Havia areia, água e sal
Havia sol, mas também sombra
Haviam quatro pernas curvadas, de frente para o mar e quatro braços voltados para a mesma posição
Haviam alianças mas não estavam nas mãos esquerdas, promessas feitas
Haviam sentimentos e não mais ressentimentos
Havia um longo passado e quem sabe um futuro, havia um presente contínuo e assustadoramente lindo
Haviam olhos nos olhos, canção tocando na cabeça, silêncio da boca, arrepio na nuca e gritos nos poros
Havia um desejo tamanho que não cabia em dois peitos separados, queria expulsar as roupas, explodir o resto do mundo, mesmo o resto do mundo tendo sido tão maravilhoso com ambos
Havia todo tempo do mundo, mas também havia pressa
Havia medo, respeito e companheirismo
Havia gratidão e mais medo, há como havia medo
Havia medo de tudo, do que é novo, do que é velho, medo da inconsistência, da indecência que é sentir
Haviam palavras sem som, vozes sem pessoas, pronome oculto que se esconde sobre o desenhar dessas letras
Havia um amor tamanho que insiste em florescer
Haviam olhares, calma e desejo
Havia um oceano inteiro, límpido, virgem, trepidante, contemplativo, único
Havia empatia e sincronicidade, havia sororidade
É verbo sem carne, e desejo sem pele, é sentido sem razão
É textura, cheiro e olhos que se penetram
É um amor infinito, o mais bonito de todos, a dedicação de duas vidas a arte de amar
Tudo isso era tudo o que havia
Tudo isso é o que há
Roberta Moura
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