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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

De volta para o Céu



Viver não teria sentido algum se não existisse a morte para nos remeter a imensidão celeste
Vivemos impregnados de pecados e mazelas, que acompanham essa carapuça carnal que lateja, que fere, que escraviza
A matéria que nos carrega nesse mundo de desespero e pobreza também nos faz, por vezes, padecer em suas pretensões, em seus instintos, aspirações
Cada dia que se passa percebo que pertenço ao céu, tenho saudades de lá
Carrego comigo a certeza de que todo esse plano no qual resido temporariamente também vai passar
Praguejamos a morte como quem lamenta a perda, não percebemos a riqueza da passagem, suas peculiaridades, a fração de segundos que nos difere entre vivos e mortos, estamos presos demais em nosso próprio egoísmo, apenas lamentamos, sentimos, choramos a perda do ente querido
A nossa humanidade nos cativa em sentimentos pormenores, tentando roubar o que pertence a Deus, querendo-nos pelo oposto
Tentando apressar as coisas, esquecemos que tudo acontece no tempo do Senhor, cada folha que cai, cada criança que nasce, cada pessoa que morre, ninguém permanece nessa terra nem um segundo a mais a revelia da vontade do Pai
Nesses momentos sinto o pesar do corpo humano, penso em voltar para casa o quanto antes, medito em sua plenitude, na imensidão da terra prometida, no laço de igualdade e liberdade, em transgredir a materialidade
Não há um só dia em que não me sinta assim, pertencente ao Plano Maior, porque se assim não fizer, minha tendência em fraquejar e tornar-me apenas mais um nesse mundo de lamúrias é inevitável
Não sou mais um, sou um, único, sou de Deus
Contanto as horas, faço do meu anseio a cara da minha interina morada, tento plantar as flores que desejo colher no meu jardim, contribuir para com as pessoas, sentar meu registro nas folhas maculadas da história dessa terra de pouco amor, sobreviver aos impulsos de uma maioria egoísta e imperceptivelmente involuntária, presas em seus pequenos e solitários universos
Sentimentalidade inferior não me agrada, não me convence, não me comove, tento sempre meditar em níveis bem mais elaborados que os que meu corpo ambiciona
Reflito no infinito das almas, no único senso eterno que também concerne aos céus, vivo e sou do Amor
Não falo desse sentimento pequeno que a maioria das pessoas pensam curtir, não essa coisa fantasmagórica que assombra corações, possessiva, não as fantasias emprestadas das novelas de Manoel Carlos
Medito o amor como o único e salvador sentido eterno nessa tal vida terrena
Vivo em um anseio sem tamanho, sem medidas, sem cálculos, sempre acompanhada do perdão, do recomeço, de ensinamentos
Tenho a pretensão de viver de amor, de dar sem medidas, mesmo que isso me traga dissabores temporários, a eternidade me sobra
O exercício da Fé que nos mantém de pé nessa corda bamba diária da vida terrena, protegendo-nos
Atravessamos a vida tomando remédios que nos curam uma doença e desenvolvem outras, correndo de dia e sofrendo nas noites
Trabalhamos cinco de sete dias de uma semana, consumimos demasiadamente os valores que nos vendem, vitimando-nos a dependência de estimas exclusas, sempre precisando de mais, de alguma coisa
Tenho para mim que dormir torna-se um estágio de imprescindível valor, embora passemos um terço das nossas vidas o exercitando, nos possibilita o transporte para outras dimensões, por isso que tudo podemos nos sonhos, por isso que anunciamos nossos desejos como a realização deles
A morte é o traço mais certo que temos na vida, desde o princípio, e assim sempre será, renovando-nos a plenitude de Deus, caminhando para a iluminação eterna, voltando para casa, de volta para o céu


Roberta Moura

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