Quem sou eu

Minha foto
Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tome, por gentileza



Tome minhas mãos ao redor da sua cintura
Aceite um chá de bússola que possa te levar definitivamente até mim, para que possa me encontrar
Me tome em seus braços, não me largue, me segure, me sustente
Faça de mim o bandido da sua estória predileta, quem você nunca esquecerá
Complete o meu dicionário de verbetes inanimados, sempre a sua espera
Tenha bom humor, olhe sempre pela janela, veja o que o mundo tem para nos ofertar
Cubra-me de vida e aspiração
Não, não seja o mesmo sempre, não mate, não engane, não pense de mais
Cuspa no prato que comeu sabendo que voltará a utiliza-lo
Somos o efeito que gera o rodopiar da terra, rodopio após rodopio, no balé do tempo, no ensaio do sono que leva consigo a única vida que tenho para viver
O tempo só passa de ida, nunca volta, nunca finda
Faz sombra sobre o meu quintal, folia sobre o meu jardim
Aurora do meu inebriar, cheio doce de jasmim
Assuma as letras que te compõe, tome folhas que te cubra as vergonhas
Sexo com prazer, meu nome é você
Fala baixo e diz que já acabou o medo
Me leve contigo, me faz de abrigo, não me deixe envelhecer
Quero a minha mocidade com cores, música e vontades
Tudo tão bem arquitetado, conturbado, ajeitado, meio de banda, para esses eternos apaixonados que somos eu e você
Bebo da sua saliva no arremate de uma taça de vinho
Maldita saliva, maldito cale-se!
Quando em noite enluarada a lenha queima na fogueira me faz querer palavrear
Mas, cale-se novamente, bebo novamente, consumo como sempre o seu respirar
Deixe-me partir para a terra dos sonhos ou segure meu braço e venha junto
Lá tudo podemos, onde tudo se encaixa perfeitamente
Onde não parecemos dementes, lutando contra esse sistema que nos inibe
Volte para mim, para o lado de cá, que é o seu lugar
Não me deixe morrer de saudades nesses minutos que nos separa, que para mim mais parece uma eternidade
Somos a alma que segura o corpo, somos a costela que compõe uma só coluna, somos esse altruísmo contagiante que não se entrega
Somos a hora, o tempo, a verdade que nos espera
Coitados de todos eles, que insistem na espera do que nunca vai chegar
Somos o presente contínuo verbalizado, sempre esperando mais de nós mesmos
Contando aos passos para engrossar o couro, entornar o copo e forrar o touro, findo para montar no lombo em busca de novos tesouros, sempre atentos ao que possa nos alcançar
Derrubemos essa barreira com delicadeza, para que ela caia pela sua própria natureza, com o peso que carrega, trazido por tantas incertezas
Expliquemo-nos para não complicar!
Estado civil moderado, descascando o abacaxi diário, lavando os pratos, sempre esperando mais alguém para jantar
Somos essa corte imensa cujo o bobo é sempre o mesmo, o derrotado pelo tempo e pela veridicidade, que insiste em atazanar
Pobre colóquio inveterado, não percebe, não vê a página que virou sobre suas costas, o passado e nada mais poderá riscar
Costume de casa se leva a rua, a mesa, a cama, a cana e ao fogão
Entalo-me de feijão e farinha para não falar muito, para pouco errar
Custo acreditar que ainda tentam me pregar sustos, profanos, bobos, não entendem que nada temo depois do meu exaustivo cotidiano, e meia dúzia de leões pagãos que diariamente preciso terminar de matar 
Dama do meu cotidiano, Maria arrependida pelos pecados, dei-me seu colo para descansar
Precisamos urgentemente de ajuda mutua, qualquer crendice popular que nos acuda, que afaste o mal olhado, que nos coloque lado a lado nessa guerra, que nos expulse da favela dos pesadelos, que arrume a nossa cama para podermos descansar
És para onde corro no desmantelo, minha casa, meu sol, meu estremo oriente, sempre pronto para me acalentar
Todo mal cai por terra quando agente se ajunta, quando falamos de procissão, de ajudar um molho, brincar com a nossa ruma, é quando tudo volta para o seu devido lugar
Cuide da minha cabeça cansada, dos meus pés inchados de caminhar
Tomarei conta do seu peito latejante, da sua alma que mais parece uma bala traçante, procurando uma vítima ou um amante, mas que bem lá no centro me leva numa fotografia ou num monóculo, como a certeza palpitante que nunca vai te abandonar
Hoje chegue em casa cedo, me sirva com o prazer diuturno para que possamos dormir logo, na esperança de que o próximo dia seja bem melhor que esses, e que tudo vai se acertar


Roberta Moura 




Nenhum comentário:

Postar um comentário