Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.
Todos
esperam que passe a agonia, noites quentes, tardes com pés e mãos frias, peito
apertado e cabeça de liquidificador
Parecem
felizes na fotografia, o corpo já não age como antigamente
E hoje,
naquele instante, me parece meio doente, com um sorriso amarelo de quem quer
ser inocente
Só se eu
fosse demente, para não abrir o armário e expulsar esse percevejo voador
O filme,
quando revelado, não é tão bonito assim
Confusões
no gravador desconcertam as certezas outrora juradas
Quando me
lembro, me descubro vivendo os dias que me juraram ser dourados
Latão vale
mais que alumínio acobreado, porque o primeiro existe e insiste de fato, já o segundo não
passa de uma invenção do diabo para enganar a boa fé
Espalham
fatos e histórias que não foram, nem de longe, vividos com tamanha intenção
Hoje não
tem discussão, nada é tão importante assim
Apesar de
hoje, ter essa carga sangrenta nos meus olhos, consigo enxergar que amanhã há
de ser outro dia
Torço para
desentortar
Nem que
seja o sorriso na minha boca cheia de dentes, e a parte direita do meu rosto
que não para de trepidar
Quando
chegar o momento, vou cobrar com juros os lucros desse meu sofrimento
Quero
desinventar a ressaca constante que se instalou nos meus olhos
Amanhã vou
tentar me reconquistar e dar valor ao céu que aprendi a querer bem
Me entalo
com pão enquanto vejo o que acontece no templo de salomão
Enchem a
igreja de pessoas, oram para não chegar as suas horas, mas não procuram a
solução
Ao tempo
que voltam para suas casas, não respeitam a palavra minutos antes professada,
esculhambam mãe e pai, aos irmãos não pedem perdão
Não tem
paciência com o tempo, parecem não sentir o lamento, alimentam ainda mais as
suas dores, a aflição
Fico por
aqui cantando e catando seus cacos, seus desagrados, palavras fortes de quem
não sabe pedir socorro ou chorar a sua descendente solidão
Templos e
casas cheias de fantasias, mas no peito, no cerne da questão, habitam
personagens assustados, covardes, e por vezes frios
Com o
passar do tempo vai gastando esse status de personalidade difícil e revelar o
que deveras sempre foi, alguém que covardemente grita para espantar a sua
fraqueza e a sua incapacidade de acolher e de procurar solução, sempre deixando
nas mãos dos outros, sempre responsabilizando o alheio e deixando a vida para
depois
Não
esqueçamos que esse lance de solução é daqueles que de fato resolvem os
problemas, diferente daqueles que somente comentam o que “deveria ser feito” e
não pegam no cabo da inchada para semear a solução
É um lance
bem mais profundo que o simples e covarde “comentário”, que quer ter uma
validade que não lhe merece
Até porque,
nessa altura do campeonato, quem me chegar para representar esse tipo de prosa,
não vale mais que um punhado de bosta, porque comentar o problema sem solução
já é fazer parte dele seu cagão
Vou
esperar... estou esperando, enquanto contemplo o embranquecer dos meus cabelos
e envelheço o gosto do vinho nas papilas
Confiando
na providência, tomando vergonha na cara, me livrando dos ansiolíticos o quanto
posso, como do refrigerante sabor Cola
Deixa
chegar a hora, por enquanto o meu rosto diz que sim, e o meu peito ainda não