Lá vai ele novamente
Incansável, disposto, insistente
Lá vai ele novamente se entregar de corpo e alma à ela
Os anos se passaram e nada mudou, na verdade tudo mudou
Além do aprofundamento de suas digitais, do brilho perdido nos olhos
devido a frágil saúde, as marcas deixadas no seu corpo pelo combate diário que
é viver
Lá vai ele, nesse calor infernal dos trópicos, esperar ela sentado à
beira de uma calçada escaldante, pendurado em qualquer lugar, esperando um olhar generoso, um sorriso
largo, o carinho das mãos mais lindas que ele já teve o prazer de tocar
Espera ansioso, silencioso, devoto
Refém do seu próprio medo, como um idiota apaixonado
Sem limites, sem o direito de se impor, de cobrar nada
Pobre rico de amor
Lá vai ele fazendo planos, se enchendo de esperança em qualquer mísero instante
ou chance que se tenha de encontrar a sua pessoa
Sentindo uma imensa necessidade de cuidar de quem já está sendo cuidado
Ele é por ela um verdadeiro pleonasmo
Um idólatra de carteirinha, um bobalhão, atrapalhado entre o mundo das
palavras e o gargalo pesado da sua garganta
Embriagado pela secura dos dias, entregue ao contemplativo papel confessionário
Lá vai ele querendo preencher todos os espaços, o tempo, e ao mesmo tempo
disposto de um medo tenebroso de sufocar sua amada, de se sufocar
É tanta sentimentalidade que nenhum dos dois sabe como lidar
Lá vai ele, aprendendo a lidar com a nova forma desse sentimento tão
antigo, novo, real, que já está enraizado em seu coração
Um velho novo perene e surpreendente amor
Que ensina, poli, rasga, e se atreve a crescer ainda mais
Que infinito, que magnífico pela força que exerce, que amadurece à duras
penas
Confuso, mas feliz, cheio de um amor que transborda, que não cabe nele,
sem saber como ofertar
Ele procura letras que o represente, que escreva essa estória de um modo
menos doloroso
Mas a história fala por si só, e o final feliz que ele tanto procura não
está em castelos nem em
ofícios, está no presente divino que é amar
Roberta Moura
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