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Todos os dias a Arte me toma de assalto e me leva para a Vida Real. Troco palavras, vejo pessoas, vivo um dia após o outro, como se o de ontem não tivesse existido, como se o de amanhã ainda estivesse muito longe de chegar.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Sobre um escritor

João Pessoa, abr/18



Apenas me deixe escrever
Peço apenas isso
Ninguém precisa ler
É preciso entender que o escritor escreve muito mais para ele que para os outros, que para o seu mais fiel leitor
Presentemente essa tem sido a minha mais forte aliança
Atualmente tem sido o caminho mais seguro, o mais agradável
Secretamente escrevo, inutilmente e esporadicamente publico, eventualmente regozijo
Tem tanta coisa passando pelos meus olhos, tantas letras, pessoas, sentimentos, sentidos, planos
Tanta coisa mudando o tempo todo, que escrever torna-se um hábito de demarcar o presente para que eu possa ao menos entender onde estou, para que possa ter parâmetros de para onde devo ir, e onde de fato preciso chegar
A vida é tão confusa, tão inesperada para aqueles que se atrevem a deliciar-se em todos os seus sentidos, que escrever torna-se apenas um dos contextos mais simples, tradicionais e cafonas
Não que escreva sobre as verdades, longe disso, escrevo sobre tudo e sobre o nada
Não tente entender as frases, muito menos o que falo sobre o escritor
Com uma cortina de verdades, desejos, planos, ilusões e espiritualidade transforma-se a união de letras em sentimentos criptografados
Escrevo com letras que não inventei, imito palavras que tentam traduzir o sopro de vida que habita em mim
Pequeno e suave vento que sopra na minha alma, com um aforça tamanha que não consigo controlar
Por vezes incompreensível, mas que, como um guia, desenha em letras arredondadas uma estória que se confunde com a história
Tudo verdade, nada mais que ilusões
O amor torna-se no entanto a inspiração maior de tudo isso
Um rosto, uma voz, um toque, um aperto no coração, uma esfriada involuntária na coluna
Uma cena na rua, uma dor de cabeça, enxurrada de palavras acumuladas que estão socadas na boca e não podem ser liberadas
Tudo se torna motivo
Um silêncio provocado, um cochilo prolongado, a dor de barriga, o ciúme inconteste, os planos para um futuro distante e os amores do presente
Tudo é "anotável", inclusive o nada e os gritos estranhos na minha cabeça
As cartas já não chegam mais com frequência, todos temem o risco dos atuais "prints", dos endereçamentos trocados, do cruzamento de informações
Todos, menos o escritor
Aquele que narra cenas vividas, observadas, anotadas, presenciadas, confidenciadas
Quase um sacerdócio pago com o silêncio da fonte e o grito desagradável de um coração incontrolável
Não queira, não deseje esse suposto privilégio que é escutar demais, dos outros e do seu coração
E dentre esses, o que mais reclama é o átrio pulsante que lhe bombeia a vida
Briga o tempo todo com a massa cinzenta que tenta sufocar seus mais loucos anseios
Coração é terra de ninguém, não tem controle, não mede esforços, os riscos
Sendo assim, chego a tórrida conclusão que o coração é burro!
E tende a ter como aliado o escritor, que por sua vez é outro burro...
Passa a vida tentando justificar as razões do primeiro asno, dando-lhe razões que não lhe cabem, oferecendo álibis inexistentes
O escritor é o advogado do coração e súdito do amor
E o sustenta com toda maestria, que mesmo vislumbrando tantas vezes a futura e total improcedência dos seus pedidos labuta em sua honra incansavelmente

Roberta Moura






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