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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Particípio




Tenho andado tanto, trabalhado tanto
Tenho dado tanto trabalho, tenho amado
Tenho sentido um tanto, apanhado um bocado
Todos os dias os dias não são mais os mesmos
E essa noite no meio é um breve refúgio para o meu cansaço
Como tenho esgotado
Como tenho caminhado
Tenho calado o grito, suspirado o gemido, tenho reiniciado
Tenho levado tanto na cabeça
Tenho cabeceado
Tenho ganhado beijos, dado carinho, tenho sido mal acostumado
Tenho cansado, como tenho cansado
O peso da idade e todas aquelas coisas à mais tem me incomodado
Pouco tenho chorado
Pouco mesmo tenho chorado
Há muito perdi o tino do choro, o caminho do desaforo, do desabafo
Tenho encarado, batido e levado, tenho cavalgado
O tal do medo não cabe no meu repertório cotidiano
Não tenho tempo para essa canção, tenho o desafiado
Nem o arrependimento, esse coitado
Não tenho enchido a sua bola, tenho chutado
Não tenho tido espaço para me arrepender
Nem para voltar ao passado
Tenho peregrinado
Sim, tenho cumprido promessas, vivido devoção
Tenho lido o texto da minha mão, tenho me arriscado
A noite tem sido curta
Curto por alguns minutos o meu sofá, ele me tem acarinhado
Em pouco tempo me pego trabalhando a mente
Meu Deus, que demente!
Eu não tenho descansado!
Quanto eu tenho pensado!
Vou fazendo automaticamente tudo que está pendente
Tenho me automatizado
Há muito tempo não cabe nos meus dias reclamações carentes
Falta de amor, falta de gente, tudo isso foi jogado aos porcos
Nada me tem faltado
Tenho um tanto de dias para viver
Um "tantão assim" de coisas para fazer
Tenho me ocupado
As vezes me bate uma certa fadiga
Mas a correria não me permite esperar, tenho me apressado
As vezes as coisas parecem não valer tanto a pena
Mas não tenho tempo para pensar no que não vale, e nem mesmo nessa tal de pena
Tenho que construir, tenho o que fazer
Não posso me dar o luxo de perecer, de restar, de ficar no passado

Roberta Moura   


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