É preciso respirar fundo
Para permitir que se vá e não cause mais dor
Para engolir o choro e a falta de amor
Para fazer rir sem me fazer lagrimar
Para calar o sentido e magoar ainda mais com o que
se tem para falar
É preciso respirar fundo, para fazer parar
Para disfarçar o choro de madrugada
Para tirar com a força a mancha na roupa derrotada
Para chamar atenção contra coisa errada
Para alcançar
É preciso respirar sem pensar
Na hora do sim, no “volta pra mim”, no beijo
roubado da namorada
No atraso com hora marcada
No pestanejar da timidez, no soluço da embriaguês
No calor do desejo, no abraçar
É preciso respirar fundo para não acordar
Quando o colo é o melhor consolo
Quando o sonho bom se repete e é mais válido que
qualquer esporro
Quando se sabe a verdade e por amor não se quer
enxergar
Quando se ama com tamanha força e submerge para o
outro não se afogar
É preciso respirar direito
Quando a dor te toma por um corte
Quando se precisa muito mais de cuidados que de
sorte
Quando a ignorância é tamanha, ainda maior que a cegueira
e não se sabe interpretar
É preciso respirar compassadamente
Esperando esse futuro incerto e duradouro
Calçando o pé direito do meu castelo com as pedras
trazidas por cada estorvo
Para construir sonhos que te caibam
É preciso respirar em silêncio
Quando tudo vai ao chão
Quando a desculpa é mais requerida do que se possa
produzir o perdão
Quando se descobre que lutara na guerra por um
estado que não é nação
Quando se dá o que se tem e, por escambo, de refém, fazem teu coração
Roberta Moura
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