Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Bom Combate



Não peço a Deus para livrar-me dos demônios, rogo forças para encara-los e derrota-los
Sou filha da Luz, do Sol, do Mar
Sou guerreira interestelar, sou poeta, sou ator, símbolo vivo do amor
Eu posso! Juntos, nós podemos mais!
Combatente da fronte armada, sou guerra e paz, sossego e calor na madrugada, sou amada
Penso que as promessas de nada valem, quando os atos se afastam da verdade
Quem mais retarda o prometer, mas  leal é no cumprir
Vale mais quem promete menos, terá maior fidelidade no desempenho
Lembrando que, ninguém consegue afanar alguém de mãos fechadas, imagina de coração... para a doação é preciso abri-lo...
Tenho muito a aprender quanto a essas coisas de afeto, de desejo, de querer
É o que penso que sei que sempre me impede de aprender mais
Vejo a ignorância como filho da vergonha
Essas coisas todas de pensar, agir, planejar que tento organizar dentro da minha caixola
Lá vou eu de novo, verbalizando a vida
Tenho falado aos companheiros de jornada que a tal da felicidade é a matriz do esforço de fazer alguém feliz
O amor que tenho dentro de mim não é meu
Veja bem, eu dou, ato de doação... não precisa de aceite, não necessita de qualquer movimento receptivo
É algo que foi criado para doar, e nesse processo, devemos desprendermo-nos do nosso querer
...e ele próprio escolhe a quem se dá
O amor que brota de mim é dos outros, o que me alimenta e move essa produção em larga escala que há em mim é o que esta sendo lançado no peito do outro alguém, de quem me ama
Fantástica máquina esse meu coração, perfeitamente constituído por suas veias e átrios, o miocárdio compassivo que me bombeia, sublime humanidade que me faz aprender
Se eu tentar de tudo, tocar piano, dançar balé, plantar bananeira, correr a pé, e me faltar talento, vencerei a frustração de não ter conseguido pelo ato do esforço, pelo contrário da fraqueza
Quem tudo sabe? Quem tudo vê? Quem espera a justiça fenecer?
Um sorriso do amado ensina mais que 1000 páginas viradas de um livro
Retribuição, dedicação, perseverança, o amor deve ser espalhado no ar, ele não se cansa de reaparecer neste velho peito
Lute o bom combate, corra a trás do seu amor, resista as armas do confronto covarde, da inveja, da aniquidade
Apareça, Queira-o, Deseje-o, Ofereça-se à sua aspiração
Sirva-se à vontade
Fazer o bem sem olhar para quem... lá vem aquela história de dar as mãos outra vez...
Não deixe-se intimidar pelos covardes, eles nunca aparecem, vivem da sobra produzida pelo gênio do amor alheio
São como falsos profetas, falam do que não sabem e nada tem para ofertar
Tenho em mim autoridade de usufruir do pessegueiro do meu coração
Minha gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto do meu bem
E o-quero cada vez mais perto, sem tormenta, sem cobranças, com devoção
Não existe esforço baldio quando empregado no amor


Roberta Moura





quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quem colocou os ponteiros?




Faço o meu futuro pregada ao meu passado, planejando um novo estado de lucidez, galgando caminhos longos, alimentando o solo com meus pés descalços
Do norte à cidade grande, do leste ao velho rio do gelo
Correntes águas vermelhas em levam e me trazem, quando mais preciso era renascer
Cair é humano, levantar e divino
Sentir um abraço forte pela manhã, ainda com gosto e cheiro de cama
Comer pão assado, sentar do lado do namorado, tricotar, me faz otimizar a vida, te amar
Comentar o próximo capítulo a ser estudado por nossas histórias, juntar as palmas das mãos, medi-las, planejar, tudo isso me faz rejuvenescer
Tomo no resto do gosto do café que se aglomera o açúcar no fim da caneca, um gole de altruísmo, penso no que devo fazer, penso no que vou fazer
Escolho o dia de hoje para realizar
Amar mais, perdoar mais, caminhar mais, emagrecer, engordar... tudo mais para fazer, o amor não pode esperar
Perdoo-me em todos os aspectos, menos no que tange ao mal feitio provocado aos outros, isso eu tenho que merecer e pedir
Nas contas do meu terço procuro metade de um coração quebrado, ele range, ele pulsa ele chama o ser amado
Frio na barriga, suor nas mãos, sintomas de amor, flerte de paixão
Olhos nos olhos, lábios atentos, coração na mão, calo as incertezas profanas que me circundam, dou com juros a minha paga
Minha mãe sempre me disse: -filha, tem hora para tudo!
...Na verdade, eu só queria saber usar relógio de ponteiros
Nada contra ele, nada muito a favor
Quem colocou os ponteiros do relógio da vida?
Quem marcou a hora para ir, vir, chegar ou sair?
Quem disse que existe tempo e hora certa para o amor?
O tempo me auxilia, por mais que discutamos, que os nossos ponteiros corram em direção contrária ao meu querer, sempre atrasado
Na verdade, somos iguais, nunca paramos... eu, o tempo e o amor
Esqueço da tristeza, do meu pedaço de solidão
Assumo em mim um papel provedor, de sonhos, de luta, de justiça pelo amor
Visto minha fantasia, vivo nela noite e dia, alimento meus anseios, não tenho horas para pagar, mas tenho meios
Guia me a espera, conforta meus instintos a certeza de voltar, como quem joga consciente o bumerangue, precisamente esperando sua hora de retornar
Encontro sinais e sucesso nas mãos daquEle que me ressuscita
Procuro viver, vivo na medida dos meus sonhos
Tenho sonhado sempre menos, vivido um pouco mais
A cada passo deixo pelo ar biscoitos e alfazema, não que precise que alguém me busque, mas para saber o caminho, que me chama pelo nome desde pequena, Aquele que sempre me espera retornar
Lágrimas nos olhos de cortar cebola e peito aberto aos sete ventos
No extremo oriente do meu miocárdio
Saudade e vontade dá e passa, e volta, e fica
Minha 3x4 é preto e branca, e lilás
Corto o cabelo e as coisa mudam
Tenho na boca o gosto do teu beijo, isso me alimenta, isso me faz viver
Acordar todos os dias querendo mais da vida, mais de mim, mais de você


