Fica frio o peixe fora d’água, morre sozinho nas
mãos de um estranho que lhe tirou do ninho, morre sem conhecer direito o seu
inimigo, o seu vilão preferido
Tatuagem de renna, de símbolos, animais, só marcam
o que se foi, serve para lembrar, e eu, que tenho essa memória elefântica, sou
fadada a viver dessa história que tento esquecer, perdida no espaço, sem ter onde
chegar
Rio de pedrinhas brilhantes, a luz do luar parece
piorar tudo, inflamar essa tal dessa saudade
As unhas que pintei em sua homenagem foram ruídas,
as máscaras que usamos no nosso carnaval foram doadas, nada mais nos une nessa
palhaçada
Quando a confiança partiu levou com ela a certeza
de toda verdade investida, toda a minha cara amassada de tanto te apreciar
Foi-se tudo embora, e com uma foice amolada cortou
os pulsos dessa ex apaixonada
Deixou, correu o sangue colorido pela sala, foi-se
as cores de abril, as águas de março, as tardes ensolaradas, a solidez da
ingenuidade
Partiu para o infinito o pedaço esperançoso da
minha alma
Roberta Moura