Quem sou eu

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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dentro do copo, dentro de mim



Como o a cobrar que bate e volta
Como os navios que me ligam com o resto do mundo
Como do mínio hispânico na minha boca
Pagina de diário virada, e marcada para voltar e contar o resto da história
O início, não mais que o início, já passa do meio e nada tem fim
Como um peru que espera o natal pra morrer
Como a certeza da vida e do depauperamento, eu existo
Olho para dentro, no copo nada mais que palavras soltas, total semelhança comigo será verdade
Deixo em cartas, mensagens e desejo de compartilhamento vestígios de amor
Olho para a lua e para cidade acessa sob minha cabeça, e nos livros que leio, nas letras que expresso, na xícara de café amargo...
...em tudo o amor consegue tomar um lugar em mim
No meu silêncio, no meu desapego, na minha nitidez
Amo tanto e por tanto amar digo que nada sei sobre o amor
Amo tanto que consigo achar qualquer coisa bonita
Amo tanto que transbordo na amplitude do meu silêncio, me afogo na continência, me apego nas cenas e frascos vazios de vinho e de perfume que ensistem tomar conta de mim

Roberta Moura

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cenas de Um Caravaggio



Ela sofreu e chorou as dores do apego, quis não ver o mar que lhe engolia
Quis não receber no colo o calor que lhe explodia
Da vontade, do gosto saudoso dos beijos hábeis, viventes, ardentes
Ela se julga amada por muito e vividas por pouco, levianamente compreendida
Quase sempre, brevemente feliz

Ela dança e rodopia nas vidas que insiste em invadir, grita nos ouvidos bobos, refresca a vida e escalda sonhos
Ela teima e enfrenta o mundo ao som dos gemidos tímidos, alimentando o seu libido inefável, buscando a caça diária, a próxima vítima de amor
A espreita de novos sorrisos, buscando luz, onde muitas vezes não existe vida, não existe nada, ela também passa a não existir 

Toma em suas mãos e entorna uma garrafa de vinho seco, degusta-o em sua saliva perene o resto do torpor que envolve duas vidas
Ela enfeita a cara e a cama, à espera do que vier
Espetáculo de vida, cena de um Caravaggio
Toca seu violão feito o corpo do amado, com presteza e atenção, como se fosse dela
Como fosse um parque, ela passeia pelas curvas do amor, descansa e retorna aos sonho
Ela valsa até o sol tomar posse da madrugada

Já viu o período do impróprio, viveu a era do não pode, e deixou-o passar como quem espera um transporte, como quem espera para mudar de calçada
Porque não dizer, que ela espremeu o tempo como se tivesse controle sobre a ampulheta da vida



Roberta Moura

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lágrimas nos olhos de cortar cebola



Tô fazendo o meu futuro pregada ao passado
Do norte à cidade grande
Extremo Oriente traçante que inebria meu destino  
Lágrimas nos olhos de cortar cebola e um único peito aberto, aos sete ventos
Ponto Sul do Continente, eu nem percebo o tempo e as placas se moverem
Saudade e vontade dá e passa, e volta, e fica
Minha 3x4 é preto e branca e lilás
Corto o cabelo e as coisa mudam
Tenho na boca o gosto do teu beijo, isso me faz viver
Acordar todos os dias e querer mas da vida, mais de mim, mais de você