Roberta Moura

 


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Remédio para toda dor




Na caixa do amor deveria está escrito:


Cuidado, contagioso
Este material pode provocar reações físico-químicas de grande amplitude
Não ingerir longe de alguém que seja responsável por você
O uso habitual deste produto poderá provocar dependência
Fazer uso diariamente, não há contra-indicação quanto a quantidade no uso periódico
Este material pode gerar vinculação e seu consumo deverá ocorrer conforme prescrição do Grande Médico do coração
Inexiste histórico de pacientes que apresentaram qualquer sinal de hipersensibilidade, ou demais complicações quando em contato com a substância
Não utilizar este medicamento em caso de suspeita de desconfiança, inveja, mal humor, má fé e desonestidade
Este medicamento deverá ser utilizado, no caso de tratamento intensivo, por uma ou mais pessoas ao mesmo tempo
O uso deste remédio deverá ser realizado acompanhado por outro dependente químico que também encontre-se acometido pelo mesmo bem
Não existe prazo de validade para este composto
É indicado para tratamento de todos os tipos de dores
O tratamento exige dedicação intensiva, alimentação balanceada, acompanhada de beijinhos e carinhos
Se persistirem os sintomas de solidão e carência procure já atendimento especializado: O SEU AMOR


Roberta Moura

terça-feira, 21 de junho de 2011

Distribuindo amor




Amor suado amor
Ponta virada para o céu
Cruel e tácita idolatria
Circunflexa e íngreme subida no caminho para felicidade
Tropeço acertado, porta para o infinito
Todo amor é bom, as vezes, maldosos são os sujeitos, da ativa e da passiva
Seus gênios e gêneros, tempo, inação e contratempos
Amor meu grande amor, demore sempre na saída
Busque-me ao seu lado antes de digitar meu nome no Google
Sou o backup real do teu querer
Pise-me, prenda-me, jogue-me no lixo, depois me recicle, só não me subestime
Rimo beijo com mel, conto o tempo com os dedos, te dando um pedaço do meu céu
E tudo que somo é igual a você
Rendo volição ao excêntrico, temo o perfeito, divirto-me com o burlesco
As vezes choro porque tenho vontade, nem sempre com pretexto, nem porque mereço, mas porque não temo as lágrimas que saem, me importo mais com o que de fora recebo
Minha mãe, meu pai, meus filhos e irmãos, tudo isso também é amor
Como poderia esquecer os amigos? Somos essa totalização patética e divertida que preenche os nossos dias e confortam as nossas noites, isso também é amor
Como o moço que passa as tardes trabalhando por puro esmero, como o músico que afina seu instrumento embalando-o em seu colo
Como a cadela que lambe a cria, como o divino bolo preparado pela nossa avó, como as inesquecíveis brincadeiras de infância, a mão que apruma as nossas primeiras letras
Na verdade, um pedacinho só desse sentimento já vale a pena, já germina a expectativa de eternidade
Mansidão no apego, alma límpida, tranquila, serena
O amor não para nunca, como bicicleta ele vai, segura o "selim" para não cair, as vezes na banguela, as vezes em marcha pesada, isso também é amor
Sem recalques e sem juízo, sempre em alerta, sem prejuízos, sempre pronto para adicionar
O amor não tem nome, não tem dono, não tem domínio único
O amado é o símbolo dessa luta, bandeira flamejante, nunca troféu de uma disputa
Esse sentimento foi feito para ser doado, jamais cobrado, nunca desdenhado, sempre e em todas as formas RESPEITADO
Antes de querer alguém para amar é preciso que se saiba doar!




