Poderia ser minha mãe, meu pai, minha namorada
Poderia ser meu marido, minha esposa, meu homem
Poderia ser a minha mulher, o meu primeiro e único amor
Poderia ser meu caso, minha concubina, minha charada, meu caos
Poderia ser minha esfinge, meu segredo mais profundo, meu querer
Poderia ser meu cotidiano, pai dos meus filhos, meu sobrenome
Poderia ser minha imoralidade, meu calcanhar de Aquiles, minha fraqueza
Poderia ser Romeu e Julieta dos dias modernos, poderia não ser nada
disso
Poderia ser meu príncipe e eu proletariado, poderia ser aceitável
Poderia ser um casal, casar de véu e grinalda, poderia se divorciar
Poderia ser oficial, dar certo ou dar muito errado
Poderia ser menos frágil, menos surrado, mais corajoso
Poderia ser meu brinquedo, minha fantasia, meu algoz
Poderia ser meu mestre e eu masoquista, poderia ser um par
Poderia ser menos complicado, mais simples, mais fácil
Poderia ser questão de escolha, uma troca significativa, poderia
abandonar tudo
Poderia ser ignorado, abandonado, sofrer calado e se arriscar a sentir
falta
Poderia recomeçar do zero, matar do coração toda a cidade, assassinar os
outros amores
Poderia fazer um estrago danado, poderia talvez simplificar
Mas essa coisa nasceu para o bem e não para o mal
Nada disso impede de existir, de resistir, não deixa de ser o que é
Quis o destino que não fosse nada disso e tudo isso
Quis o destino que fosse a menor das palavras e também a mais forte
Chamo de amor, assim por ele também sou chamada e isso basta para
definir algo tão intangível, singular, inédito e mais forte que todas as
nomenclaturas, títulos e rótulos
E a gente descobre que pode ser tudo isso e mais um pouco, que é para o outro todos os significados, o que importa é poder ser e é, o tudo
Roberta Moura
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