Ela gritou
como se não houvesse um amanhã, aquela noite foi dos infernos
Chamou seu
nome com toda a força que o seu peito respirava, atrás da porta se engalfinhou
como um filhote no ninho
Chorou copiosamente
a sua falta
A cada vez
que soletrava as letras da sua alcunha me cortava a alma feito navalha
Clamou,
rogou à Deus a sua volta
Ela morreu
todos os dias e velou a sua ausência
Se debruçou
como criança no meu colo
Como ela
chorou
Berrou as
letras das músicas como quem toma posse e ignora o autoral
Ela sucumbiu
Foi ao caos
encontrado após o fundo do poço, ela não enxergara o fim do túnel
Enfim,
depois de umas léguas e desidratação profunda, do outro lado do atlântico, ela
ressurgiu
Percebeu
que era ela, não você
Que a sua ignorância
face ao amor te eximava o dolo
Ela não
entendia que naquele tempo era muito mais que você, que na verdade sempre foi
Na verdade,
não queria, nem fazia sentido entender
Faz um tempo
a encontrei
De cabelo
cortado, mascando um biscoito infantil enquanto me contava suas andanças
Ainda com
cacoetes de adolescência, coçava os olhos enquanto falava
Sem pisar nas
linhas da calçada caminhamos por paisagens que nunca viram nossos passos
Por terras
que não conhecem as nossas frases de efeito, usando roupas que impedem o toque
das nossas mãos
Ela
continua a mesma
É estranho
voltar, dizer o que nunca se disse, usar subterfúgios
Ver ela falar
desesperadamente, sem piscar
Calar e
deixar a coisa fluir, analisar cada linha do seu rosto e perceber que o tempo
passou
Percebo: como
eu queria ser ela e como odiei você inutilmente
Porque não
era você, era ela
Que nunca
percebeu que eu estive sempre por perto, ao redor
Mas o
problema é que ela estava em mim, mas eu não estava nela
Roberta
Moura
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