Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Deixa estar, vai passar...





Mais uma noite daquelas
Daqueles dias de noites esquisitas
Mais um dia daqueles
Quem inventou essa história de dia da saudade sabe de nada
Sabe não
Isso não se comemora
A saudade trás dias inteiros de lembranças
Que lembranças você tem?
O que você gostaria de esquecer?
A saudade ocupa a memória, os sonhos, os hábitos...
A saudade toma posse de um pedaço da sua alma
Toma com uma xícara de chá de boldo, para ajudar a digerir
E vai tomando, vai moendo, vai alimentando essa coisa que não tem fim
Que é gostar de alguém, de alguma coisa que não passa, que não se pode esquecer
Pensa que aguenta o tombo e se arrebenta
Vai sonhando...
Nutrindo, seguindo e sentindo
Vivendo de migalhas
Como um remédio que piora os sintomas ela vai causando impactos diretos
Tem dias que a gente acorda bem, tem dias que nem um de cem
Embora o tempo vá passando a tendência é que ela aumente, é que cresça desesperadamente
Mesmo que sozinho tente me convencer
Tome as rédeas enquanto é tempo meu amigo
Faça as pazes com isso que pode ser tornar o seu maior castigo
Não tente sentir ou comemorar a saudade
Ela é traiçoeira, vai matando aos poucos e não deve desaparecer
E, não, não se iluda pessoa, não vai passar
Estamos todos pendurados, suspensos pelos ombros, forçados a crescer a qualquer preço
Pago somente a paga que me determina o amor
Dele sou refém
No mais, para toda a contrição sou inadimplente 


Roberta Moura


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O ângulo perfeito



Abra os lhos meu amor, já é sem tempo
Cantemos essa canção, que faz do nosso amor o refrão de todo instante
Me dê a mão e desdenhe da minha burrice
Chegue mais cedo do trabalho e me surpreenda com o seu mais doce olhar
Somos nós o passar dos dias que não contemplam a estatização
Somos a guerra infame diante do nosso colchão
Não fique muito tempo sem vir por aqui, não demore na distorção
Façamos assim um trato, te dou a minha vida e um pouco mais e você me dá a certeza de tudo o que eu sinto agora, a mais doce e sublime contrapartida para quem ama, afastará a minha solidão
Sejamos um, como sempre
Sejamos o escarno dessa decência vil e fantasiosa, sejamos a nossa moda, o que nos veste as vergonhas, o que pinta a nossa cara, o sim sem demora, a infantilidade de certa hora, o sim e o não
Sejamos o que garante todos os olhares a volta, o amor compromissado, gerado, vivido, levitado, fantasiado, invisível e preocupado, o que cala o meu coração
Que o costume da gentileza adentre a nossa porta e percas as chames na entrada
Não se faça de rogado para pedir a minha oração
Tenho “Buarqueado” com certa reiteração, esse moço as vezes me convence, as vezes não
Sigo na tentativa pobre de afogar as magoas, na embriaguez da minha pueril alma, devorando cada palavra de amor, cada canção
Tento me formar moça nesses dias brancos, tento sangrar menos que antes
Afastar o fantasma do descontentamento, que por vezes tenta agoniar aqueles que decidem exercer o desejo que se faz vivo no coração
Desencarno todo dia um pouco mais, na esperança de sermos eternos tanto quanto o que precede cada letra que te dedico
Quanto mais eu as multiplico, mais aumenta o comprometimento desse pobre coração
Somos assim mesmo, cheios de erros e defeitos, o completo pelo avesso
Somos o dia de ontem e o de amanhã, executando com e cuidado o tempo de hoje, preparando o terreno paralelamente
No anseio de um dia nos encontrarmos na incidência desse estreito, compartilhando de uma vez por todas a marca que nos tinge o peito
Que nos fez mais uma vez vivos para 
Quando tudo isso acabar não seremos mais os mesmos, mas certamente ainda seremos únicos
Viveremos esse amor que de igual tamanho desconheço
Estarei aqui, esperando esse dia chegar


