Formou-se como o melhor da turma, foi o melhor namorado, o amigo mais
dedicado, o filho que toda mãe quer ter
Galgou boa posição social, boa conta bancária, só não logrou êxito em
controlar o incontrolável, caiu na tentação de amar
Caiu!
Se entalando com feijão e farinha todos os dias às 12:00 horas, no fim da
noite sentava na varanda e discutia política, arte, amor com uma propriedade
que não possuía
Mas na sua cabeça, mas no seu coração, havia um buraco tamanho, que não
cabia mais nele, que nunca mais iria fechar, abriu-se a caixa de pandora que
sempre comentara com os mais íntimos
Comentar isso o fazia calar de uma horar para a outra, o fazia parar de
raciocinar normalmente, como de costume
Conturbava e desconectava seus pensamentos sempre tão retilíneo, o fazia
humano demais, coisa que ele não gostava, o entregava de bandeja nas mãos dela
Todas as vezes que olhava para uma pá pensava em ler um tutorial que lhe
ensinasse a enterrar um coração que ainda pulsava, que latejava o nome da
amada, que lhe tirava a concentração trivial
Queria escrever um novo tratado mas lhe fugiam as palavras, queria
combinar mais um plano infalível, mas o raciocínio lhe fugia da lógica
Todas as promessas foram quebradas, tudo que jurou não fazer lhe cobrava
mora, tornou-se tudo o que ignorava e justificara tal tese no amor
O que o coração lhe falava não era o que a realidade assinava, ele
acreditou no coração, mais uma vez e despencou de um penhasco tão auto que enquanto
caia não percebia, não percebeu que chegava o que lhe fez arrebentar-se no chão
Devastado, foi a palavra que usou ao me contar com detalhes tudo o que
viu e ouviu naquela noite
Um coitado, que de tanto amor cegou e voltou a enxergar na hora e lugar
que menos queria, em meio à uma multidão, sozinho
Recusa o cale-se, recusa o tinto do vinho, recusa ter que escutar
desculpas, nada grita mais auto aos ouvidos de um apaixonado que a voz doce e
suave do seu amor
Foi dela que ouviu, dela que entorpeceu, dela que recobrou a consciência de
abrir o paraquedas antes de enfiar a cara no chão de vez e levar consigo tantos
sonhos ainda não realizados
Não há mais dúvidas, as coisas são para o que e para quem são
E, embora sua consciência discuta ferozmente com o seu coração, segue sozinho
o fado daqueles que precisam escutar mais que falar, então cala
Tudo parecia normal, tudo parecia sublime e era, só ele fazia questão de
ignorar a verdade
Existiria sempre alguém na sua frente na hierarquia do amor daquela
mulher, sempre houve, sempre haverá
Custou a entender, e possa ser que ainda não tenha entendido
profundamente a regra da razão, da coisa toda
Olhando bem no reflexo dos seus olhos percebi o quanto se enganou com uma
realidade que ele mesmo construiu, que inocência, que subestimação do seu
próprio sentimento, de todo sentimento
Quer me dizer que vai dar uma chance a razão, mas não me parece
confiante, acho que é muito mais aquilo que ele deseja do que aquilo que realmente
fará
Conscientemente e encarecidamente peço para que tenha paciência e escute
os sinais do destino, da realidade que o cerca, que deixe o paraquedas em
alerta, que não hesite em utiliza-lo
Com ouvido de mercador ele cala! Ele sempre cala!
Sensibilidade, amor, versos e realidade, esse jogo deveria ser proibido, é
uma queda de braços injusta
Coração, não pegue pesado com quem é leve, perdoe-se
Ele bem sabe que o tempo não cura, somente tira o incurável do centro das
atenções, contudo, nada disso faz acreditar menos, todas as vezes, as falidas e
repetidas vezes
Cura é consequência do jeito que você vê a vida meu dileto amigo, se não
faz sentir não faz sentido
E quando não se sabe o que dizer é suficiente sentir
Ao que me parece, há uma infinita esperança ligada ao amor que promete
que tudo vai ficar bem, mesmo quando o óbvio e a razão assinala o contrário
Roberta Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário