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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Abstinência

Londres - Abby Road, Dez2016.


Substantivo feminino, ferocidade que devora o corpo e a alma
Falta de si mesmo, de algo, um pedaço, da droga que alimenta e cura
Uma dia é o bastante para provocar a fissura que lhe faz perder a razão
Zanzando no mundo, o viciado segue desorganizado, incompreendido no tempo e espaço
Correndo atrás, rendendo toda atenção ao seu maior prazer
É o símbolo humano do desejo, da falta, da vontade 
É um excesso desnecessário do presente sem se ter
Na seca, procura qualquer coisa que umidifique o ambiente, água gelada é indicado
Mão que esfrega a nuca, que tenta acalmar sozinha o corpo
Mãos suadas e geladas, o corpo entra em ebulição interna, é o que a falta faz
Pressiona o corpo em determinada medida procurando acertar, tenta aliviar a pressão, tenta imitar
Jamais encontrará a precisão, tudo isso em vão 
Nada substitui o objeto, o vício, a coisa, o sentido, a pessoa
Resta um chamado vazio e particular
Uma saudade descomunal, resta o inconformismo
É ter grades invisíveis e muros feitos para serem pulados, com tudo o que interessa do outro lado 
Extremamente particular, íntimo, delicado, palpável e pessoal
Resta a curiosidade se é assim só para uma das partes
Resta ao viciado a espera, a cura, a dor, a secura e o desejo
Tem que haver um jeito, tem que haver saída, tem que valer a pena tudo isso
Tem que dar certo, que sarar, que normalizar
Tem que ter medida, um caminho que evite a overdose, mais um final


Roberta Moura


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