Roberta Moura

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coisa de Gente Grande


Perdoar é divino, esquecer é Alzheimer
Tentarei fazer do meu dia único
Arriscarei meu tempo no ensaio de notá-lo em sua totalidade, como realmente ele merece
Porque o passado já foi e o futuro é algo que, certamente, nunca virá
Tudo o que tenho é o agora
Isso que se chama Presente, “substantivamente”, me parece óbvio
Entretanto, na sua soma torna-se muita coisa, torna-se tudo
Torna-se o que tenho
Ao abrir dos olhos matinal devemos enxergar mais que luzes, novas oportunidades
É a premiação que se recebe por está vivo, uma nova chance de contravir limites
Apartado do ontem, o hoje é algo longe de mais do amanhã
Buscarei a perfeição, já que não posso contar muito com a tal da sorte
Falarei menos e ouvirei mais, como sugere o meu corpo, propiciando-me um par de aparelhos auditivos e apenas uma boca
Tudo que posso fazer para o futuro é jogar em campos férteis as sementes das frutas que quero comer, para que possam crescer com o passar do tempo
Ascendo um tijolo por dia na edificação do meu palácio, sento a mesa e converso com os demais operários, troco experiências, mudo conceitos e roupa a qualquer hora
Não posso me ater a estabelecer PREconceitos
Vivo na culminância desse dia, consumindo tudo o que ele tem para me oferecer
Puxo um bocado de amor do bolso, arremesso no ar com a minha mão direita, tentando acertar
Os dias ficam muito mais bonitos com o colorido do amor, com a sua paciência, sua força, sua cor
Ele se parece com os meus dias, cada um com seu passar, seus passos, sua marcha, sua alegria
O amor preenche as lacunas do vazio que insiste, tantas vezes, invadir os meus momentos
Usando o conceito de igualdade de Aristóteles, arremesso o pensamento em analogia ao amor, tentarei amar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que se desigualem
Sou uma frase cheia de algoritmos, procurando a mais perfeita interpretação
Gramaticalmente programada e incorreta, hermeneuticamente cansada, executando mais que planejando
Na necessidade sou bruta, sorrateiramente calculista, quase sempre sarcástica, as vezes exigente, indubitavelmente pilhérica, nunca desleal
A idade e os meus dentes incisos não me permitem mentir como antes, nem possuir a total pureza de detalhes dos banguelas impúberes, coisa de gente grande
Carrego a responsabilidade que recai sobre o que cativo como verdadeira joia, mesmo que o latão ao qual dedico carinho ainda não tenha pecebido seu real valor
Minhas rugas e as marcas que brotam no meu corpo desenham em mim a estrada do tempo, de sorrisos, de agonias, dos meus mais profundos "ais", traços de uma vida inteira
“...Nem lá, nem lô...”
Vivo no eterno processo de cura, buscando meu lugar, tentando me encontrar
Nas verdades que crio e creio, com um banco do lado sempre vazio, esperando que novas descobertas venham ao meu lado sentar


Roberta Moura








sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre pedras, razão e crianças



Jorra leite e mel
Pedra, a tua cor, pedaço de papel
Cristalino e incandescente vazio
As vezes congelo, noutras apenas sinto frio
Calcário pedaço de solidão
Há males que vem para o bem, me dizem os amigos
Nenhum deles jamais sentiu tamanha paixão
Soro fisiológico, gás lacrimogêneo
Feche a ferida dos meus olhos, cale-me a boca com um beijo
Não consigo viver como deveria, comer como careceria, dormir como necessitaria
Vejo mais do que quero, quase me desespero
Impressas digitais espalhadas pela lousa mágica, sobre as quais não quero me pronunciar, insisto em não ver, em não reconhecer os sinais
Respiro, silencio o ventilador e o telefone
Afano a cabeça da criança que me acompanha, demonstro-lhe meu ar de queixa
Com o rosto mumificado pela lesão, peço que ele me ensine a viver nesse mundo lúdico e pueril, que me tire dessa maldita orbe real dos crescidos
Que me conceda a genialidade da arte pensante do mundo infantil
Que me dê abrigo de mãe, e que minhas lágrimas sejam somente pretexto para um abraço ou um consolo
Acredito que ninguém tem essa tal de razão, que as pedras choram sozinhas porque ninguém as leva para lugar algum
E se elas começassem a rolar, e a girar, e colocasse em pratos limpos tudo que está ao seu alcance, mesmo que assim, se elas o fizesse, ninguém as iria notar
Nasceram e morreram pedras, apenas pedras, nem mais, nem menos que eu e você
Penso sempre mais que posso, dou sempre mais do que tenho a receber
Minha paga não me leva a nada, nada vale tamanha inclinação
Quase sempre me convenço do que preciso, vivo tentando purificar o ar que respiro
Por vezes me canso, sento, sofro, canto
Levanto o braço direito, para ver até onde minha mão alcança, agarro-me no que posso, no real, no que toco, no que reconheço como meu, no que me cabe
Pego o suficiente para esta noite de inferno, de calor tremendo, de ventos alísios que sopram para o norte
Deseje-me ao menos saúde, quisera eu sentir, talvez, um pouco de sorte
Espero sentado o amanhecer desse dia, no lado leste da ribanceira do tempo, aspirando sonhos, engolindo o lamento
Esperançoso e bandido coração arrebatado, de sentimento
Prometo não prometer, não jurar, não julgar, no máximo subverter os sentimentos que me fazem de refém do medo
Amarro as aspas que consigo levar nas costas, solto-as pelos caminhos, em cima do banco da praça, na batida insensata na porta, na madrugada
Esperando que você não esteja mais lá, que tudo não passe de mais um pesadelo místico, desses sonhos que insistem em me torturar

