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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre pedras, razão e crianças



Jorra leite e mel
Pedra, a tua cor, pedaço de papel
Cristalino e incandescente vazio
As vezes congelo, noutras apenas sinto frio
Calcário pedaço de solidão
Há males que vem para o bem, me dizem os amigos
Nenhum deles jamais sentiu tamanha paixão
Soro fisiológico, gás lacrimogêneo
Feche a ferida dos meus olhos, cale-me a boca com um beijo
Não consigo viver como deveria, comer como careceria, dormir como necessitaria
Vejo mais do que quero, quase me desespero
Impressas digitais espalhadas pela lousa mágica, sobre as quais não quero me pronunciar, insisto em não ver, em não reconhecer os sinais
Respiro, silencio o ventilador e o telefone
Afano a cabeça da criança que me acompanha, demonstro-lhe meu ar de queixa
Com o rosto mumificado pela lesão, peço que ele me ensine a viver nesse mundo lúdico e pueril, que me tire dessa maldita orbe real dos crescidos
Que me conceda a genialidade da arte pensante do mundo infantil
Que me dê abrigo de mãe, e que minhas lágrimas sejam somente pretexto para um abraço ou um consolo
Acredito que ninguém tem essa tal de razão, que as pedras choram sozinhas porque ninguém as leva para lugar algum
E se elas começassem a rolar, e a girar, e colocasse em pratos limpos tudo que está ao seu alcance, mesmo que assim, se elas o fizesse, ninguém as iria notar
Nasceram e morreram pedras, apenas pedras, nem mais, nem menos que eu e você
Penso sempre mais que posso, dou sempre mais do que tenho a receber
Minha paga não me leva a nada, nada vale tamanha inclinação
Quase sempre me convenço do que preciso, vivo tentando purificar o ar que respiro
Por vezes me canso, sento, sofro, canto
Levanto o braço direito, para ver até onde minha mão alcança, agarro-me no que posso, no real, no que toco, no que reconheço como meu, no que me cabe
Pego o suficiente para esta noite de inferno, de calor tremendo, de ventos alísios que sopram para o norte
Deseje-me ao menos saúde, quisera eu sentir, talvez, um pouco de sorte
Espero sentado o amanhecer desse dia, no lado leste da ribanceira do tempo, aspirando sonhos, engolindo o lamento
Esperançoso e bandido coração arrebatado, de sentimento
Prometo não prometer, não jurar, não julgar, no máximo subverter os sentimentos que me fazem de refém do medo
Amarro as aspas que consigo levar nas costas, solto-as pelos caminhos, em cima do banco da praça, na batida insensata na porta, na madrugada
Esperando que você não esteja mais lá, que tudo não passe de mais um pesadelo místico, desses sonhos que insistem em me torturar

Roberta Moura

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