Quem sou eu

Minha foto
Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O Trapezista



Construo diariamente o mundo que quero para viver
Subo na árvore
Pego a maçã com as mãos
Gastando solado de pé
Corro de encontro com a minha felicidade
Cisco no mundo dos profanos
Canto aos sete ventos palavras de verdade
Trago na boca o gosto suave do vento soprado pelo seu céu
Visto minha melhor roupa para ir ao teu encontro
Percebo que, entre nós, o sofrimento só serve para colorir e criar textos como os que você costuma ler escondido
Batendo descompassado, meu coração cheio de esmero e tinta, curte o carmim dos amores ensolarados
Vermelhos são meus olhos de alegria gotejante
Cheios de não sei o que
Cheios de sentimentalidade
Troço torto, feito bêbado cruzando a rua
Paciente e lento estado da embriaguês
Coisa estranha, borboletas que passeiam no meu estômago
Você, trapezista do Circo de Soleil
Eu, Deborah Colker dos seus passos desalinhados
Tudo isso e nada disso
Pare já com isso
Tudo é igual para todos os amantes
Tudo é tão diferente quando falamos da gente
Sentimento alado, voa e bate acelerado
Esperando a hora certa de voltar


Roberta Moura


terça-feira, 29 de março de 2011

Princesa do Litoral




Me angustia ver teus sinais negativos
Traços de quem não te conhece
Minha Princesa, meu sublime torrão
Minha terra, meu lugar
À tempos atrás fiz uma canção para te eternizar
O tempo, os contratempos, e o cotidiano fatídico me fizeram protelar esse meu direito de te perpetuar em tons e palavras
Mas hoje, diante te tanto desencontro de informações, e em face desse terror que se instalou perante os nossos olhos, me sinto na obrigação de te acudir
Não, os rio-tintenses não vivem no lixo!
O lixo é que se espalha nessas desencontradas palavras generalizadoras
Nos vivemos entre as palmeiras imperiais, bem mais antigas que determinadas emissoras de televisão, bem mais vistosas que o sensacionalismo
Vivemos de poesia, na terra de verdadeiros heróis do cotidiano
Vivemos entre artistas e obreiros
Nas sombras das acácias
Vivemos em uma harmonia sadia e justa, até mesmo nas nossas discrepâncias políticas
Temos o mais belo e castro mar do litoral paraibano
Somos felizes por acreditar nessa terra, por crescer e vê-la despontar
Não desistimos por pouco, não reduzimos a nossa vida em generalidade
Não, nós não vivemos no lixo!
O lixo é que se espalha na televisão
Não vivemos nas enchentes que cobrem os leitos dos miseráveis enquanto dorme
Não choramos a perca dos nossos filhos para o constante declínio dos conceitos de família
Sentamos a mesa com nossos pais e filhos
Não visitamos os nossos irmãos em barracões de zinco
Somos uma enorme unidade familiar
Não nos fechamos as mudanças que certamente virão
Não atrasamos para chegar em casa na hora do pique
Batemos papo com os vizinhos na calçada
Minha casa é um verdadeiro apiário, composta de trabalhadores e manos, vivendo em verdadeira consonância
Agora me respondam: quem são os verdadeiros culpados por essa dissonância de realidades?
Comem e bebem do nosso melhor
Vivem do suor de muitos fraternos nordestinos
Nos criticam e passam as férias no nosso quintal
Nos humilham e sonham com as nossas mulheres
Consomem o que produzimos como vespas no mel
Procuram e não encontram o lastro de cultura semelhante a nossa
Não percebem que, eles sim, nos condenam a miserabilidade
Nos matam de sede, de fome...
Só não chacinam em nós o anseio vital de superar as dificuldades
Somos macambira florada na relva do sertão, persistentes, fortes feito pai de chiqueiro, feito de mulé e cabra macho sim sinhô! 
Quem nasce em Rio tinto não escolhe um lugar, nasce aqui porque é escolhido
A minha fonte de renda é o suor que escorre do rosto no fim do dia de trabalho honesto e íntegro
Somos filhos de Rio tinto, uma terra de impressionante beleza, riqueza cultural e homens e mulheres de fibra, de flores e de sonhos
Sobre tudo mais só exigimos uma coisa, RESPEITO!


Roberta Moura



quinta-feira, 24 de março de 2011

Ainda preciso responder?

