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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Carta que Falava o que não devia




Continue sempre assim...
...Estava escrito no final da carta carinhosa que uma amiga me remetera a tempos
Algo me chamou bastante atenção
Não era a concordância ou o tempo verbal do bilhete
Como assim, questionei-me bestificada?
Ela continuava: ...atenciosa, carinhosa, amiga e companheira...
Pensei, “continue sempre assim....”
Dessa forma que agrade a escritora daquela carinhosa e intencional mensagem (?)
Tenho alguns problemas com pedidos anacrônicos, tento fingir que não os escutei, tento ignora-los
Todavia, quem nunca escutou essa frase de algum colega, amigo ou namorado... “continue sempre assim”
Como se nós devêssemos ignorar o tempo que passa ao nosso redor, e mais ainda, tentar não evoluir com ele, impedir a melhoria, para agradar a necessidade de outrem, em ter-nos a sua acomodação 
Para que anime o requerente, devemos continuar sempre assim, estáticos no medidor do tempo que continua a correr
Como uma ampulheta quebrada, evitando que a areia passe, como um ponteiro congelado no relógio da vida, a disposição do querer de alguém que me quer assim, sempre assim
Tenho certeza que quando for dividir esse pensamento com mais alguém vai me dizer:
-Você não entendeu! É para você continuar assim! Assim, legal!
Legal é o escambau!
Somos seres em ativa prosperidade, desde que não durmamos no ponto e não deixemos o trem passar
Geralmente, pessoas que ficam de fora do trem, ao ver você passar, evoluindo de assentos, costumam gritar: -Continue sempre assim!
Para que as puxemos para dentro e ofereçamos a ela o nosso suado assento na janela
Na verdade, pessoas como eu, como o moço do carro novo amigo de Vanessa da Mata, como o rapaz do carrinho de mão, a vizinha que sai para trabalhar logo cedo e só volta para casa a noite, não nos contentaremos com a janela, porque o nosso lugar é a direção da sala de máquinas
Novamente me arrepio com a ignorância dos ditames da questão
Assim você pede que eu morra, aos poucos, na estagnação!
Que viva a quietude do passado, que nada muda, que vela a demora sem maiores perspectivas
Vai ver que a escrevente gosta de mim exatamente porque eu não paro
Porque, embora algumas vezes não consiga, estou sempre tentando progredir 
Tenho notado que esse tipo de comentário ocorre mais frequentemente quando estamos conquistando algo novo, na aprovação, ou nas felicitações do aniversário 
Não me peça para parar, não me impeça a evolução
Sou um animal sentimental que, na busca incessante pelo crescimento, que tenta por vezes apreender as emoções  
Amanhã ou depois, tanto faz, se posteriormente for o mesmo que hoje, ou o nunca mais
Quem me quer assim me quer agora, não quer o melhor para mim, não quer para o futuro, me quer com demora
E a demora leva tudo, a hora que nós temos, o futuro acertado agora, o que plantamos no quintal, a nossa história
Quem me quer assim não quer crescer comigo, me quer como um abrigo, para ter para onde voltar no conflito, a sua disposição
Como um filme que você rever quantas vezes quiser, que embora passe o tempo e o mofo roa seus limites pela borda, nunca mudará o final  
Tanto faz, se for para ser do mesmo jeito, a mesma coisa, não tenho tempo a perder

  
Roberta Moura


2 comentários:

  1. Que nossa constância seja mais mutação e mais crescimento... estagnar não convém!

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  2. Então, continue sempre crescendo, metamorfoseando...

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