Paris, Dez16.
Todos os
dias das 17:00 às 19:00 ela se sentia completa
Se
entorpecia de perfume, jogava sobre seu corpo a mais fina seda vermelha e
desfilava sua beleza na calçada da Esperança
Seu coração
se enxia de expectativa no simples tok único do seu telefone, ela sabia quem
era
Amor por
hora marcada
Seu
semblante se enrubescia somente em falar no tal compromisso das 17:00 às 19:00
Todos dias,
hora marcada, amor com validade e garantia
Seu
sotaque, seus enormes e alvejados dentes faziam acreditar que, por duas horas,
existira eternidade
Das lembranças
que tenho da vida, as mais vivas foram ao lado dela, assim como as mais duras,
dolorosas, traiçoeiras, dramáticas
Quando o cheiro
dela se mistura ao meu é capaz de provocar uma solução nano-carbônica, atômica, e a
energia liberada pela fricção frenética dos corpos, pelo encaixe perfeito das
mãos, pela invisível ligação dos
olhos é quase letal... seríamos capazes de implodir o mundo!
De fato,
foi isso mesmo que fizemos com o passar dos anos, implodimos
Ela rir dos
meus dentes, dos meus olhos e rouba minha respiração
Eu a aguardo
falar e guardo a sua feição por frações de segundos, reparando cada traço dessa
matéria orgânica
Morde meu
ombro e eu tenho que bolar as mais absurdas desculpas à sociedade
Ela me fere
intimamente e eu tenho que calar, ninguém entenderia, ninguém nunca entendeu
Sua voz é
tão estridente e suave quanto uma britadeira esculpindo o gelo existente no meu
coração
Tamanha burrice
não lhe cabe, ela sabe, sempre soube, e até ignorou, mas eu seria sempre dela,
para sempre ela, por ela
O que todos
sempre viram, a subserviência, o declínio da posse de si mesmo, a dedicação
serviçal e tudo mais que acompanha minha devoção
Tudo isso
sempre foi dela, é dela
Por muito mais que as poucas horas que dure o encontro
Por muito mais que as poucas horas que dure o encontro
Roberta
Moura
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