Quem sou eu

Minha foto
Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Malandra Sabida

Malandra Sussu - Pintura da Artista Maria do Carmo da Hora


Amanhã não me acorde tão cedo, me deixe sonhar com essa tal felicidade
A noite foi das melhores, preciso que a manhã também seja
Você que ama esse passado tão distante, que vive a espreitar suas próprias fantasias, faça de mim a sua moradia, não se perca na ilusão
Somos esse mundo bambo inteiro, seu sorriso, minha magia, aparecer e desaparecer da sua casa, ser mais que essa alegoria
Ser por inteira
Oferecí, você não queria, jogou as coisas fora, me sujou, mandou para a rua, com o cú na mão, usou a mais pura selvajaria   
Eu fui, vim, fiquei, estarei
Por tempos lavarei essas roupas sujas no meu quintal
Não chegue sem avisar, não queira me ver arredia
Faça desse dia a sua mais bela poesia, queira completar ao menos o verso dessa hora
Termine algo o que começou, sem demora, complete, seja tão correto quando garante
Hoje, amanhã ou depois, também pode ser nesse único instante
Divida o encargo das coisas, dos acertos e dos erros, para que não seja sempre paciente desse fadado desespero
Claustro e intangível o seu querer não vale nada
Maculada, a tua vontade vai tomando ar de desesperança, imaginando uma única e final chegada, como essas coisas que são pedidas a deus por qualquer criança
Vai sonhando acordado, em quando peço só mais alguns segundos de sono
Não espero mais sentada, feito um cachorro vadio quero colo de dono
Feito um malandro cansado, quero colo de namorada
E se conselho fosse bom, eu te daria, mas percebo que já dei tempo demais a tudo isso, persisto no limiar da minha mais alva consciência, afastando o inimigo, chutando a macumba, saltando a mitologia
E se eu dissesse, “queria que tudo isso fosse igual”, eu não estaria ambicionando nada, porque nada permanece sem propósito, assim como nada se esvai sem causa
Esse malandro que vejo em meu aspecto crer no destino, que conhece desde menino
Que aprecia o passar do tempo, cambaleando, subindo e descendo as ladeiras da vida, a espera de uma porta aberta para entrar e ficar, alguém que lhe seja uma saída, dividir a vida, que possa se arranja
E sabe desde sempre o que está escrito em suas mãos, traçadas linhas pelo tempo, reveladas pela velha cigana sua avó, que poderia ele viver uma vida inteira só e que jamais se daria bem com personalidade igual
Regresso para casa novamente de mãos vazias, para ser sincero, pela última vez
Percebo que esse vazio em mim não é o que deixo de trazer nas mãos, mas o que reflete desse sentido que vem de você, do que arrisquei clarear, o que você trás no seu coração, e que lá deve guardar


Roberta Moura



Nenhum comentário:

Postar um comentário