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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Nada é igual a Festa Junina do meu Litoral



Bate a chuva no solo fértil, quente e úmido do nosso litoral
Cheiro de terra encharcada, brisa fina e fria que corta a madrugada
É chegado o tempo de colheita, do milho verde e da pamonha
É mês de folia nesses corações nordestinos, é chegado o São João, e o nosso Litoral guarda consigo um “quê” de ternura nesse limiar festivo, que invade nossas almas, que nos convoca por esse enorme prazer de sermos anfitriões
Nordestinos com orgulho, de prego batido e ponta virada
Acende a fogueira e esquenta nossas madrugadas
Sopra à sonância do açoite no bumbo de couro, nos oito tons do fole furado, na voz mansa do cantor sorridente, nas cantigas do Mestre Luiz Gonzaga, harmonicamente sincronizadas
Lampião aceso de contentamento, o sanfoneiro puxa um “Dó”, o povão some na cortina de poeira e no perfume do eucalipto amassado no chão de barro pisado
Salve o São João do meu Litoral “Alumiado”!
A aldeia festeja o balão que sobe, o foguetão que abre um clarão, guri correndo do “mijão”, “chuveirinho” e “rojão”, chapéu de palha, faz barulho o “peito de véia” para acordar o menino João, fazendo espalhar cores no céu, rompendo a imensidão
Tem parque na praça, pirulito na tábua, rolete de cana, roda gigante, bozó na barraca, pescaria no pó de serra, quermesse, jogo de argola, novena, o “bebinho” dançando e tomando cachaça, a preguiça pendurada de ponta cabeça no pé de figo fazendo graça, e um montão de quitutes para saborear
É assim que agente “se ajunta”
Amigos em frente de casa, a fogueira de “Seu Nelson” torrando em glória na Rua da Vitória, cadeira de balanço na calçada, quentão e milho assado, pinga gelada, merenda no prato e as meninas cobiçando namorado
Na Praça João Pessoa o lendário “Bar de Biba” diuturnamente abre as portas, tripinha assada, fava e cerveja gelada, servindo de parada obrigatória para los hermanos que aqui chegar, saudosos desse torrão fascinante, trazendo consigo o desejo de celebrar conosco o reencontro, histórias de nossa mocidade, de quem ama de verdade a terra mater , célula da nossa identidade
Filhos da minha terra, testemunhas da adolescência, que se desperta e renova a todo tempo, da brincadeira ingênua e significante gravada na nossa essência
A casa fica pequena de tanta gente que se “aprochega”, querendo viver nosso sonho junino, querendo rever os amigos de quando meninos, gente de perto, de junto, de longe, que achega de espírito hiante ao toque da nossa fraternidade
Aqui sempre cabe mais um, desde que venha para brincar de roda, dançar quadrilha, vestir xadrez, cantar uma bela cantiga e brindar com o cálice do nosso sossego
Curtir na boa esses nordestinhos afoitos, de sorriso largo, de braços soltos, sempre prontos para mais um abraço apertado, para receber os queridos e até mesmo os futuros amigos, para fazer flamejar o cerne de “ajuntar” que plaina no nosso particular
Quero mais é me esbaldar, na festa da Rua do Tambor, nas Cinco Ruas, no Aristides, em Jaraguá, arrastar chinelo até o sanfoneiro cochilar
Topar com esse povo amado, trocar com meu visinho um prato de canjica, jogar conversa fora, esperar o dia raiar escutando uma moda de viola, enquanto a brasa da fogueira sopra no vento e mistura-se com a relva branca e pacífica do prelúdio, expulsando a noite, esperando um novo dia chegar
Esse é o nosso Litoral, nosso São João sem igual, nosso Lugar
Pode vir que a festa é nossa, vamos chegando de mansinho, com jeitinho matuto de quem não quer nada, mas tem muita amizade para dar
Estaremos prontos para te receber, para deixar essa magia encantadora nos adotar
É festa no meu interior, dentro de nós, de mim e dentro de você, é só permitir-se deixar-se levar

Roberta David

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