Roberta Moura

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Tempo é Mercurio Cromo



Intangível óvulo da ânsia, que não fecunda em minha teia, que me quer padecer
O tempo é Mercúrio Cromo desses desprazeres da vida, das desavenças, de quem nada tem a oferecer
Como se estivessem sempre um passo a frente, como se o tempo e o espaço conspirasse contra o bel-praze
Solto palavras, distorcidas denuncias que me faz fenecer a alma, a mim e aos olhos sentidos, esperançosos, dos que desejam paz
O tempo passa a ser percebido pelas suas menores unidades, e o universo é pouco para um sistema falho de comunicação, contatos imediatos e coincidências, tão percebidamente provocadas, vilipendiando a inocência de querer contribuir, de quererm compreender
Dizem que no ´sétimo dia tudo estará refeito, o renascimento é o múltiplo da dor do nascimento, de refazer
Pólvora alimentada pela incúria, pelo acometimento, falho ato de guerrilha, desnecessário tiro
Indicador dedo de Cain, puxando o gatilho de seus dissabores contra Abel, cerrados olhos que padecem, desapontados sensos de humanidade, carregando um átrio mal-acabado, atroz torpor do deparo, senha calculada do ofender
Mesmo diante de tanta confusão e asneira, preciso ser sincera em dizer que ainda me choco com a desdenha, com coisas corriqueiras do cotidiano, com certas asneiras
Desnecessárias preces à um deus pagão, vaidoso cálice da mentira, fixado em uma eterna noite, na solidão
Pueril recado, com todo o acaso do desconsolo, com toda minha previsibilidade e integridade burra, com o meu senso inútil de justiça, mais uma vez padecendo sobre a fatuidade de aparecer
É certo pensar que, a mim, nada custaria puxar um tapete barato ou tornar-me cavalo nesse jogo chinfrim de xadrez
Se, apesar do que sou não me elevo a nada, para quem mente assim a alma respira aleivosia, pouco demais para o mundo que quero praticar, e o que ainda tenho para aprender
O que me sanha não são os livros espalhados pela sala, nem o perfume das rosas, pão e sonhos que não sai do meu nariz, o que me rasga a madrugada, o que me esfola a alma é ver meus vestígios, meu nome completo exposto aos sórdidos, coisas minhas, espalhadas pelos becos, completas de meias verdades, ungidas de falsidade, sem maiores contribuições, falidas instituições, sem que possam verdadeiramente me reconhecer
A minha história conto eu, do meu jeito, da forma que eu quero, vestindo o meu personagem predileto, costurando frases e sonhos, inventando poemas e descobrindo fábulas no meu dia-a-dia, sou sim quem quero ser
Nem mesmo uma Helena de Manoel Carlos eu gostaria de equivaler, se essa história não me coubesse, se não fosse minha de fato a foto na revista, se não fosse eu que expusesse nos jornais tudo aquilo que quero fazer
O que todos sabem de mim que só eu não posso saber?
Meus sonhos, desmazelos e desejos, minhas falhas e vontades, coisas que poucos precisam saber
A mim não cabe a acusação ou absolvição desse caso sem veredicto, visto que a mim não cabe o papel de vítima nem de réu, apenas mais uma testemunha dos deleites e desagrados da vida, na tentativa simples de ensinar, contribuir com o pouco que tenho, de tornar-me amigo, de ajudar a evoluir, a crescer

 
Roberta Moura





quarta-feira, 15 de junho de 2011

Que seja assim




Não quero nada além do que o amor pode me proporcionar, eu só quero que ele saiba quando estou com medo e me tome nos braços sem fazer perguntas demais
Que note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta, porque preciso da sua presença, mesmo que seja reclamando
Que ele aceite a minha preocupação e não se irrite com os meus cuidados, e se o meu apreço o incomodar, que ele saiba me alertar da forma mais delicada possível, com bom humor
Que perceba minha fragilidade e não sorria de mim, nem se aproveite disso contando vantagem
E que, ao mesmo tempo, use a minha força quando sentir necessidade
Que me entenda quando falar uma bobagem qualquer, ou outro goste um pouco mais de mim que os demais
Que saiba que de nada adiantaria gastar-me na procura de outra coisa ou sentimento que não ao amor que sinto e tenho para dar
Que se estou apenas cansada, ou aborrecida pelas pequenas coisas do dia-a-dia, não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais
Que o amor saiba o quanto dói à ideia da perda, e ouse ficar apenas mais um pouco comigo
Que não bata a porta que posteriormente tentará arrombar na volta, não que aqui estejam todas as suas verdades, mas talvez, suas certezas
Que esse amor seja o reflexo daquilo que ajudou a transgredir seus medos, a amar mais
Que, se me ver chorar com a intensidade dos últimos tempos, ou sem motivo, depois de um dia daqueles,  não desconfie logo que é o culpado, ou que não o amo mais
Que ele seja meu cúmplice nos bons e maus momentos, sem me fazer alarde, nem diga “eu não disse?!” logo depois que eu tenha pisado na bola
Que quando me ver entusiasmada com algo, não menospreze nem diminua minha expressão, por mais que seja uma bobagem qualquer
Que não queira fechar-se no ciúmes ou por medo de possíveis e necessárias mudanças, que ele saiba o quanto é imenso, e que em tudo que faço existe um pouco dele
Que ao menos tente me entender se disser alguma bobagem na frente de mais alguém sem notar
Que não me exponha na hora da raiva ou me ridicularize, e tenha dentro de si que, o-fazendo, está ridicularizando a si mesmo, por menosprezar um amor que também é sua expressão
Que o seu rosto seja o meu brasão, a pátria que devo defender, que me contém
Que, mesmo que esteja longe, tenha os teus traços a minha lingua, o seu sotaque, a sua dicção
Que, mesmo que eu perca a paciência por um minuto ou um dia, perceba que ao amanhecer tudo já vai ter passado, como sempre, e voltarei a ser a mesma daquelas tardes de primavera, a cada dia o-amando mais
Que reconheça a minha vulnerabilidade e a minha vontade, as minhas fraquezas e minhas glórias
Que me veja tomar uma taça ou um litro de vinho sem me recriminar, porque confia no meu discernimento e sobriedade
Que me ligue só para me desejar uma boa noite, e afaste os monstros notívagos da solidão
Que permita que eu o ame à meu modo, as vezes lúdico, as vezes assustado, as vezes apreensivo, mas sempre nosso
E que ninguém, absolutamente ninguém, posa dizer, criticar, ou algo parecido, porque ninguém além de nós sabe o que se passa por aqui, dentro desse pedaço de miocárdio
Só quero um amor que seja bom para mim, do mesmo modo que me faça melhor por ele
Não precisa ser sobrenatural, milionário ou tudo aquilo que nos ensinam a querer, mas que seja o meu reflexo, meu caminho, meu amigo, meu prazer