Roberta Moura


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Malandra Sabida

Malandra Sussu - Pintura da Artista Maria do Carmo da Hora


Amanhã não me acorde tão cedo, me deixe sonhar com essa tal felicidade
A noite foi das melhores, preciso que a manhã também seja
Você que ama esse passado tão distante, que vive a espreitar suas próprias fantasias, faça de mim a sua moradia, não se perca na ilusão
Somos esse mundo bambo inteiro, seu sorriso, minha magia, aparecer e desaparecer da sua casa, ser mais que essa alegoria
Ser por inteira
Oferecí, você não queria, jogou as coisas fora, me sujou, mandou para a rua, com o cú na mão, usou a mais pura selvajaria   
Eu fui, vim, fiquei, estarei
Por tempos lavarei essas roupas sujas no meu quintal
Não chegue sem avisar, não queira me ver arredia
Faça desse dia a sua mais bela poesia, queira completar ao menos o verso dessa hora
Termine algo o que começou, sem demora, complete, seja tão correto quando garante
Hoje, amanhã ou depois, também pode ser nesse único instante
Divida o encargo das coisas, dos acertos e dos erros, para que não seja sempre paciente desse fadado desespero
Claustro e intangível o seu querer não vale nada
Maculada, a tua vontade vai tomando ar de desesperança, imaginando uma única e final chegada, como essas coisas que são pedidas a deus por qualquer criança
Vai sonhando acordado, em quando peço só mais alguns segundos de sono
Não espero mais sentada, feito um cachorro vadio quero colo de dono
Feito um malandro cansado, quero colo de namorada
E se conselho fosse bom, eu te daria, mas percebo que já dei tempo demais a tudo isso, persisto no limiar da minha mais alva consciência, afastando o inimigo, chutando a macumba, saltando a mitologia
E se eu dissesse, “queria que tudo isso fosse igual”, eu não estaria ambicionando nada, porque nada permanece sem propósito, assim como nada se esvai sem causa
Esse malandro que vejo em meu aspecto crer no destino, que conhece desde menino
Que aprecia o passar do tempo, cambaleando, subindo e descendo as ladeiras da vida, a espera de uma porta aberta para entrar e ficar, alguém que lhe seja uma saída, dividir a vida, que possa se arranja
E sabe desde sempre o que está escrito em suas mãos, traçadas linhas pelo tempo, reveladas pela velha cigana sua avó, que poderia ele viver uma vida inteira só e que jamais se daria bem com personalidade igual
Regresso para casa novamente de mãos vazias, para ser sincero, pela última vez
Percebo que esse vazio em mim não é o que deixo de trazer nas mãos, mas o que reflete desse sentido que vem de você, do que arrisquei clarear, o que você trás no seu coração, e que lá deve guardar


Roberta Moura



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Prato Feito




Você precisa de alguém pra devorar tipo feijão com arroz, alguém que seja normalzinha, papai e mamãe, alguém que escute as suas asneiras sem te agredir, que deixe-se devorar de acordo com o teu agrado
Você precisa de alguém filé mignon, que seja requintada, que saiba fazer te tudo um pouco, que vida e deixe viver, alguém que não tenha medo de ser comida por você e que não tenha medo de te comer
Você precisa de alguém que seja mexicana, de tacos picantes, embriagados de Amarula e tequila, que chore feito novela, que faça promessa que nunca serão cumpridas
Você precisa de cozinha experimental, de alguém que você possa conhecer em algum lugar, que você possa conquistar, e que te conquiste até você conseguir e enjoar
E que até lá lhe ofereça pão com azeite extra virgem e você finja ser a mais saborosa das iguarias internacionais
No fundo no fundo, você precisa ser uma salada de tudo isso, para que, de fato, você possa gostar mais de você mesmo, para descobrir quem você é
Não há mulher que queira essa vida, talvez, nem homens, e enquanto o tempo vai passando e você mastigando, perceba a enorme perca de tempo que vem cometendo
Porque existem pessoas que passarão a vida contentando-se com prato feito, tendo na geladeira a mais perfeita refeição
Enchendo a barriga de migalhas, merecendo o trivial, perdendo o prato principal


Roberta Moura