 



Exagerada
Dramática?
Sempre!
Me banhando de perfume
Abusada
Gastando palavras para te convencer
Te enchendo de persuasão
Nem teme o que pode me acontecer
Tudo é estranho
Tudo que faço
Inesperado
Presumindo os meus passos
Me subestimando
Ignorando a minha calentura
Eu bem que queria poder te ajudar
Abrir teus olhos de sombras
Te dando certezas antigas
Todos sabem, menos você?
Que burrice!
Feito cão e gato
Perdendo tempo
Amores comparados
Inventados
Cabo-de-guerra imbecil
Cega, surda e muda
Guarda mais uma vez
Coloca no congelador
Deixa para depois
Ainda preciso responder?
Sim
Eu que sei quem é você


Roberta Moura


terça-feira, 22 de março de 2011

Indulgências

 


Fielmente, no dia de hoje, me permito ao egoísmo
Sim, hoje estou plausivelmente egoísta
E por instantes, percebo que gosto de me sentir assim
Fato é que, nesse curto e exato momento, me sinto leve pelo petulante ar de indulgência que me permito
Cínica vaidade que me consome
Meu acordar, minhas roupas, meus livros na estante, meu, meus...
Na doutrina católica, indulgência, do latim indulgentia, emana de indulgeo
Que por sua vez significa "para ser gentil"
É a proscrição total ou parcial dos infortúnios temporais do cristão devidas a Deus pelos pecados cometidos
Entretanto, honestamente, hoje, me permito cair nessa lacuna legal dos santos para viver meu egoísmo
Hoje, preciso ser gentil comigo mesmo
E essa necessidade subtrai de mim o que poderia dar a um outro qualquer
Não!
Hoje eu não tenho para ninguém além de mim!
Parti com o resto da humanidade
Hoje sou mais carne que osso
Sou mais que menos
Só por hoje quero me deitar com meu introspectivismo
E levantar quando quiser
Tudo que não for sobre mim me incomoda
Tudo mais me incomoda
Tudo mais que não seja EU


Roberta Moura

quinta-feira, 17 de março de 2011

...e você?




Você pode ter escutado o que queria e o que não queria
Mas, agora me diga...
...e você?
Qual o meu papel nisso tudo?
Quem está desse lado da ponte?
Nunca provoco, mas sempre preciso saber
Mesmo que não tenha certeza
Ainda que saiba que tudo que eu falo me faz automaticamente me tornar mais isso
Eu preciso saber de algo
Tem alguma coisa aí que eu sei que preciso
Que me prende, que não me deixa
Não é o que você pode pensar
Não espero que você me ame como eu à você
É aquela coisa que me acorda na madrugada e não me deixa dormir mais
É todo esse mistério que nos envolve
Me diga você!
Qual a chave para decifrar essa esfinge?
Você sempre se esvai
E eu sempre fico
E fico... e fico...
Sem saber
Sempre sem saber
E você sempre volta
Abre a porta como quem nunca tivera saído
Como quem vem só fazer uma visita
Tomar um chá a tarde
E novamente se vai
Pede licença para ir almoçar
E novamente, e mais uma vez, não volta mais, por um novo “enquanto”
Desisti de fechar a porta
Entre se quiser
Volte se vier
Mas, por favor, da próxima vez, saia sem bater


Roberta Moura

quarta-feira, 16 de março de 2011

Perceba!




Amor perfeito
De barriga cheia
Amor quase inteiro, a perfeição no seu introspectivismo neurótico
Quase sempre companheiro, aquele que quisera tê-lo sempre como seu
Eu te ouvi contanto umas histórias quase reais
Escutei
Calei
Pensei
Quase acreditei em quase tudo
E me perguntei: - Se é tão perfeito, porque te deixa no aguardo?
Que tipo de amor é esse que prefere trabalhar a imagem que a si mesmo?
Coloque os pratos na mesa, aproveite e deite do lado deles as cartas que escondes na manga
Será que novamente só você não repara?
Se te amasse tanto te mudaria o estado civil
Te raptava
Te chamava pra fugir
Reconheceria de longe os seus erros, e mesmo assim, te amaria
Não desistiria de você
Não se iludia
Não enganaria
Não subestimaria os seus pares
Quem você procura quando perdido?
Pare de justificar o obvio!
Viva a permissão que emana da sua boca!
Só você pode fazer isso, só nos dois
Perceba!
Se amasse desse jeito que diz amar, não seria a mim que contaria os seus mais loucos segredos
Somos atores dessa fatídica e insana vida real
Mas, sejamos cúmplices apenas das nossa história


Roberta Moura

segunda-feira, 14 de março de 2011

Você não mudou!



