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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Meu Botero Dostoievskiniano





Meu Botero preferido
Sou teu abrigo nas horas vagas, acompanha meus pensamentos essa sua cara lisa
Minha redundância, meu desenho circular, meu excesso
És o meu sorriso dado na esquina da vida
Meu passado mais próximo, meu presente infinito, meu contentamento
Sob o sol que nos aquece eu desejo o fervor, a cara avermelhada, a negativa de autoria, a covardia impregnada nas nossas vestes, o passar dos dias
Afaga a redundância da minha íris com a tua presença
Fareja a minha chegada e minha saída a francesa
Cresce e aparece diante das tuas mais tolas incertezas
Façamos um trato com tudo isso, com tudo dentro, com meus surrados rabiscos, com o paiol de pólvora que jaze em tua casa, que caia a sua prosaica realeza
Tire conclusões que te mereçam
Faz cara de quem não sabe, de paisagem, de quem não viu
Brinca no cerebelo do outro feito pilho, lhe sugando as forças, coisa que ninguém nunca te furtou
Nem naquelas noites de solidão, nem na fumaça em frete a sua casa, provocada pelo caldeirão da tua luxúria mandingueira, nutrida por meus termos de imensidão
Vai, corre sozinho, ache o caminho, faça o que lhe convier
Liga a vitrola, cante outra história, ligue a TV e sonhe um sonho qualquer
Foi você quem disse que essa eternidade não existe, você que duvidou desse querer
Queira olhar para o seu lado, por gentileza, e viva a sua vida sem o gosto de tudo isso, sem a entrega desse amor que em nada lhe desejou prejuízo, coisa que você desconhece e que mais ninguém vê
Viverei montada nesse cavalo sem cabeça, galopando no caminho das aventuras diárias, sei que nada mais na vida me conservará tanta certeza, merecida, oferecida, corrompida e silenciada
Novamente claustro, suicida, sobrevivente do holocausto que é o não merecer
Tantas passagens ultrapassadas, barreiras que se levantam na minha frente, desafiando o meu nada, que tenta refutar, sobreviver
Toma um espaço em mim que não deve medrar, que lateja o florear, me explico a insistência, me pego imbuída nesse sonho, nessa esperança
Mas, não me cabe o querer do outro, não me cabe o seu desejo, me vale a oração, o pedido para preservar, o sacrifício que me foi dado ao despertar
Crime e castigo meu velho Dostoievski, como posso querer que alguém me queira nesse tanto?
Vai quebrando minha cabeça na aparição, onde o sol se deita e queima minhas costas, no mar que ronca quando as ondas batem na terra
Vem sem merecer, de qualquer jeito, para o leito da morte de todos os seus lamentos, nesse mundo sem grandes glórias no qual jaze tua constelação de estrelas mortas, onde somos mais bandidos que artistas, onde resides na procura insana por uma nova cara-metade
Tome meu querer que é teu, cale essa tua boca e venha ser feliz
Coopera com o que digo, esconde a Monalisa desse teu sorriso, seja tão você quanto eu sou
Sou a prova vida de amor que você conhece, a única, palpável, confiável, e que teima remitir as mais profanas falha
Como quem quase tudo sabe e cala, como quem nada fala e guarda, como quem verdadeiramente ama o filho que ainda não nasceu
Gruda em mim, aqui estão os cuidados necessários para te manter
Toma o meu cálice em tuas mãos e entorna de vez o caldo que lhe engole, seu próprio veneno, que cega, que arde em querer, que me contradiz no espelho, que conspurcas para me repelir, que pirraças em jogar contra mim, não me amando tanto assim


Roberta Moura




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