Roberta Moura

terça-feira, 14 de junho de 2011

Por David




Sangrar nas palavras me cura, traduzir a dor ocultada, me expor me santifica
Dói, me faz chorar, mas me cura
Gotejo nas letras e músicas, na vida que me cabe, sangro nos dias e escorro dolorosamente nas noites, me entrego com toda a coragem que o trepidar da minha voz esconde
As vezes choro, e esse choro lava a minha alma em pureza, eu retiro o espinho que me dói, ressuscito
Traduzo no meu grito o sentimento de tantos que não tem coragem de sangrar, nesse lugar onde oculto a minha alma para, a coragem me faz arrostar o meu limite e trabalha-lo, onde as sentinelas da alma cochilam as espreitas da vontade, o empenho na vida é exemplo de coragem, expor-se é emenda à bravura
Não sou perfeita, estou por ser feita, em momento assim pertimo-me essa certeza
E a toda hora torno a lembrar, quanto mais me supero, maior a clareza dos meu limites, quanto mais me conheço e a vida, mas vivo os meus sentidos, trangrido-me quando menos espero, quando mais preciso, quando me abro, quando estou sem saídas
Não basta ter força, é preciso ter vontade de aprimorar, ter mais coragem que medo de sofrer
Tantas horas estou crua, sou no couro açoitada, tomando água de sal em pleno sol escaldante, quanto mais assim, menos mortal
As vezes sou chata, as vezes artista, quase sempre introspectiva, mais sempre leal a mim
Permito-me viver a humanidade que me cabe, com erros e acertos, tudo que me vale vale à mim, pela minha humanidade pretendo chegar ao Céu
As duras penas arranco os espinhos, vivo a dor abraçando-a, vivo a vida com a coragem de calar aos surdos, mesmo sabendo que existem palavras que tem o poder de me fazer vazar, liquificar novamente, encharcar o papel que escrevo, dilata meus sentimentos
Reflito que são nessas palavras inconseqüentes que posso enxergar o que antes não poderia ver, daí fecho o que me esvazia, curo-me, mas por Ele que por mim 
A pior ignorância talvez seja essa, de fingir que sabe, de alguém, de alguma coisa, impor limites nos sentimentos alheios, sugerir o insuprível, diminuindo a nossa responsabilidade com os outros com versos antigos, com meia dúzia de palavras ultrapassadas, subestimar o sentimento do outro
O maior ignorante é aquele que finge que sabe, quando na verdade esse fingir é uma saída para bloquear o conhecimento verdadeiro, uma forma de se fechar na sua tão pouca função existencial no mundo, acovarda-se, acaba nem sabendo o quem é
Há tantas situações que nos deixam com o coração na boca, no teclado de um computador, nas cordas de um violão, na voz de uma canção, nas letras escorridas no papel...
Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que nós sabemos que somos
Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura
Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar
Vamos descobrir o que há em nós hoje que pode ser ofertado, assim como o que está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil para superar


Roberta Moura


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Reconstrução


Pálida segunda, nada de primeira para fazer
Reconstruindo um coração partido, juntando cacos provocados pela invídia
Dolorido, cansado, exaurido...
Longas madeixas possui esse cavalo no qual cavalgo para longe, para me recompor
Busco explicações para tamanha injustiça, busco o intangível, algo tão perceptível que me pugna e torna avesso
Tanto que tento viver na retidão, tanto que sonho com e exercício da harmonia, que chego a devanear em um mundo que não existe, além de aqui, dentro de mim
Tanto que aposto que me arrasto nesse mundo execrável
Desprezível sentido
Tem alguém brincando de Deus com as nossas vidas
Recuso-me a aceitar o erro quando tentara, de forma clara, acertar
Pego-me fragilizada, minha humanidade me trai
Tomara que dê logo de cara com O Meu Verdadeiro Senhor
Novamente suporto o silêncio da justiça, nela faço a minha morada
Sempre faço, sempre tento, sempre descaso
Mas por mim que por qualquer um, sempre tento ser melhor
O estômago e o coração calam minha garganta
Tomo, junto com um Chá que me abra a as cordas vocais, minhas taciturnas atitudes, sem estardalhaço, sem provocar mais dor, o cansaço que toma conta de um peito mastigado só não é maior que minha vontade de submergir perante o caos
Tantas vezes quero fazer, noutras não quero nem enxergar, quantas palavras perdidas, soltas, desfilam no vagar das incertezas, procurando alguém para impetrar
Acompanhada de amigos antigos, todos comprando comigo uma boiada
Matando dentro de mim um leão por dia, tentando esquecer o pesadelo dessa madrugada
Amor com amor se paga, se recolhe para hibernar no inverno
Ao suficiente amor, construído sobre colunas fortes da mansidão todo meu calar, todo meu viver, até o novo dia chegar
Teima, sofre, acusa, dói, mas não abre mão de viver em uma fadada expectativa de tranquilidade, que alimenta todo coração “AMAdor”
Busco o mar que leve tudo isso daqui, que me tome nos braços, que me devolva o prometido, que me faça sorrir
Esperando a tormenta e a temporada de caça passar, esperando a temporada das flores
Vivo um dia de cada vez