Roberta Moura

terça-feira, 7 de dezembro de 2010



Meu coração lateja à 4.000 km de distância, por horas
Meus sentidos, meus ouvidos e tudo mais em mim escutam e desejam a tua voz
Segredo guardado no peito e a bela da tarde não mas quer despertar
Sinto o cheiro da saudade no ar
E ela quase me sufoca com o torpor do descontentamento
Essas letras acompanhadas e banhadas de choro e sorrisos, reveladas por doses generosas de absinto
Na contemplação de um momento, uma música aos meu ouvidos, sentidos e sentimentos aguçados e açucarados
E eu sei que o que você mais quer é ter-me em teus braços
E, por em quanto?
Apenas torrões de açúcar me acompanham
Quanto tempo antes da próxima tempestade de lua? De dia, de noite, na madrugada, as 15:23 da tarde
O sol é o mesmo em qualquer lugar desses trópicos
Acompanha, aconselha e guarda dos maus olhados
Amor, amor, grande e eterno amor
Forte e inconseqüente
Gracioso, passeia sob as pupilas dos meus sonhos
Verdadeiro, grita aos meus tímpanos, fugas
Infantilmente foge, se esconde e chora as mágoas de uma vida bandida, que escolhe a cada dia para si
Seu destino, seu desenho, o seu corpo casado com o meu desde o princípio,
Desde sempre os primeiros traços de amor
Você escolhe, você sabe o que é melhor, e o que é essencial pra sua existência
Meu perfume é o mesmo, meus olhos nem tanto, minhas palavras bem mais soltas, minha sina a mesma

Roberta Moura

Comunicantes



Amor por telefone, num tok à toa, numa balada antiga
Talvez você passe perto, talvez nem de longe, talvez nunca, quem sabe hoje
O medo que tens de mim é mais lúdico que teus mais profndos sonhos, nos quais sou atriz principal
Amor a qualquer preço, financiado desde o começo, sem arras estabelecida
Um amor por internet, com filho chamado “torPedro”, com um futuro certo de dúvidas exatas
Vejo você na sala de estar, na porta de saída, esperando uma ligação pra abrir o portão
Eu sei que agente vai se ver, num retrato ou na TV, num calendário, por um aroma
Sinto você trocar meu nome por "Ela"
Saiba que em uma noite qualquer de outono, despindo todo o verão que abrasa nos seus ais eu voltarei, daí aspirações darão renderão o momento de tanto abandono pela emoção do reencontro

Roberta Moura

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Levemente Brut



Forte, vibrante feito um vinho do porto, vivo
Perdidamente apaixonada, platônica, secante, possessiva, conheça as minhas outras faces, beije o outro lado do meu rosto
Delicado e encorpado, o plural singularizado, a disfragmentação do a silabado
Persuasivo e constante, revelante, persistente, relevante
O enigma implícito no obvio
Latente, pulsante, navegante
Me devolva a vida que me furtaram, a esperança que deixei em algum lugar

Tão iguais e tão diferentes



Quase todos os dias os dias não são mais os mesmos
Vejo na manhã que ainda esconde-se na neblina a cor dos teus cabelos, toco-os, beijo-os, sinto o perfume tênue e macio.
A xícara e o café, as cores impressas nos meus sonhos, as coisas, detalhes tão pequenos e presentes, a vida, os planos colhidos com o suor justo da labuta... 
Deus, o que é isso?
Em poucas quadras tudo se mistura, tudo tão perto, de novo, de longe, de perto, dentro, regularmente religioso, eu giro, entro e só, já to lá
É só esperar, adentra na sexta e volta para a realidade na segunda-feira
Misto no café da manhã, café no misto que me acorda, me abre os olhos, e mais uma vez assim... tão perto, tão longe, tão rápido, tão cedo, tão santo... amor sublime amor... se mistura e se procura nas prateleiras de um antigo mercado francês, procuro o vinho ideal, um solo para a espera, um Cabernet Sovinon e o frio da noite de hoje
Uma das taças pares vazia espera, esconde a expectativa, embreaga-se no nada, taça aberta para cima, enquanto eu, greta ao seu lado
Olha para baixo e me ver taça sorumbática
Não me procura, me acha, me seduz, reconstrói o que o tempo levou de mim e me alimenta para a vida a partir de então, desmemoriada taça que olha para cima, vive o teu presente que sou eu, aroma de frutas vermelhas e canela, paladar que conheces e o que melhor acompanha.
Quantas estrelas no céu falando sobre imensidão, sobre o universo em nós, já é tarde da noite
Durmo no verão que me invade com a certeza que a alegria de um pássaro me acordará amanhã me falando de primaveras perfeitas que virão.

Roberta Moura