Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

"Çei"


Pode me chamar de assassina
Se querer matar o seus pesadelos forem os meus crimes
Quantos lados tem essa história?
Eu já nem sei mais contar
Nem o tempo, nem as parábolas que nos definem
Nada mais me abala nessa altura  da caminhada
Foge para meus braços porque não tem mais alternativas
Feito uma serviçal abro minha alma, meu peito, meus sentidos
Que imaturidade essa minha, que desejo pela melancolia
Sai e volta como bem quer
Veste essas roupas sob meu olhar crítico e sabe o que provoca
Vive buscando sucesso e dinheiro
Tão escravo quanto eu aos seus pés
Coitado, chego a ter dó
Maior que isso só o meu desejo por seus beijos, minha ânsia em ser sua
Faço que não entendo, me finjo de burra, deixo sobressair
Ai de mim se descobre quem sou
Perderia minha privilegiada posição de santa, subserviente e inofensiva amante


Roberta Moura


Jure que não



Parece dezembro de um ano inteiro que não tem fim
Todos esperam que passe a agonia, noites quentes, tardes com pés e mãos frias, peito apertado e cabeça de liquidificador
Parecem felizes na fotografia, o corpo já não age como antigamente
E hoje, naquele instante, me parece meio doente, com um sorriso amarelo de quem quer ser inocente
Só se eu fosse demente, para não abrir o armário e expulsar esse percevejo voador
O filme, quando revelado, não é tão bonito assim
Confusões no gravador desconcertam as certezas outrora juradas
Quando me lembro, me descubro vivendo os dias que me juraram ser dourados
Latão vale mais que alumínio acobreado, porque o primeiro existe e insiste de fato, já o segundo não passa de uma invenção do diabo para enganar a boa fé
Espalham fatos e histórias que não foram, nem de longe, vividos com tamanha intenção
Hoje não tem discussão, nada é tão importante assim
Apesar de hoje, ter essa carga sangrenta nos meus olhos, consigo enxergar que amanhã há de ser outro dia
Torço para desentortar
Nem que seja o sorriso na minha boca cheia de dentes, e a parte direita do meu rosto que não para de trepidar
Quando chegar o momento, vou cobrar com juros os lucros desse meu sofrimento
Quero desinventar a ressaca constante que se instalou nos meus olhos
Amanhã vou tentar me reconquistar e dar valor ao céu que aprendi a querer bem
Me entalo com pão enquanto vejo o que acontece no templo de salomão
Enchem a igreja de pessoas, oram para não chegar as suas horas, mas não procuram a solução
Ao tempo que voltam para suas casas, não respeitam a palavra minutos antes professada, esculhambam mãe e pai, aos irmãos não pedem perdão
Não tem paciência com o tempo, parecem não sentir o lamento, alimentam ainda mais as suas dores, a aflição
Fico por aqui cantando e catando seus cacos, seus desagrados, palavras fortes de quem não sabe pedir socorro ou chorar a sua descendente solidão
Templos e casas cheias de fantasias, mas no peito, no cerne da questão, habitam personagens assustados, covardes, e por vezes frios
Com o passar do tempo vai gastando esse status de personalidade difícil e revelar o que deveras sempre foi, alguém que covardemente grita para espantar a sua fraqueza e a sua incapacidade de acolher e de procurar solução, sempre deixando nas mãos dos outros, sempre responsabilizando o alheio e deixando a vida para depois
Não esqueçamos que esse lance de solução é daqueles que de fato resolvem os problemas, diferente daqueles que somente comentam o que “deveria ser feito” e não pegam no cabo da inchada para semear a solução
É um lance bem mais profundo que o simples e covarde “comentário”, que quer ter uma validade que não lhe merece
Até porque, nessa altura do campeonato, quem me chegar para representar esse tipo de prosa, não vale mais que um punhado de bosta, porque comentar o problema sem solução já é fazer parte dele seu cagão
Vou esperar... estou esperando, enquanto contemplo o embranquecer dos meus cabelos e envelheço o gosto do vinho nas papilas
Confiando na providência, tomando vergonha na cara, me livrando dos ansiolíticos o quanto posso, como do refrigerante sabor Cola
Deixa chegar a hora, por enquanto o meu rosto diz que sim, e o meu peito ainda não




Roberta Moura