Roberta Moura


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Oração Pagã

 


O meu pai me pede, à minha mãe eu dou
A minha família eu empresto, com meu avô converso
A minha tia confesso, ao teu olhar me entrego
Arrebento e realizo
Certas vezes não presto... e sempre me pego a pensar
Eu resolvo, detesto, consigo porque almejo, só faço o que quero,
Não temo o retrocesso, nem ao perigo que possa aparecer
Nem a olho gordo, nem a processo, até porque, hoje sou eu que peço
Eu ordeno e ajoelho, quero logo e sem choro
Com garras e mais garrafas de vinho abertas, ando em busca do estouro
Com fé sou o melhor dos humildes, o despercebido cervo triste que apenas na falta é notado
Sou odiada, sou amada, sou cuspida e beijada, sou pisada e carregada, sou feliz e desejada
A única forma de não jazer na insanidade é não reconhecê-la
Quero um colo que me caiba, que me sirva de consolo, que me abrace em matrimônio e me diga o que quer de mim, sem precisar sem meu dono
Tenho tudo, tenho o necessário, tenho madrinha, amores do dia e da madrugada, sendo quem sou não me falta nada
Eu consigo porque Deus quer, eu faço porque Deus manda, e obedeço porque não sou boba
Cada crime duas vítimas, do agente e da passiva
Leio as entrelinhas e tento compreender, parágrafos inteiros, entediado roteiro de quem busca paradigmas para sobreviver
Para quem realiza basta o querer, para quem não faz nada basta desculpas esfarrapadas
Ignoro-as, zombo de seus preceitos, resisto no latifúndio dos meus sonhos, tornando-os ensejos justificáveis, do meu perecer é o consolo
Todo o mal que se faz, logo vem o castigo, é a lei que vai além de concêntricos, Platônicos, ou Hobbes, a lei original do “cíclo vital”, do “retorno”
Mais que Hammurabi, verdadeiramente funcional, porque é Divina, é a vida, cada um carregando a sua sina, seu desejo de ser imortal 

Roberta Moura

terça-feira, 7 de junho de 2011

Até, que, enquanto, durar, o amor...

 


Até que a nova música encha o saco, até que desvende o final de um livro bobo, até que o cheiro do perfume se torne barato, até que o crediário da C&A esteja pago, até que acabe o romance com seu mais novo namorado
...aquele quase eterno e para sempre amor!
Até quando eu pare de perguntar: -até quando isso vai durar?
Até que a chuva chegue no sertão e Lula tenha um dedo mindinho em cada uma das mãos, até que o céu caia como em filmes infantins, vou tentar entender o Caos que é o amor
O céu e o inferno, explícito sentimento
Onde uma ideologia está para Lukacs, o Caos está para James Yorke
Acontecimentos pós acontecimentos, teorias e verdades, nada além de um mundo de sentimentos, perdidos no vazio dessa tarde
Enquanto houver M&M e sorvete de pote, enquanto vender livros baratos de auto ajuda, enquanto cinema for minha maior terapia, enquano tiver preguiça de praticar esportes, enquanto tiver no armário uma garrafa de vinho e uma boa companhia na agenda do telefone, enquanto existir amigos em comum, tentarei apreender
Na verdade, quem precisa de internação sou eu, assim como necessito redigir meu testamento
Enquanto não for ratificado o meu atestado de insensatez, registrado o grito do meu lamento, participo de movimentos de livre expressão como a arte, tento sobreviver enguanto tiver como apoio a maioria dos desesperados, acredito no que vejo, no que sinto, no que conheço, nada além disso, muito além do que mereço
Não acredito que o tempo possa ser manipulado, nem que ele deva se sujeitar a intemperança humana, surtindo com seu passar, os efeitos do parto 
Não somos nós quem temos que dá um tempo a vida, mas a vida, de forma radical ou não, meio que temperamental, vai colocando o tempo em seu devido lugar
Porque, no final, não importa quem se saiu por cima ou quem ficou por baixo, não há vencedores, todos os amores perdidos são perdedores, por terem ambos abandonaram seus senhores


Roberta Moura

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Morando nas Emoções




Caminhando pela vereda da justiça tento pendurar-me aos ensinamentos dos mais velhos
Atravesso a rua só depois de olhar, comungo com a cordialidade, tento viver no máximo minha espiritualidade
Desde menina tento equilibrar-me na minha destemperada alma de artista
Tento viver um dia de cada vez
Espremo-me em palavras e atos de candura, participo dessa evolução como agente ativo
De cara limpa e mãos hábeis, componho intenso rubor nas maçãs e rostos alheios
Embaraçados sinais de “sim, não e talvez”, entrego-me a mera probabilidade
Habito na mais esdrúxula possibilidade de felicidade que possa existir
Apego-me a esperança
Nesse dar de ombros infinito, desconcerto o musical que combóia minha jornada como fundo
Tento acompanhar o rebolado do caminhar da jovem que atrai minha curiosidade, aproximo-me assim que posso
Caminho em sua companhia, estudo seus traços típicos, ativo minha desenvoltura de assimilar
Divirto-me
Feito menino, temo os castigos divinos, alimentados pela tipicidade religiosa da minha educação
Gasto palavras e letras
Não costumo perder tempo, não perco uma noite, um dia se quer com mau humor, com rancores antigos, com malfadadas pragas rogadas
Insisto nas minhas incertezas até que elas tornem-se para mim realidade ou desmereçam minha aposta
Julgo-me insuficiente em saber, preciso de companhias inteligentes, burras, confusas e distintas, para que possa me encontrar
Cato sorrisos que muitas vezes foram atirados ao lixo, sou atraída por histórias de injustiça, embora deteste quem sucessivamente faça uso de ser vitimado
A presunção de inocência me toma e permite que a reconheça de longe
Como quem quer ajeitar, acolho o Réu até que ele seja idoneamente condenado culpado, cumprido o devido processo legal
Pago a pena de viver sendo inteira, sem "meiar" as considerações, sem ser pela metade em sentimentos e atos
Faço diuturnamente o que quero, sempre o que preciso e certas vezes me enxergo cometendo o impossível
Vivo por esses mistérios, agredindo a sanidade do mundo, compelindo sentidos e sentimentos enquanto eles couberem em minha alma
Querendo, conquistando, sendo conquistada
Morando nas emoções

