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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Paz no Olhar




"Solidão é larva que cobre tudo, amor puro em minha boca, sorri seus dentes de chumbo..." (Mariza Monte)

Remexo as mãos que não temem em desembaraçar seus cabelos
Não param, arrepiam meus mais distintos pelos, abana minha cara ao acordar do pesadelo
Aparta-te de mim solidão, vai-te embora
Toma o teu rumo e leva contigo essa demora
Já é chegada a hora dos meus ais ganharem fôlego
Tomam o mais puro ar os meus cansados pulmões
Tomo a tua voz doce e rouca como o meu mais fúlgido esmero
Acalma a minha latente opressão 
Cai sobre os meus ombros o cansaço dessas coisas que o destino escolheu para mim
O que fazer, se nascer já é um risco sem fim?
Não teremos certezas, não teremos sempre a vitória
Levaremos no peito as marcas de diversas histórias
Construiremos o nosso castelo mais de lutas que de glórias
Tomamos nossos rumos, uns juntando, outros separando
Contemplando o paralelo do tempo e de um semblante que tende a perecer, que esperançoso, cogita ser chegada a nossa hora
Fica o recado, grudado na porta da geladeira, na penteadeira, no celular
Na jóia cara ganhada na data marcada, no ceticismo cego da fidelidade, na jornada, no olhar
Com o passar dos dias passamos a desacreditar em quase tudo, em quase todos
Com o crescer dos dentes, passamos a desconfiar, a trair, a nos entregar...
...e sempre queremos mais desse mundo, que ajudamos a criar
Porque a solidão é a larva que cobre tudo
Remexemos as mãos e as cadeiras, na busca incessante da paz encontrada, durante toda uma vida, apenas em um único olhar 


Roberta Moura


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Minha Olinda Sem Igual




Lá vem ele
Lá vem, se enxerindo para mim
Já chegou, chegou, chegou, chegou...
É o tal do fevereiro!
É Carnaval meu amor!
Passamos os outros onze meses em contagem regressiva
E ele chega sorrateiro, trazendo consigo todo esse ar de liberdade e frenesi
Vai dando um frio na espinha, suor nas mãos, palpitação
No meu palpite, esse ano será melhor que o passado, assim como foi o do ano passado
Vai subindo as ladeiras, vai correndo atrás do povo
Alegria, alegria, quero tudo isso de novo!
- Mas você não tem jeito não! Gritam as Lordácias, com toda a força que transpira desse corpo pluri-subjetivo
A cada ano mais amigos, fechamos o trato e o quadrilátero central das apertadas ruas com coleguismo
Sem brigas, sem mágoas, todos fazendo parte da turma do para com isso
Olinda é minha casa, onde mora a alegria
Espero o ano todo para vestir essa doce fantasia
Faz festa o meu querer, brinda a minha alma que transborda a sua melhor alegoria
Nosso senário é “Os Quatro Cantos”
Cantamos num só couro essa canção
Com o soar das Pitombeiras, com o Elefante que esmaga nossas angustias
Deixo que o Patusco ritime meu coração
Com as batidas fortes e vibrantes desce a misericórdia as Sambadeiras, faz folia no meu peito, animando a incansável multidão  
Olinda, és minha menina, meu suor mais caliente, meu instante de torpor
Onde acenamos desentoados e embriagados por toda essa harmonia
Ensaiamos um velho canto novo, na mais bela simetria
Te cantarei, te escreverei, jamais te expressarei como mereces, com tamanha presteza, com exatidão
Mas confesso que quando piso nesse solo abençoado, meu cerne bate no compasso marcado do coco, da ciranda, do frevo, do maracatu e do congado
Percebo que isso tudo é bem maior do que eu sou
É o povo tomando conta do que é seu
Construindo a festa mais bonita do nosso país, dando o melhor de si
Sou grata, por fazer parte dessa democracia
Onde menino se faz homem carregando um boneco nas costas, onde a cerveja é a mais barata e gelada, onde o que você veste não interessa
Onde Beijar na boca e festejar é o que importa
Porque não há ninguém no mundo que pouse nas tuas asas e diga que não foi feliz  
Lágrimas nos olhos ao lembrar, o que é isso? É o meu carnaval!
Salve, salve!
Minha Olinda sem igual!


Roberta Moura


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A marca






Deitada em seu colo sou exclusiva
Uma só, toda
Tomou minha boca com palavras de fogo
Chegou como quem não quer nada e ficou
Selou-me o coração cicatrizado  
Pois em minhas mãos a espada da justiça
E na minha boca uma faca de dois gumes
Me fez cravar os dentes, falar de boca fechada
Deu-me pulsos fortes e pernas para correr atrás
Discernimento para desvendar
Força para recomeçar, sempre
Fez-me confiante, me deu o dom de confiar, consecutivamente
Não existem falhas, nem equívocos
Tudo milimetricamente pensado, executado
Medidos com compasso e esquadro
Dobrou por diversas vezes o meu orgulho
Fez-me parecer por vezes insana
Que loucura!
Que loucura é essa que me enche de certezas?
Criou-me para a guerra
Guerreira eu sou
Pois não há paz que não preceda a luta
Matando um leão a cada dia
Eu nunca vi um escolhido sucumbir
Tenho dito, certamente não verei jamais
A história não acaba aqui!

Roberta Moura