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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Necessidades Básicas




Você precisa de um palco, um texto pronto para dizer, palavras tiradas da boca de mais alguém
Precisa de uma luz para correr atrás, de uma sociedade secreta que lhe exalte cada vez mais
Você precisa correr para não perder o ônibus, pedir a sua mãe para dormir fora de casa
Você precisa dela, teme a sua ira, chega de mansinho em casa para não ouvir suas lamúrias
Precisa de meia dúzia de bajuladores que te faça sorrir, que valorizem o seu corpo e tudo mais que venha a calhar
Você precisa dela, e de tudo que vem dela, do toque na noite sombria às palavras que irão te confortar
Precisa de sapatos novos, de cartão de créditos para dependentes e de pontos de fidelidade
Você precisa das virtudes vendidas em sites de relacionamento, de um par para revista, você precisa que lhe arranjem um casamento
Precisa que lhe conte histórias, precisa de heróis em seu portfólio, para demonstrar o quanto você é interessante, sem precisar contar para os demais, que estão pendurados na sua estante, que nunca foram tão desalinhados quanto você nesse últimos instantes
Você precisa de todo o tempo do mundo e nunca vai ter conhecimento do paladar legítimo da liberdade
Precisa se enxergar, pelo menos alguns minutos por dia, alimertar-se de você, para ver se aguenta essa pesada agonia
Você precisa melhorar, comer o seu pão de cada dia, viver mais essa realidade toda que acontece além da sua fantasiosa autobiografia
Precisa de mentiras, de ares de sobriedade, para sonhar com sintas ligas, com doses puras de conhaque, para disfarçar suas conversas, sua falta de sanidade
Você sempre precisa, e sempre vai precisar, sem exercitar seu alvedrio, há de atrofiar sua necessidade, achar sua adequada liberdade
Precisa dessa hipocrisia toda, dessa corja de bandidagem ao seu redor, precisar ser pequeno, no sentido pejorativo da palavra, para ser governado por um maior, que na verdade nada mais é que o cavalgador dessas suas costas de ralé 
Você precisa de uma cena que lhe remeta a excessos, precisa que a máscara cubra a sua face do mais puro incesto, dos pecados que cometera por toda a sua vida, nutrido pela culminar fraqueza que corre por suas veias
Precisa desses alucinados cúmplices, e eu te pergunto, até quando vai durar essa mais nova amizade?
Você precisa de gente para acreditar nos seus deslizes, vitimizar sua existência, precisa de amor e ódio para alimentar seus dias, sua falida inocência
Precisa compreender que o preconceito é uma ideia não jugulada pela razão
Você precisa sair da frente da televisão, assistir menos o Faustão e o “vale a pena ver de novo”, e passar a desempenhar e a visualizar o “vale fazer de novo”
Precisa cair da cama, levar um banho de lama que cubra essa sua cara feia, precisa sair da loca, “tocar o terror” e perceber que a responsabilidade em ser feliz é sua
Você precisa perceber que o mundo não te dá essa bola toda, ao menos que você vista a camisa e entre em campo pronto para jogar e ganhar o jogo
Precisa distinguir repouso e tédio, fazer uso do seu intelecto, aprender a reciclar
Todos nós somos culpados pelo bem não semeado, faça a sua parte, saia do sofá, das abas do namorado e abra os olhos para o mundo, que está de portas abertas para você entrar    


Roberta Moura


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