Roberta Moura



sexta-feira, 3 de junho de 2011

A falência das expressões


Contemplando o silêncio questiono a essência das coisas
Apanho pedras que surgem no meu caminho, levo-as para onde vou, carregou-as no bolso direito, para que facilmente possam ser sacadas face a um iminente ataque
Paro e espero o efeito borboleta que a tempos prometera passear no meu jardim
Não tenho muita sorte com coincidências, elas tendem a covardemente incriminar-me
Busco uma verdade perfeita, como nos filmes de Almodovar, com o colorido dos olhares fáceis
A opacidez dos dias me suga, carrega-me em seus braços leves, bolha os meus pensamentos
Vagos relances me distraem, suturo o tempo devorando o trabalho, construindo um império que não me pertence
Duas coisas que detesto perder: tempo e dinheiro
Analiso e reviro papéis, todos entupidos de ausência, cheirando a cobre
Canso-me do mesmo
Encho-me do nada
Emudeço mais uma vez e tento segurar a lágrima sorrateira que tenta brotar dos meus olhos, devolvo-a ao globo ocular, impeço o seu previsível trajeto, me recomponho
Navego no piloto automático
Recuso-me a disfarçar tamanha frustração, não pergunte como foi meu dia
Não pergunte como ele se saiu na avaliação do concurso, não pergunte sobre a prova de vestibular que a moça não obteve êxito, são todas interrogações tolas que não modificarão os resultados
Pelo menos tenho panelas e letras que me servem de abrigo e que me acompanham desde a infância
Será que só eu percebo?
Para onde foi todo mundo?
Existe uma linha tênue entre alguns sentidos, como a sinceridade e a grosseria, entre a verdade, o dolo e a inocência, entre o mero aborrecimento e a injustiça
O silêncio habita em mim, chegou sem pressa de sair, sem querer me deixar, tentando me agradar
Respeito-o, curto-o, calo-me
Assim, poderei observar melhor o que se passa ao meu redor, por alguns instantes sinto-me como figurante desse filme infinito em película de 35 milímetro, com uma direção de gosto duvidoso, mas de roteiro impressionante


Roberta Moura

quinta-feira, 2 de junho de 2011

De volta para o Céu



Viver não teria sentido algum se não existisse a morte para nos remeter a imensidão celeste
Vivemos impregnados de pecados e mazelas, que acompanham essa carapuça carnal que lateja, que fere, que escraviza
A matéria que nos carrega nesse mundo de desespero e pobreza também nos faz, por vezes, padecer em suas pretensões, em seus instintos, aspirações
Cada dia que se passa percebo que pertenço ao céu, tenho saudades de lá
Carrego comigo a certeza de que todo esse plano no qual resido temporariamente também vai passar
Praguejamos a morte como quem lamenta a perda, não percebemos a riqueza da passagem, suas peculiaridades, a fração de segundos que nos difere entre vivos e mortos, estamos presos demais em nosso próprio egoísmo, apenas lamentamos, sentimos, choramos a perda do ente querido
A nossa humanidade nos cativa em sentimentos pormenores, tentando roubar o que pertence a Deus, querendo-nos pelo oposto
Tentando apressar as coisas, esquecemos que tudo acontece no tempo do Senhor, cada folha que cai, cada criança que nasce, cada pessoa que morre, ninguém permanece nessa terra nem um segundo a mais a revelia da vontade do Pai
Nesses momentos sinto o pesar do corpo humano, penso em voltar para casa o quanto antes, medito em sua plenitude, na imensidão da terra prometida, no laço de igualdade e liberdade, em transgredir a materialidade
Não há um só dia em que não me sinta assim, pertencente ao Plano Maior, porque se assim não fizer, minha tendência em fraquejar e tornar-me apenas mais um nesse mundo de lamúrias é inevitável
Não sou mais um, sou um, único, sou de Deus
Contanto as horas, faço do meu anseio a cara da minha interina morada, tento plantar as flores que desejo colher no meu jardim, contribuir para com as pessoas, sentar meu registro nas folhas maculadas da história dessa terra de pouco amor, sobreviver aos impulsos de uma maioria egoísta e imperceptivelmente involuntária, presas em seus pequenos e solitários universos
Sentimentalidade inferior não me agrada, não me convence, não me comove, tento sempre meditar em níveis bem mais elaborados que os que meu corpo ambiciona
Reflito no infinito das almas, no único senso eterno que também concerne aos céus, vivo e sou do Amor
Não falo desse sentimento pequeno que a maioria das pessoas pensam curtir, não essa coisa fantasmagórica que assombra corações, possessiva, não as fantasias emprestadas das novelas de Manoel Carlos
Medito o amor como o único e salvador sentido eterno nessa tal vida terrena
Vivo em um anseio sem tamanho, sem medidas, sem cálculos, sempre acompanhada do perdão, do recomeço, de ensinamentos
Tenho a pretensão de viver de amor, de dar sem medidas, mesmo que isso me traga dissabores temporários, a eternidade me sobra
O exercício da Fé que nos mantém de pé nessa corda bamba diária da vida terrena, protegendo-nos
Atravessamos a vida tomando remédios que nos curam uma doença e desenvolvem outras, correndo de dia e sofrendo nas noites
Trabalhamos cinco de sete dias de uma semana, consumimos demasiadamente os valores que nos vendem, vitimando-nos a dependência de estimas exclusas, sempre precisando de mais, de alguma coisa
Tenho para mim que dormir torna-se um estágio de imprescindível valor, embora passemos um terço das nossas vidas o exercitando, nos possibilita o transporte para outras dimensões, por isso que tudo podemos nos sonhos, por isso que anunciamos nossos desejos como a realização deles
A morte é o traço mais certo que temos na vida, desde o princípio, e assim sempre será, renovando-nos a plenitude de Deus, caminhando para a iluminação eterna, voltando para casa, de volta para o céu


