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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Por David




Sangrar nas palavras me cura, traduzir a dor ocultada, me expor me santifica
Dói, me faz chorar, mas me cura
Gotejo nas letras e músicas, na vida que me cabe, sangro nos dias e escorro dolorosamente nas noites, me entrego com toda a coragem que o trepidar da minha voz esconde
As vezes choro, e esse choro lava a minha alma em pureza, eu retiro o espinho que me dói, ressuscito
Traduzo no meu grito o sentimento de tantos que não tem coragem de sangrar, nesse lugar onde oculto a minha alma para, a coragem me faz arrostar o meu limite e trabalha-lo, onde as sentinelas da alma cochilam as espreitas da vontade, o empenho na vida é exemplo de coragem, expor-se é emenda à bravura
Não sou perfeita, estou por ser feita, em momento assim pertimo-me essa certeza
E a toda hora torno a lembrar, quanto mais me supero, maior a clareza dos meu limites, quanto mais me conheço e a vida, mas vivo os meus sentidos, trangrido-me quando menos espero, quando mais preciso, quando me abro, quando estou sem saídas
Não basta ter força, é preciso ter vontade de aprimorar, ter mais coragem que medo de sofrer
Tantas horas estou crua, sou no couro açoitada, tomando água de sal em pleno sol escaldante, quanto mais assim, menos mortal
As vezes sou chata, as vezes artista, quase sempre introspectiva, mais sempre leal a mim
Permito-me viver a humanidade que me cabe, com erros e acertos, tudo que me vale vale à mim, pela minha humanidade pretendo chegar ao Céu
As duras penas arranco os espinhos, vivo a dor abraçando-a, vivo a vida com a coragem de calar aos surdos, mesmo sabendo que existem palavras que tem o poder de me fazer vazar, liquificar novamente, encharcar o papel que escrevo, dilata meus sentimentos
Reflito que são nessas palavras inconseqüentes que posso enxergar o que antes não poderia ver, daí fecho o que me esvazia, curo-me, mas por Ele que por mim 
A pior ignorância talvez seja essa, de fingir que sabe, de alguém, de alguma coisa, impor limites nos sentimentos alheios, sugerir o insuprível, diminuindo a nossa responsabilidade com os outros com versos antigos, com meia dúzia de palavras ultrapassadas, subestimar o sentimento do outro
O maior ignorante é aquele que finge que sabe, quando na verdade esse fingir é uma saída para bloquear o conhecimento verdadeiro, uma forma de se fechar na sua tão pouca função existencial no mundo, acovarda-se, acaba nem sabendo o quem é
Há tantas situações que nos deixam com o coração na boca, no teclado de um computador, nas cordas de um violão, na voz de uma canção, nas letras escorridas no papel...
Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que nós sabemos que somos
Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura
Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar
Vamos descobrir o que há em nós hoje que pode ser ofertado, assim como o que está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil para superar


Roberta Moura


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