Boa noite, em todo caso,

Bom dia
Para quê se despedir mais uma vez?
No fim do dia de hoje percebo que você passou o dia em mim
Se levantasse sentia o teu toque, o teu cheiro
Se deitasse, continuaria com você
Feiticeiro das ilusões
Passei o dia querendo que ele passasse
Que tudo o mais passasse
Para quê, na volta, estivéssemos à sós
Como sempre
Como hoje
Procurarei você novamente
Certamente
E você estará pronto
Novamente
Percebo que em todas as buscas procurava um futuro que nenhum poderia me dar...à não ser você!
Somente você
Que é algo que não cai
Que não sai
Que me faz tremer
Gelar os pés e as mãos
Faz brotar novamente aquela velha canção
Sangue, sexo e suor
Que troco por um bocado de amor
Pecado e salvação
Tudo isso, e nada mais que isso, em uma pessoa só
Na verdade, você passa a vida, e não apenas o dia em mim
Hoje foi só mais um
Hoje foi um dos muitos
Talvez amanhã você não atenda o telefone
Talvez se canse novamente de mim
Mas, só será amanhã, só por amanhã
Porquê depois de amanhã você me ligará
E me fará um charminho
Me pedirá para ficar
E agente vai seguir assim
Hoje e sempre
Eu em você e você em mim


Roberta Moura

sábado, 12 de março de 2011

Por falar em carnaval...



Por falar em carnaval...

Faz-me rir quarando feito carne de sol
Assando nas calçadas centenárias
Beijando os moços bonitos aos quatro cantos
Subo e desço nessas ladeiras feito criança
Não me importo com as varizes, nem mesmo com os calos que doerão até o osso
Levo comigo um paiol de felicidades para serem compartilhadas
Entrosso-me nas troças e meninas que desfilam aos nossos olhos
E fazem brilhar ainda mais a festa
Na casa das Lordácias nos encontramos com outros mais, que conosco compartilham tal sentimento
Na verdade, nosso carnaval sim, tem sentido!
Somos todos carnaval!
E assim, brotam flores, frases e homenagens...
Amizades que se estreitam, reencontram, que festejam, e que sentem saudades...
Dessas “cabeças de sete bichos” a criatividade tem inveja!
Surgem frases e ditos, que, certamente, nenhum de nós jamais esqueceremos
...Cada pingo é um cacho...
...O código de popopopopopopopopo...
...A Drica fecha, ela abala, ela abala, ela fecha, ela abala...
...Tá no paredão! Rodrigão!...
...Vai lá, vai conversar com Bial...
...Fechamos e arrasamos!...
...Num fechou feito gente não!...
...É pra pagar?...
...Eu sou assim mesmo...
...Mas você não tem jeito não, né?...
...Entendemos que a Baía da Traição é uma seresta, carnaval é em Olinda...
E outras mais, que não exigirei da minha mente em plena quarta-feira de cinzas
Pena termos saído, eliminados (no propósito de voltar ao trabalho), em plena terça de carnaval
Contudo, nada emocionou-nos tanto quanto cantar, por dezenas de vezes, um canto ao NOSSO amigo Raphael
Que por essas horas corta os mares à trabalho
E por falar em Rapha e em amizade, o que dizer de carregar um boneco Ken da Barbie pendurado na camisa, e cochichar com ele de vez em quando para matar a saudade e registrar a presença de Rapha?!
Ano que vem Magaly vai aprender a cantar aquela música que todos sabem  menos ela, Lilo vai levar alguns amigos, Tetê promete está em forma, a Drica e as Lordácias prometem fechar mais ainda e tudo vai ser ainda melhor
Coisas das Lordácias!
Coisas de amigos!
Coisas de Olinda!
Coisas do nosso carnaval!
Por essas e por outras, Olinda, quero cantar, a ti, esta canção...
Salve o meu carnaval!

Roberta Moura





quarta-feira, 2 de março de 2011

Mesma matéria




Vista-se como quem se prepara para ir para guerra



Tome em suas mãos adagas de aço


Torne o seu corpo um experimento analítico de matéria


E se prepare


Eu irei ao teu alcance


Não lance sobre meus instintos esse seu veneno de torpor


Não perca mais tempo do que já costumamos perder


Não me fale sobre o que deveria ter sido, nem o que iremos fazer depois


Me aguarde


Me espere


Me cutuque


Me queira como melhor lhe couber


Como quem veste aquele jogo de instintos


Como que despe seus melhores segredos


Cubra seu rosto de tinta e me agarre


Viva a insanidade dos nossos costumes


Empunhe meus sentidos em seus braços


Me veja como sua


Te devorarei como meu




Roberta Moura