Roberta Moura

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Nada é igual a Festa Junina do meu Litoral



Bate a chuva no solo fértil, quente e úmido do nosso litoral
Cheiro de terra encharcada, brisa fina e fria que corta a madrugada
É chegado o tempo de colheita, do milho verde e da pamonha
É mês de folia nesses corações nordestinos, é chegado o São João, e o nosso Litoral guarda consigo um “quê” de ternura nesse limiar festivo, que invade nossas almas, que nos convoca por esse enorme prazer de sermos anfitriões
Nordestinos com orgulho, de prego batido e ponta virada
Acende a fogueira e esquenta nossas madrugadas
Sopra à sonância do açoite no bumbo de couro, nos oito tons do fole furado, na voz mansa do cantor sorridente, nas cantigas do Mestre Luiz Gonzaga, harmonicamente sincronizadas
Lampião aceso de contentamento, o sanfoneiro puxa um “Dó”, o povão some na cortina de poeira e no perfume do eucalipto amassado no chão de barro pisado
Salve o São João do meu Litoral “Alumiado”!
A aldeia festeja o balão que sobe, o foguetão que abre um clarão, guri correndo do “mijão”, “chuveirinho” e “rojão”, chapéu de palha, faz barulho o “peito de véia” para acordar o menino João, fazendo espalhar cores no céu, rompendo a imensidão
Tem parque na praça, pirulito na tábua, rolete de cana, roda gigante, bozó na barraca, pescaria no pó de serra, quermesse, jogo de argola, novena, o “bebinho” dançando e tomando cachaça, a preguiça pendurada de ponta cabeça no pé de figo fazendo graça, e um montão de quitutes para saborear
É assim que agente “se ajunta”
Amigos em frente de casa, a fogueira de “Seu Nelson” torrando em glória na Rua da Vitória, cadeira de balanço na calçada, quentão e milho assado, pinga gelada, merenda no prato e as meninas cobiçando namorado
Na Praça João Pessoa o lendário “Bar de Biba” diuturnamente abre as portas, tripinha assada, fava e cerveja gelada, servindo de parada obrigatória para los hermanos que aqui chegar, saudosos desse torrão fascinante, trazendo consigo o desejo de celebrar conosco o reencontro, histórias de nossa mocidade, de quem ama de verdade a terra mater , célula da nossa identidade
Filhos da minha terra, testemunhas da adolescência, que se desperta e renova a todo tempo, da brincadeira ingênua e significante gravada na nossa essência
A casa fica pequena de tanta gente que se “aprochega”, querendo viver nosso sonho junino, querendo rever os amigos de quando meninos, gente de perto, de junto, de longe, que achega de espírito hiante ao toque da nossa fraternidade
Aqui sempre cabe mais um, desde que venha para brincar de roda, dançar quadrilha, vestir xadrez, cantar uma bela cantiga e brindar com o cálice do nosso sossego
Curtir na boa esses nordestinhos afoitos, de sorriso largo, de braços soltos, sempre prontos para mais um abraço apertado, para receber os queridos e até mesmo os futuros amigos, para fazer flamejar o cerne de “ajuntar” que plaina no nosso particular
Quero mais é me esbaldar, na festa da Rua do Tambor, nas Cinco Ruas, no Aristides, em Jaraguá, arrastar chinelo até o sanfoneiro cochilar
Topar com esse povo amado, trocar com meu visinho um prato de canjica, jogar conversa fora, esperar o dia raiar escutando uma moda de viola, enquanto a brasa da fogueira sopra no vento e mistura-se com a relva branca e pacífica do prelúdio, expulsando a noite, esperando um novo dia chegar
Esse é o nosso Litoral, nosso São João sem igual, nosso Lugar
Pode vir que a festa é nossa, vamos chegando de mansinho, com jeitinho matuto de quem não quer nada, mas tem muita amizade para dar
Estaremos prontos para te receber, para deixar essa magia encantadora nos adotar
É festa no meu interior, dentro de nós, de mim e dentro de você, é só permitir-se deixar-se levar

Roberta David