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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sobre potes, vasos, abelhas, flores e um sonhador apaixonado





Eu era um pote cheio
Lacrado, comportando todo vício, toda complexidade de uma vida
Eu era um vaso de flores mortas, de boca aberta para cima, retendo líquido, esperando que migalhas caíssem para me alimentar
Eu era uma abelha cansada, polinizando juras de amor eterno, vivendo mais de sonhos que de fatos
Eu era um sonhador, que cultivava os amores com esmero e perfeição, esperando o mínimo de deferência, de aspiração
Eu era o ontem que não se acabou, o vento forte que me levara para o sem fim
Dia de sol era o meu amado, na escuridão da minha solidão infinita
Condenada pela vida, cabisbaixa, vinda de diversas caminhadas afanosas
Era um tempo longo e duradouro, que não tinha pretenções de passar, arrastava-se entre o sim, o não e o sempre
Jurava a inclinação eterna a um amor ausente
Que amor era esse, o que me tornei?
...Se sou ainda mais imprecisa, se por vezes me apaixonei...
O amor não conta quem passa, mas quem fica
Curto ainda o aconchego dos seus braços exclusos, o custo pueril do absurdo
Pago a mora de um coração cheio de desejos astutos, lastro de suor e vitórias, derroto o ser amado com a história, insensato, logrado juvenil
O amor não suporta mentiras, sendo o amante verdadeiro, nada o levará a culpa
Esquema imperfeito, recai sobre o sentido doentio do menosprezo o pagamento de suas atitudes, solidão que lhe compete como espelho
Burro! O amor é burro, e mais burro é o ser amado
A subestimação e a vaidade ainda conseguem vencê-lo?
Que impropério, que barateio!
Sempre perdendo o cavalo selado, esperando um ônibus que não chega, esperando o trem que nunca vem
Por instantes esqueci que burro não monta cavalo
Impressas e jogadas para limpar o chão, essas letras não valem de nada, são apenas folhas de papel, sujeira e mãos
Tomei o vaso que vivia de boca aberta para cima e plantei uma semente, todos os dias prometi devoção, e a ela prestei a minha atenção
Germinou, rebentou o amor, na flor que colore o meu jardim
Chegou e ficou, fincou raízes seguras e precisas
Peguei o pote que jazia lacrado com inseguranças, lasquei o vidro que o evitava, assim como as forçosas mudanças, tomei o seu interior e o conteúdo com minhas certezas, arrisquei a transformação, me salvei
Dos sonhos de outrora colho os frutos, filhos daquele com o trabalho
Lambuzo-me no mel que abrolhei quando abelha, aprendi a produzir o material em longa escala, vendo, troco e dou para quem desejar
Um pote dessa porção cura toda malfazeja, seiva do amor, alvitre da Realeza
Jamais devemos pedir para alguém nos amar, só precisamos de deferência para o amor que doamos, uma simples licença!
Assim é o verdadeiro amor, sempre pronto para contribuir
Do amor que dei e dou levo as mais puras certezas, com o muito que sofri, com o pouco que mudei, aprendo todos os dias a regar a fina flor que cultivei
Na busca incessante em residir o conceito de amar, optei pela pureza da verdade e a ela me dediquei
Venci o medo, o-derrotei   

Roberta Moura


Um comentário:

  1. "O amor é burro, e mais burro é o ser amado." O amor é muito astuto, e os seres amados são tão 'ceguetas'... (;

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